Capítulo 14: Sinto muito.

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Parecia ter caído 10 graus desde que entramos na casa de repouso até sairmos. Os enfermeiros que trabalham ali estavam montando a árvore de Natal quando deixamos o quarto da avó de Nathan, o que chamava a atenção da maioria dos idosos que moravam ali. Nathan olhou para aquilo com uma expressão perdida, enquanto seguia do meu lado.

Não falamos absolutamente nada até chegarmos ao carro, apesar de nossas mãos estarem unidas. Eu estava encolhida dentro do casaco, me perguntando o que diabos tinha acontecido lá dentro. Parecia que alguém tinha aberto um buraco no meu peito e a sensação não era nem um pouco boa. A avó de Nathan era adorável e era óbvio que Nathan a amava incondicionalmente. Mas a tensão nos ombros dele quando ela me chamava por aquele nome e o travava como filho, não passou despercebida por mim.

Nathan ligou o ar condicionado do carro assim que fechou a porta, provavelmente notando que eu estava com um pouco de frio. Encarei a casa de repouso, enquanto deixava que ele tivesse o tempo dele, porque Nathan parecia um pouco abalado naquele momento. Me perguntei se era sempre assim quando ele ia a visitar. Se era sempre aquela sensação esquisita no ar.

—É Alzheimer. —Nathan encostou a cabeça no banco, encarando o clima nublado lá fora, como se ele fosse muito interessante. —As vezes ela costuma se lembrar que sou apenas o neto dela. Mas na maioria das vezes ela me confunde com seu filho. Meu pai.

—Meredith é...

—Minha mãe. —Nathan respondeu antes que eu completasse, me fazendo assentir com a cabeça, sentindo um aperto no peito ao perceber o quanto aquilo deveria ser difícil pra ele. —Desculpa não ter te falado. Sempre tenho esperanças de que ela se lembre de quem eu sou quando vou visitá-la. Mas não vou mentir que levei você até ali porque... porque ela estava sempre perguntando sobre a minha mãe e querendo vê-la.

—Está tudo bem, Nathan. Não precisa me explicar nada. Fiquei um pouco confusa no início, mas eu entendo. —Falei, apertando minhas mãos sobre meu colo, me segurando para não segurar a mão dele que estava sobre sua perna, apertada em punho. —Sua avó é simplesmente adorável. Consigo imaginar o quão incrível ela era antes do Alzheimer.

—Ah, ela tinha um espírito forte e uma mente brilhante. —Nathan abriu um sorriso pequeno, que sumiu tão rápido quanto havia surgido. O vi engolir lentamente, parecendo ainda tentar se recuperar da visita. —Não tenho mais ninguém da família além dela. Meus pais faleceram a alguns anos e foi ela quem me criou, até os primeiros sinais da doença começarem. No início ela esquecia das coisas ou confundia outras. Mas depois começou a ficar pior e eu sabia que não poderia cuidar dela como ela precisaria.

Nathan olhou pra mim, erguendo a mão para esfregar o rosto, enquanto umedecia os lábios com a língua. Não estava me dando tempo para absorver aquilo. Estava dando tempo a si mesmo para continuar.

—Minha família era muito amiga dos pais do Briar. A gente cresceu junto, então quando tudo aconteceu eles ficaram do meu lado. Eles me ajudaram quando eu a trouxe pra cá. —Nathan prosseguiu, soltando o ar com força. —Morei com eles por alguns anos, até entrar na universidade e então ir morar com o Briar em um apartamento só nosso. Mas passava todos os feriados com ele e os pais dele, visitando minha vó toda semana.

—Sinto muito, Nathan. —Falei, e dessa vez não consegui me segurar. Levei a mão até a dele e a apertei com força, vendo-o engolir em seco e assentir, antes de abrir um sorriso tímido pra mim, mas que deixava claro que estava muito agradecido por eu estar ali.

[...]

Acho que nunca tinha gritado tanto na minha vida quanto naquele momento. Tinha certeza que depois do jogo minha garganta ia estar completamente rouca e dolorida. Mas eu podia pensar nas consequências mais tarde. Agora eu estava focada em Nathan, que tinha acabado de entrar no gelo junto com o restante do time. E claro que, como sua namorada falsa, eu ia gritar o nome dele pra quem quisesse ouvir.

—Você tá levando isso muito a sério mesmo. —Jasmine comentou ao meu lado, tampando os ouvidos como se não aguentasse mais ouvir meus gritos.

—E quem disse que isso não é sério? —Soltei, erguendo as sobrancelhas para minha irmã, vendo-a me encarar com um pouco de desconfiança. —Sei porque vocês estão todos preocupados com o Nathan. Mas eu não sou uma pessoa ruim, sabia?

—Eu sei, Mavie. E eu também estou preocupada com você. Não só com o Nathan. —Jasmine retrucou, comprimindo os lábios de leve. —Mas você sabe como Heather é.

—Podemos não falar sobre isso hoje? —Sugeri, porque a última coisa que gostaria de pensar era em Heather e na aposta.

—Chegando. —Joe murmurou, aparecendo ali com Wyatt, Taylor e Luca.

Eles não costumavam assistir jogos de hóquei com a gente. Pelo menos não na arena. Mas desde a revanche do nosso time contra o time do Alabama, eles pegaram o gosto por assistir pessoalmente. Eu e Jasmine nos afastamos, deixando que nossos irmãos mais novos sentassem entre nós duas.

Os times começaram a tomar seus lugares lá embaixo, então eu voltei a gritar o nome de Nathan, deixando claro que estava torcendo pra ele ali. Algumas pessoas olharam na minha direção, mas não me importei e apenas continuei, gritando o mais alto que conseguia, porque queria que Nathan ouvisse.

Ele tinha parado muito perto do murro de proteção das arquibancadas onde estávamos. Era simplesmente impossível que ele não me ouvisse, porque até mesmo Briar se virou e olhou na minha direção, soltando uma risada e fazendo uma careta ao mesmo tempo.

Sabia que tinha combinado com Nathan de tentarmos fazer alguma demonstração ali, mas que ele não precisava, caso se sentisse desconfortável. E por um momento muito longo, tive absoluta certeza de que ele iria me ignorar. Mas então ele girou a cabeça e olhou por cima do ombro, bem na minha direção, erguendo um pouco o capacete como se quisesse ver melhor. Meu coração explodiu feito fogos de artifício quando ele sorriu pra mim, antes de me mandar um beijo, bem ali, pra todo mundo ver.



Continua...

Como conquistar Mavie Hollis / Vol. 6Onde histórias criam vida. Descubra agora