Como conquistar Mavie Hollis / Vol. 6

Capítulo 21: Pessoa certa.

Mavie Hollis

Desviei os olhos de Nathan, sentindo meu rosto absurdamente quente por estar falando com ele sobre aquele assunto, enquanto ele me encarava com uma expressão que parecia um misto de ansiedade e nervosismo. E também, parecia esperar alguma coisa de mim, como se eu tivesse a resposta pra alguma questão interna dele.

—Isso é...  —Fiquei sem palavras, antes de balançar a cabeça para os lados, soltando uma risada baixa. —Não sei o que dizer. Acho que nunca conheci alguém que ficasse desconfortável em beijar alguém. Mas, como você disse, talvez você só beijou as garotas erradas. Ainda vai encontrar a certa.

—Você acha? —Indagou, enquanto eu comprimia os lábios de leve, me perguntando porque ele estava me fazendo aquele tipo de pergunta. Justamente pra mim. —O que você faria, se achasse que encontrou a pessoa certa?

Olhei pra ele por um momento quase longo demais, sentindo as palavras grudadas na minha garganta. Eu não tinha resposta para aquilo, porque tinha certeza que eu e Nathan pensávamos de forma muito diferente no quesito relacionamentos. E o que eu faria? Que pergunta irônica. Ele está bem na minha frente e eu não estou fazendo nada.

—Eu não sei, Nathan. Todos os meus encontros nunca deram certo, então eu não sou boa com isso. —Afirmei, observando os olhos dele compreenderem o que eu queria dizer, quando ele assentiu com a cabeça. —Por que está me contando essas coisas? Você acha que a encontrou?

Meu tom de voz tinha saído totalmente brincalhão, mas Nathan não sorriu, apenas olhou pro lago na nossa frente, parecendo estar pensando muito longe. Encarei a grama do meu lado, tentando imaginar se Nathan tinha conhecido alguém desde que começamos com nosso namoro falso. Se fosse isso, então aquilo ali não duraria muito, se ela fosse mesmo a pessoa certa pra ele. E pensar nisso me deixava enjoada.

—Eu não sei. Só andei pensando muito nisso. —Nathan deu de ombros, como se aquilo não fosse nada.

Mas a duvida ficou martelando na minha cabeça, como a contagem regressiva. Tinha a sensação que aquilo ali não iria durar muito, porque todo mundo já achava que estávamos juntos, até mesmo meus pais. Uma hora isso que estávamos tendo iria acabar, por mais que nos dois estivéssemos nos dando muito bem fingindo tudo isso.

—Tem uma festa na próxima sexta, você vai? —Nathan indagou, e eu senti um certo alivio pela mudança de assunto. Abri um sorriso, em meio a uma careta quando olhei pra ele. —Antes que você pergunte, eu só vou se você for.

—Você nem gosta de festas.

—Não é que eu não goste. Nós dois já falamos sobre isso. E eu vou nas festas, só não fico até as cinco da manhã, como alguns costumam fazer. —Afirmou, enquanto eu tombava a cabeça de lado e lançava um sorrisinho pra ele, que o fez rir. —Juro que dessa vez não vai ter confusão nenhuma. Até porque agora você sabe como me sinto.

—Tudo bem, então a gente vai e fica lá até o que você achar suportável. Mas no momento que você achar que está demais, você me avisa e a gente vai embora, pode ser? —Questionei, sentindo minha garganta ficar seca quando Nathan balançou a cabeça que sim lentamente, enquanto olhava pro meu rosto com uma intensidade que me deixava sem fôlego.

—Obrigada por isso, Mavie.

—Por isso o que? —Indaguei, franzindo a testa em confusão, vendo-o engolir em seco lentamente e balançar a cabeça, antes de encarar o chão, enquanto os braços envolviam os joelhos.

—Você não se incomodou com o fato de eu ser todo metódico e ter toque com milhares de coisas. Não me achou um esquisito e muito menos... —Ele hesitou, como se a palavra fosse difícil pra ele pronunciar. —Não me considerou nem um pouco doido.

—Porque você não é doido. —Retruquei, batendo meu ombro contra o dele de leve, o que o fez abrir um sorriso pequeno, que logo sumiu.

—Na escola, era assim que alguns alunos me chamavam. Já sofri muito bullyng, apenas por pensar diferente da maioria das pessoas. Quando você tem autismo, sempre vai existir alguém pra te tachar de esquisito, doido, problematico e... —Nathan parou de falar, puxando o ar com força como se precisasse de um momento. —As vezes algumas coisas maldosas que machucam mais do é possível imaginar. Quando a gente encontra alguém que te trata como um ser humano e não como uma coisa esquita que veio errada, a gente precisa valorizar isso.

—Nathan... —Falei, sentindo minha garganta se fechar ao ouvi-lo falar daquela forma.

—Só estou sendo sincero. —Afirmou, dando de ombros, enquanto eu me aproximava dele. Passei meu braço ao redor do dele, aconchegando minha cabeça no ombro dele.

—Bom, vou ser sincera com você também. Você é incrível, Nathan. Não tem absolutamente nada de errado em você. É doce, gentil e atencioso. —Falei, sendo o mais sincera possível. Não tinha como eu mentir para Nathan, quando tudo que ele fazia mexia comigo mais do que eu gostaria que fosse possível. Mais do que qualquer cara já mexeu. Chegava a ser engraçado o quanto eu pegava pensando nele, nos momentos mais aleatórios possíveis. —Não quero que fique pensando em todas essas pessoas infelizes que te faziam mal. Você vale mais do que qualquer uma delas, Nathan.

Nathan suspirou, virando o rosto pra olhar pra mim, mesmo que eu tivesse escorada no ombro dele. Fiquei quietinha, mesmo quando senti que ele estava me observando quase como se não piscasse. Ele se inclinou lentamente, pressionando os lábios na minha testa. Se demorando tempo o suficiente para o meu coração disparar, como se alguma reação química estivesse acontecendo dentro de mim.

—Você também vale mais do que qualquer uma delas, Mavie. —Nathan sussurrou contra minha pele, antes de escorar a cabeça na minha.

Então nós dois ficamos ali, encarando aquele lago, no meio daquela noite, aproveitando a presença um do outro. Não havia nada melhor do que aquilo. E eu me perguntava o que iria fazer quando não o tivesse mais.

Continua...