Capítulo XIII - Profanando o sagrado

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Choro de mulher.

Era o choro da sua mulher.

Sentiu as lagrimas turvarem sua visão, estava caído no chão, o tiro transpassara seu peito.

Um grito.

Grito de mulher.

Era o grito da sua mulher.

O sangue esvaia-se rapidamente.

Estava caído na entrada da igreja. Os bancos o impediam de ver o que acontecia, mas os gritos enchiam seu coração de terror.

Ao coro do desespero juntavam-se os gritos de sua filha adolescente.

Risadas.

Gargalhadas.

Vozes de homens vinham de todos os lados. Nenhum deles veio prestar socorro, nenhum deles veio em paz.

O homem que era pai e marido desfalecia lentamente, enquanto seu sangue ainda quente tingia profanamente aquele local sagrado. A alguns metros dele, mais precisamente no altar daquela igreja, a mulher e a filha eram violadas, dolorosa e repetidamente.

Ele chorou.

Estava com frio.

Muito frio mesmo.

-Pé...

A voz do homem não saiu mais do que um sussurro. Ao seu lado uma mulher enorme sentada num dos bancos da igreja, observava os companheiros atendendo aos chamados de seus desejos carnais. Ela notou que ele balbuciava algo.

-Sa...

-Os meninos só querem diversão amigo. - falou ela baixando-se ao lado dele.

-Deus... - falou ele arfando.

Os gritos das mulheres ficaram mais altos e tomados de desespero.

-Relaxa tiozão, meus meninos vão cuidar bem delas.

-Pésa ... Se... - arfou tentando não se engasgar com o sangue que lhe subia pela garganta.

-O que você tá falando aí? Fala alto porra! - gritou a enorme mulher que caiu na gargalhada ao lado do homem caído.

Frio.

Muito frio.

A perda de sangue causava isso.

O sangue ia e o frio chegava, e com ele, em pouco tempo viria a morte.

O homem caído sabia disso.

Sabia que era o seu fim chegando, que a morte lhe agarraria pelos calcanhares, juntou as forças que restavam, sua mente clamava por consciência, não podia deixa-las.

Não podia deixa-las.

Eram tudo pra ele.

Frio.

Muito frio.

Os gritos cessaram.

Não lutavam mais.

Cediam resignadas a agressão que sofriam. Os corpos masculinos suados revezavam o prazer pecaminoso no altar profanado. Uma cruz atrás do altar expunha um Cristo silencioso. O filho de Deus castigado no madeiro parecia sofrer com aquilo tudo, vendo violadas a sua igreja e suas filhas.

O Cristo permaneceu imóvel.

-Deus... - gemeu o homem.

O sangue escorria pelo canto da boca, enquanto ele balbuciava algo ininteligível, até mesmo para a mulher ao seu lado.

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⏰ Last updated: Oct 10, 2015 ⏰

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Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now