Pé de cabra - Capitulo III - Quatro tiros, um machadinho e... um pé de cabra?

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Nesse momento o homem parou, ergueu a cabeça enquanto segurava a garota com os seus braços fortes, voltou-se aos companheiros e gargalhou convidando-os a gargalharem em desprezo ao sofrimento dela.

O som das risadas encheu o ambiente de um terror inexplicavelmente palpável.

A dor daqueles garotos por estarem incapazes diante daquilo tudo era imensa.

O choro da garota era o único som que ao fundo podia ser ouvido até que o som de vidro se quebrando encheu o ambiente e foi seguido rapidamente pelo som do lampião caindo no chão, apagando-se em seguida, a gargalhada do agressor cessou e Mayara sentiu que seus braços não mais a pressionavam e arrastou-se pra longe dele indo em direção aos amigos, enquanto um feixe de luz vermelha adentrou o ambiente e parou como um circulo na testa de um dos homens que olhava pra fora, em seguida um estrondo acompanhado de uma rajada de miolos que se impregnaram na parede, outros dois dos invasores tiveram o mesmo fim, enquanto o ultimo tentou passar correndo pela porta, mas foi interceptado por Lucas que cravou o machado em sua testa, jogando-o violentamente contra a parede e golpeando sua cabeça com tanta violência que ela se partiu espalhando massa encefálica por toda a entrada do posto, quando o corpo já sem vida do homem tocou o chão.

Lucas entrou correndo e viu os amigos se aproximando de Mayara, estava tudo escuro e eles mal podiam ver a sua frente quando a luz da lanterna de Lucas iluminou o lugar.

- Caralho! Quatro tiros e um machadinho mano! – gritou Lock extravasando a adrenalina em lágrimas, abraçando o amigo que ainda sentia uma torrente de ódio invadindo-o após tudo aquilo.

- Man, não fui eu que atirei. – respondeu Lucas ainda em estado de choque, Daniel apontou a lanterna pros amigos e questionou:

- Então quem foi?!

Eles se entreolharam e apontaram juntos as lanternas para o homem que tentou violentar Mayara, naquele instante todos sentiram o coração disparar quando se depararam com a imagem do homem preso a parede de perfil com algo cravando-o no concreto, aproximaram-se e viram um pé de cabra vermelho transpassando o seu crânio e prendendo firmemente, todos ficaram imóveis quando uma nova figura adentrou a loja de conveniências, caminhando passou por eles que boquiabertos viram quando aquele novo personagem vestido com um agasalho preto com touca, com um lenço tapando o rosto, pôs um pé com coturno sobre a cabeça do agressor agarrou o pé de cabra pelo gancho e forçou pra que saísse do orifício aberto na parede e no crânio do estuprador, jogando em seguida o corpo inerte no chão.

Todos ficaram em silêncio enquanto viam aquela cena, o silêncio sepulcral foi cortado pelo som do rádio tocando:

- Na escuta cambada! E a safada ta dando gostoso aí? – disse a voz de homem vinda do radio. – Avisa a cadela que tem mais cinco pra ela mamar chegando!

O grupo ficou apreensivo diante daquilo tudo.

Mayara cerrou os punhos e secou as lagrimas, caminhou decidida até os corpos próximos da porta, abaixou-se e pegou a espingarda calibre doze, conferiu as balas, engatilhou e olhou pra fora com tanto ódio no olhar que seu rosto ficou irreconhecível, os garotos seguiram seu exemplo e começaram a pegar as armas que estavam em posse dos invasores, quando o pé de cabra passou rapidamente por eles, sendo observado atentamente por todos, saiu pela porta da loja de conveniência e parou a alguns metros deles, fez sinal com a mão apontando pra cima, indicando que subiria no teto do posto, naquele momento eles perceberam que o Pé de cabra era bem menor do que todos imaginavam , tinha por volta de um metro e setenta, e carregava nas costas um fuzil com mira a laser, o pé de cabra vermelho ficou preso a uma espécie de coldre que carregava na perna esquerda, rapidamente sumiu de suas vistas, até perceberem que escalava agilmente o teto do posto, todos ficaram posicionados atrás das paredes da loja, apagaram todas as lanternas e permaneceram no escuro, silenciosos eles arrastaram os corpos pro fundo da loja, deixando livre a entrada do posto.

Lucas ficou ao lado da porta empunhando uma pistola semi automática numa das mãos e o machadinho na outra, Tony e Lock ficaram ao lado de uma janela, eles conseguiram respectivamente uma pistola automática e uma espingarda calibre doze, enquanto que Mayara estava do lado oposto próxima de Daniel que empunhava duas pistolas automáticas, seus olhos vidrados no lado de fora do posto não puderam ver, mas seus ouvidos foram invadidos pela mesma voz de antes que soava em tom de comemoração:

-E aê cambada! Eu quero comê essa gostosinha, e avisa esses muleques que vai sobrar pra eles também! – ao fundo eles ouviram o som das gargalhadas dos outros que vibravam de excitação.

Todos se entreolharam em meio a escuridão daquela loja de conveniências, invadidos por um sentimento extremo de auto preservação misturado ao asco de terem a integridade de seus corpos ameaçada por pessoas que nem conheciam, que se achavam no direito de estuprar e matar, nunca haviam olhado-os nos olhos, não sabiam de que cor eram, não sabiam qual sua estatura, mas já tinham sobre eles uma certeza, os odiavam.

Os interromperam em seu sono.

Tentaram apagar a faísca de esperança,

Tocaram Mayara, a garota de meigo sorriso, a única presença feminina do grupo, por acharem que tinham o direito de possuí-la a força, de ferirem sua carne dolorosa e repetidamente, os odiavam e sabiam que tinham de impedi-los de alcançarem seus objetivos, não haviam mais autoridades, não havia policia, não havia lei, somente a lei do mais forte passou a valer, os predadores adormecidos acordaram dentro daqueles que temiam os limites impostos pela sociedade, agora que a sociedade havia se dissipado e cada um tornou-se responsável por si, muitos deixaram que o mal tomasse conta de suas decisões, e aquele mal batia a porta do pequeno grupo escondido na loja de conveniências do posto abandonado.

Continua...

Pé de cabra A era dos mortosWhere stories live. Discover now