15 - Espelho

163 22 3
                                    

DAYANE

Carol acordou cedo naquela segunda, muito mais cedo que o normal. A procurei em minha cama e o lado em que ela dormia já estava até gelado. A encontrei na cozinha fazendo comida.

- Caiu da cama? - Perguntei abraçando-a por trás.

- Eu que te pergunto.

- Senti sua falta. - Beijei seu pescoço. 

- Tenho que me encontrar com meu orientador. - Ela explicou. - Quero saber como funciona para pedir transferência total.

- Decidiu mesmo ficar? - Perguntei surpresa.

- Eu amei aqui. - Suspirou. - O ritmo da cidade, o clima, meu apartamento. Tudo, sabe?

Balancei a cabeça em concordância, eu gostava muito de Brighton também.

- Tem você, o Gabriel, todo mundo. - Ela continuou.

- Eu estou onde você estiver, Carol. - Respondi no mesmo momento. - Não é como se tivesse um trabalho me prendendo aqui. - Dei de ombros.

- Mas nós gostamos daqui, eu gosto da minha nova rotina e não quero perde-la. 

O intercâmbio de Carol era de nove meses e apesar de ainda terem mais cinco meses dela ali, esses processos realmente levavam tempo. Entendia sua pressa.  

- Se precisar de algo...

- Eu te procuro, eu sei. - Ela sorriu virando para mim e me dando um selinho. - Obrigada.

- Não por isso. - Respondi a dando outro selinho. 

- Você falou com sua mãe?

- Falei, ela chega quarta feira. - Respondi. - Eu disse que poderia busca-la, mas ela não quis. - Revirei os olhos. - Teimosa.

- Igual você. - Carol riu. 

- Você está do lado de quem? - Perguntei. 

Ela não respondeu apenas me dando um selinho antes de se sentar na bancada, deixando meu prato ao lado do seu. Me sentei ao seu lado com um sorriso. 

- Você tem aula hoje? - Ela perguntou quando já estava terminando de comer. 

Concordei com a cabeça por estar de boca cheia. 

- Vamos almoçar juntas então?

- Eu te pego. - Respondi prontamente, Caroline sorriu. 

Continuei comendo enquanto a via sumir no corredor, sabia que ela iria se arrumar. Quando Carol apareceu na sala novamente eu tinha acabado de dar minha última garfada, tinha comido mais devagar aquele dia. Estava gostoso. 

- Já vai? - Fiz um biquinho. 

- Eu tenho que ir, amor. - Sorri pela forma que ela me chamou e a chamei com o dedo.

- Não quer carona? 

- Você vai sair assim? - Perguntou.

- Está com esse nível de pressa?

- Estou atrasada. - Respondeu com sua boca tão perto da minha que quase podia senti-la.

- Vou pegar a chave. - Declarei lhe dando um selinho. 

Aproveitei que fui até meu quarto para pegar a chave e peguei um casaco também, o vesti enquanto já passava pela porta com Carol atrás de mim. A deixei na faculdade e acho que nunca a vi sair do carro tão rápido, voltei rindo sozinha de sua pressa. 

Aproveitei para lavar a louça que tinha sobrado e tomar o banho que não tomei antes de sair, era realmente cedo ainda e eu me perguntava se dormia mais um pouco ou simplesmente aceitava e fazia outra coisa.

Acabei por me sentar na sala perto do meu mini girassol enquanto estudava um pouco mais de árabe já que era minha aula do dia. Mal vi o tempo passar, quando me dei conta já estava correndo para trocar de roupa e buscar Carol.

- Como foi com seu coordenador? - Perguntei enquanto saia do estacionamento para o restaurante que íamos comer. 

- Ele disse que estão com poucas vagas de transferência. - Suspirou. - Mas que isso não deve me impedir de tentar porquê sou uma aluna exemplar. 

- Ele te disse quando começam as inscrições?

- Uhum, daqui um mês. - Ela respondeu. - O resultado saí no começo do mês seguinte. 

- Bom, pelo menos você tem tempo para tentar algo caso não passe né?

Ela concordou com a cabeça, sabia que aquilo ficaria rodando sua mente por mais um tempo. Carol conseguia ser mais ansiosa que eu as vezes.

- Ei. - Segurei sua mão antes que saíssemos do carro. - Vai dar tudo certo. - Falei com tanta certeza que me surpreendi.

Ela sorriu pequeno e balançou a cabeça concordando comigo. 

- Eu espero mesmo que dê. 

- Vamos tentar não pensar nisso agora, ok? - Sugeri e ela concordou. - É nosso primeiro almoço namorando! - Mudei de assunto e Carol riu.

- É seu primeiro almoço com uma namorada? - Brincou e minhas bochechas esquentaram. - Mentira? - Ela perguntou surpresa quando eu não disse nada, minha cara me entregando.

- Eu nunca namorei antes! - A lembrei.

- Eu tinha esquecido disso, desculpa. - Ela riu. - Venha minha namorada virgem de almoços românticos.  

Eu sai do carro rindo junto com ela, estávamos no mesmo restaurante da outra vez. Eram poucos restaurantes em que eu tinha feito aquilo, então não íamos sempre a muitos lugares. As vezes tinha medo de que aquilo incomodasse Carol, mas ela não parecia ligar.

- No que tanto pensa? - Perguntou quando sentamos.

- Você não se incomoda de estar com uma pessoa que não pode dar uma simples volta no shopping com você? - Perguntei genuinamente curiosa e com um pouco de medo da resposta.

- Quê? Claro que não, Day. Da onde veio isso?

- É só que... - Suspirei. - Fiquei com medo de você se incomodasse com isso. Eu sei que não sou a pessoa mais simples de exibir na rua por aí. - Dei de ombros.

- Eu sempre soube disso também, sabia disso quando aceitei seu pedido ontem e vou continuar sabendo disso daqui muitos anos. - Afirmou séria. - E se por um segundo que fosse, eu achasse que isso me incomodaria, eu não estaria aqui. 

- Desculpa, não quis te ofender. - Pedi com medo de ter dito a coisa errada, ela parecia brava.

- Não me ofendeu, amor. Só quero que saiba disso, tenho certeza do que estou fazendo. Você tem?

- A mais absoluta certeza. - Respondi sem pestanejar. 

Ela sorriu ternamente e segurou minha mão enquanto fazia um singelo carinho, suspirei boba, não tinha motivos para duvidar do que Carol achava ou sentia. Eu apenas precisava olhar em seus olhos e saberia, eu saberia instantaneamente. E eu imaginava que para ela não fosse muito diferente, era só olhar para os meus olhos, quase como um espelho. Ela também saberia. 


Notas de AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora