Os gritos não pareciam vir de longe.
Ele correu fazendo a curva próxima a rodovia Castelo Branco seguindo pela avenida Fernando Cerqueira Cézar Coimbra.
O choro de criança ficou mais perceptível.
Seguiu pela avenida que abrigava diversos galpões de empresas que há muito estavam abandonadas. Entre os galpões haviam terrenos baldios cercados por muros não muito altos.
Os gritos da criança se intensificaram juntando-se ao seu choro.
Ele parou diante de um muro, os gritos vinham de trás daquela pequena barreira de tijolos e concreto, que outrora serviam apenas pra delimitar espaços, mas naquele momento o separava de uma criança em perigo.
Com rápidos movimentos ele subiu o muro que tinha por volta de dois metros de altura. Do alto ele se deparou com uma garotinha encurralada por um velho muito grande e gordo que trajava uma cueca samba canção azul de seda estampada com ancoras brancas e uma camisa de botões e manga curta bege que naquele momento estava aberta. O velho seguia ameaçadoramente na direção da garotinha.
-Calma eu só quero brincar com você. - disse o velho enorme chegando cada vez mais perto da menina. -Eu juro que vai ser rápido e que não vai doer muito.
A criança gritou histericamente.
Seu grito foi tão alto e carregado de desespero que o arqueiro sentiu um arrepio percorrer-lhe toda a espinha. O jovem de cabelos cacheados sentiu seu coração disparar.
Agilmente ele retirou da aljava uma flecha, e dali de cima do muro ele a armou no arco, com tanta rapidez e precisão que sua presença sequer foi notada por aqueles que protagonizavam aquela cena desesperadora.
A flecha foi disparada.
Transpassou o joelho do velho que surpreendido pela dor lancinante caiu no chão, gemendo com a voz rouca.
O velho ficou em choque por alguns instantes diante do ataque inesperado. Olhou o joelho e se deparou com uma flecha e muito sangue, surpreendeu-se ao ver pular do muro um homem alto de óculos escuros, com um arco na mão.
Ele tirou da cintura um revolver calibre trinta e dois e apontou na direção do jovem de cabelos cacheados que correu em sua direção.
O som do tiro encheu o ambiente.
O arqueiro girou rapidamente pro lado se jogando no chão e se erguendo em seguida. Praticamente voou de encontro ao velho, que não conseguiu acompanhar os movimentos do homem que explodia diante dele. Antes que o ancião pedófilo pudesse perceber, um chute poderoso atingiu-o entre as pernas.
Os olhos do velho reviraram de tal forma que poderiam ficar presos a sua nuca. A dor o envolveu e o fez repensar sua vida naqueles instantes de desespero. A ideia de tomar pra si crianças perdidas naquele novo mundo caótico já não parecia tão boa diante daquilo tudo.
Seu grito desesperado foi calado pelo coturno que o homem enfiou em sua boca frouxa, após chutar pra longe a arma que estava em sua mão.
-Olha pra mim safado! - gritou o arqueiro.
O velho se retorcia pelas dores e sentia as lágrimas rolarem dos olhos, enquanto era subjugado pelo arqueiro que tirou outra flecha da aljava, a posicionou no arco, e apontou pra ele tencionando a corda com vigor. A ponta afiada da flecha tocou a testa do pedófilo que tremia e chorava compulsivamente. Tirou o pé de sua boca e pisou o peito do velho pressionando com o coturno.
-Ele fez alguma coisa com você?! - gritou o arqueiro dirigindo-se a garotinha, mas sem tirar os olhos do velho.
A criança assustada com o tom de voz do homem, permanecia agachada num canto protegendo o rosto com as mãozinhas sujas de poeira.
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Pé de cabra A era dos mortos
HorrorPé de cabra é a saga zumbizesca que explora novas possibilidades sobre as origens do apocalipse zumbi, com personagens fortes e reviravoltas em solo tupiniquim. Venha se encantar com as possibilidades que um motivo inicial diferente é capaz de...