Capítulo IV Maxilar de caveira, pele branca e cabelos ruivos cacheados.

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-Eu to ouvindo o carro chegando! – disse Mayara caminhando rapidamente na direção do lampião, ela o acendeu e foi para a lateral da porta, de onde começou a gritar, os amigos inicialmente ficaram assustados.
- Não! Me soltem! Parem! Me deixem em paz! – seus gritos encheram o ambiente e os amigos rapidamente entenderam o que se passava.
Naquele instante o carro parou em frente ao posto.
Quatro homens armados com pistolas e revólveres desceram do carro, e um permaneceu no volante da Blazer da policia militar do estado de São Paulo, os homens ouviram os gritos da garota e correram na direção do posto.
Eram todos homens que deviam ter entre trinta e quarenta anos, pareciam sadios e fortes, vinham correndo com uma excitação fora do normal.
-Cadê a cachorra? Quero tirar uma casquinha também! – disse o que vinha na frente, correndo e já tirando a camiseta.
Quando ele estava a menos de dez metros da porta, um estrondo seguido do som de vidro se quebrando chamou a atenção de todos.
Os quatro novos invasores voltaram-se para o carro a tempo de verem o motorista deslizar pela porta aberta da Blazer já sem vida.
Antes de conseguirem entender o que acontecia outros dois caíram com tiros certeiros na cabeça restando apenas o homem sem camisa e um ultimo individuo que atônito viu o companheiro nu da cintura pra cima, ter o joelho estourado por um tiro de doze, suas pernas estremeceram ao sentirem o calor úmido de sua urina escorrendo quando ele se viu diante da garota de cabelo chanel preto que empunhava a espingarda calibre doze.
Ela veio em sua direção seguida de perto por quatro garotos armados apontando as armas pra ele, instintivamente o homem urinado apontou a arma de volta.
Um novo estrondo foi ouvido.
Seguido de um grito histérico do urinado que agora havia enchido as calças com algo mais que urina, os pedaços de sua mão caíram próximos ao companheiro derrubado com o tiro no joelho.
Os dois gemeram escandalosamente, de tal maneira que chegou a incomodar todos ali presentes.
Mayara calou o homem sem camisa pisando violentamente em sua boca.
-A cachorra ta aqui seu lixo! Mas você não vai tirar casquinha nenhuma! – gritou ela com a voz carregada de tanta ira que jamais imaginou ser capaz de sentir.
Ela pisava com tanta violência que alguns dentes do homem caíram sobre o concreto frio, ele sangrava e estava começando a engasgar com os próprios dentes quando ela chutou sua cabeça uma ultima vez, deu um passo pra trás engatilhou a doze apoiando o cabo no ombro direito.
-E ai seu cretino? Você tá aproveitando o fim do mundo pra comer a força toda mulher que jamais ia olhar pra essa cara nojenta de estuprador?! - gritou ela esbravejando todos os sentimentos que explodiam em seu ser naquele momento.
Os dois homens gemiam e choravam no chão, diante dos garotos que os observavam cheios de ódio no olhar.
Acompanhavam a tudo atentos, quando o som dos passos do Pé de cabra se aproximando chamou a atenção de todos, voltaram-se pra ele e perceberam que o lenço que usava tinha o maxilar e os dentes de uma caveira, enquanto que o capuz preto que fazia parte da blusa, mal deixava visível seus olhos, o fuzil estava preso as suas costas e o pé de cabra vermelho estava em sua mão direita.
Ele se aproximou olhando os garotos e Mayara que permanecia apontando a doze para o homem caído, a garota estava com o rosto desfigurado pelos sentimentos que a acometiam naquele momento.
O Pé de cabra foi na direção do homem que havia levado um tiro na mão e com um movimento rápido fincou o pé de cabra em seu joelho direito, arrancando dele um grito histérico.
O som dos ossos se separando pode ser ouvido por todos ali presentes, enquanto o Pé de cabra penetrava a ferramenta no joelho do homem que esperneava com a dor, soluçando e chorando.
-Pára pelo amor de Deus! Pára! Eu não aguento mais - gritava ele se debatendo no chão mergulhado nas próprias fezes.
Todos ficaram estáticos diante de tudo aquilo.
Os gritos dele eram ensurdecedores.
Eles estavam paralisados diante daquela cena até perceberem que não estavam mais sozinhos.
Haviam zumbis se aproximando por todos os lados.
Os tiros, os motores dos carros e os gritos os haviam atraído.
Os garotos e Mayara olharam ao redor dando-se conta de que em pouco tempo estariam cercados, quando sua atenção foi tomada por uma voz feminina que nunca antes haviam ouvido:
-Vocês paravam quando alguém pedia pelo amor de Deus?! - esbravejou o Pé de cabra que naquele momento todos perceberam não ser um homem.
-Sabia que eu venho perseguindo o rastro de sangue e morte que vocês têm deixado?! Eu vou caçar todos vocês, vou lavar esse mundo maldito com o seu sangue! - gritou ela colérica, enquanto ele gemia e chorava soluçando.
Naquele momento ela pôs a mão no lenço que cobria o seu rosto e o baixou, em seguida tirou o capuz que cobria-lhe a cabeça e parte do rosto, revelando uma mulher linda de longos cabelos cacheados num intenso tom de vermelho acobreado, de pele branca e traços delicados e marcantes.
Ela abaixou-se ao lado da cabeça do homem e gritou com tamanha intensidade que ele sacudiu o corpo com o susto, ela se ergueu e arrancou o pé de cabra da perna dele fazendo-o urrar de dor, voltou-se para o grupo e questionou:
-Qual de vocês sabe dirigir?
Daniel e Tony ergueram as mãos.
-Peguem as duas Blazers que chegaram primeiro, as duas têm combustível suficiente e tem mais munição pras armas que vocês estão usando agora, vou na frente de moto, tenho um lugar seguro.
Eles se entreolharam e menearam a cabeça em sinal positivo uns para os outros.
Mayara e Lucas correram para o posto pra buscarem as mochilas, enquanto Lock foi para a terceira Blazer em busca de algo que fosse útil pro grupo, como os veículos estavam na calçada do posto eles os alcançaram rapidamente.
Todas as chaves estavam no contato como ela havia dito, eles deram partida a tempo de verem os amigos voltarem com as mochilas.
Lucas e Mayara foram com Daniel, Lock seguiu com Tony, trazendo consigo uma mochila camuflada cheia de munição e outra com itens de primeiros socorros encontradas no terceiro veiculo.
Os zumbis chegaram próximos das bombas de combustível ao lado dos homens caídos.
-Vocês vão deixar a gente pra morrer aqui?! - gritou aquele com o joelho estraçalhado pelo tiro de Mayara.
- Piedade é para os piedosos! - gritou a garota com o pé de cabra vermelho, que correu golpeando os zumbis que estavam no caminho, sem atingi-los em suas cabeças, apenas derrubando-os, passou por eles rapidamente atravessando a rua e alcançando sua motocicleta do outro lado da rua, escondida atras de uma placa grande, era uma Harley Davidson Night Rod Special, ela deu a partida e o ronco poderoso do motor pode ser ouvido pelo bando que estava dividido nos veículos dos invasores, assim que ela arrancou as duas Blazers a acompanharam.
Os dois homens tentaram rastejar pra dentro da loja de conveniências, porém foram alcançados por um grupo de ao menos vinte zumbis, que rasgaram suas carnes e os devoraram enquanto ainda podia-se ouvi-los gritar.

Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now