Capítulo IX - Um tiro nas costas e... um tiro na cabeça.

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 Gritos.

Um tiro.

Corpos pútridos estavam sem rumo, os sons repentinos lhes apontam um caminho a seguir.

Não há estratégia.

Não há plano.

Apenas o desejo animalesco de se alimentar, apenas o anseio infindável por carne humana.

As criaturas se aglomeram.

Uma horda se junta.

Alguns atravessando a rodovia Castelo Branco, outros saindo dos galpões abandonados da avenida Fernando Cerqueira César Coimbra.

Eles caminham a passos cambaleantes, unidos por um objetivo instintivo, as criaturas seguem em direção a um terreno baldio.

Dentro de um terreno baldio.

Há um barraco com uma das paredes laterais destruída.

O corpo de um velho enorme com a face aberta por uma faca e uma atitude violenta.

O corpo de um filho deste mesmo velho com um profundo corte aberto na garganta, corte feito pela mesma faca que abriu a cara do velho, corte esse que fez o filho do velho sangrar até a morte.

O segundo filho está no chão beirando a inconsciência, uma flecha perfurou sua coxa esquerda, outra transpassou o seu olho direito e uma facada perfurou seu olho direito.

Um arqueiro de cabelos cacheados está caído com o rosto no chão, um tiro o atingiu pelas costas.

Do cano do revólver uma fina linha de fumaça serpenteia em direção ao céu. O braço forte, porém trêmulo ainda está erguido. A visão do pai e dos irmãos caídos invade a mente do atirador.

Ele sabia que algo assim ainda ia acontecer, nunca concordou com o "vício" da família, mas de alguma forma aquelas mortes seriam o fim daquele mal, que muitas vezes ele mesmo ajudou a causar, uma sensação estranhíssima de alívio o tomou.

Passou a mão na testa, enxugou o suor, caminhou até o irmão caido com a flecha fincada no ombro.

-Que disgraça fizemo de nossa vida Manuel?! Olha o que chegô pra nóis! - falou em meio as lágrimas dirigindo-se ao irmão caído.

O gigante Manuel, sofria com as dores provenientes do ataque do arqueiro.

-Acaba logo com ele... - falou o gigante ferido num sussurro.

-Ja dei um tiro no vagabundo, ele tá caído.

-Acaba com ele ..., atira na cabeça.

-Pára Manuel. Eu vo cuida docê, dexa o fi di rapariga pra lá, dei um tiro no lombo dele.

O atirador baixou-se e ajudou Manuel a se sentar, o homem ferido gemeu alto, as dores dificultavam sua concentração.

-Não quero sua ajuda!- resmungou Manuel.

-Calma mano.

-Atira logo na cabeça dele! - falou o homem ferido, juntando forças pra fazer as palavras deslizarem pra fora da boca.

-Me deixa aqui e atira logo na cabeça dele! - gritou Manuel juntando raiva a sua fala.

-Ta bom cacete! - gritou o atirador largando no chão o irmão ferido, fazendo Manuel urrar de dor ao chocar as costas contra o solo de terra.

Manuel fechou o olho bom, sentindo a dor lancinante que o acometia no buraco deixado pela faca do arqueiro, tentou relaxar enquanto descansava a cabeça.

Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now