Pé de cabra - capítulo XI - A bandida, o policial e mais de mil deles

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A voz decidida da mulher ecoou no âmago de cada um daqueles homens.

O grupo de ex-presidiários sobreviventes, tinha diante de si um novo objetivo, uma vez mais suas vidas seriam guiadas por um sentimento podre, uma vez mais sua direção seria norteada pela vingança.

A enorme Bia tonelada, caminhava pra fora da cobertura do posto, sentindo no ar toda a excitação animalesca que suas palavras causavam naqueles homens, que não tinham o costume de respeitar limites.

O policial militar, que avisou sobre as transmissões de rádio da noite anterior, foi atrás dela.

-Não vamos desperdiçar pessoal e munição pra você brincar de gato e rato com um bando de moleques, seu irmão deu motivos de sobra pra ter esse fim.

-O que você tá falando aí verme?! - gritou a mulher voltando-se pro policial, que a encarava com assustadora frieza.

-Você ouviu o que eu disse, não vamos causar mais problemas a esse pessoal, o safado estuprador do seu irmão, já deve ter gerado traumas o suficiente neles. - sentenciou o policial que trazia consigo um imponente facão e descansava a mão direita na arma guardada em seu coldre.

O policial em questão era o cabo Élcio, e os policiais militares que ali se encontravam estavam sob seu comando, desde a época em que haviam perdido contato com o comando do estado eles permanceram juntos, tentando encontrar e auxiliar outros grupos de sobreviventes.

Élcio era durão.

Mestre de Kung Fu e exímio atirador.

Não tinha problema algum em lidar com os mortos, sua liderança firme e ponderada fez com que atravessassem todo aquele período sombrio sem nenhuma baixa.

Até ali haviam encontrado poucos sobreviventes, mas encontraram diversas provas de que a humanidade atravessava uma de suas piores crises morais. Pessoas saqueavam, roubavam, matavam e estupravam, tão ameaçadores quanto os mortos vivos, eram os sobreviventes, ele sabia disso e sabia que teria problemas com aquela mulher desde o momento em que a viu pela primeira vez.

Fabiana ou Bia tonelada como era conhecida no crime, cumpria pena por tráfico de drogas e homicídio.

Não era nenhuma perita na cozinha, mas ficou muito conhecida por sua predileção por esquentar no microondas. Muitas de suas vítimas perderam a vida dessa maneira barbara, basicamente o infeliz fica preso no meio de uma pilha de pneus, sobre ele se despeja uma quantidade farta de gasolina, ou qualquer liquido inflamável que se tenha a mão.

E uma fogueira é acesa.

E uma vida se apaga.

Muitas vidas se apagaram pra que aquela mulher conquistasse entre os homens do crime.

O nome Bia tonelada era temido na zona oeste de São Paulo, o próprio Élcio ja tinha ouvido falar dela, ele nunca imaginou que um dia seus caminhos iriam se encontrar, ainda mais dentro daquele contexto tão bizarro.

Quando os mortos voltaram a caminhar e a atacar os vivos, os esforços do governo brasileiro mostraram-se ineficazes depois de poucas semanas, em poucos meses o numero das criaturas já havia ultrapassado o dos humanos.

Com o descontrole dos superiores a maioria dos policiais abandonou seus postos e tratou de lutar por sim mesmo e por aqueles que realmente lhes importavam. Diversos presídios foram abandonados, fugas em massa ocorreram aos montes por toda a extensão do território nacional.

Não bastasse apenas a praga crescente e inacabável dos mortos vivos, a sociedade também havia sido bombardeada por dezenas de milhares de condenados que ganhavam as ruas e que não tinham mais os limites da lei para conter os seus atos, alguns deles perceberam que teria sido melhor permanecer dentro dos presídios.

Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now