Capítulo 12: Você pode ir comigo?

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Nathan entrou no meu quarto, olhando ao redor como se estivesse um pouco sem graça ali. Deslocado. Ele parecia enorme dentro do meu quarto pequeno, parecendo não saber se deveria ficar de pé, se sentar na cama ou na cadeira em frente a minha escrivaninha. Eu também não sabia o que fazer. Estava meio perdida desde que o ouvi falar que tinha autismo.

—Desculpa pela bagunça. Não tenho muito tempo pra arrumar as coisas quando estou em casa. —Falei, pegando algumas coisas que estavam espalhadas pelo quarto, enquanto sentia o calor subindo para o meu rosto. —Meu quarto é minúsculo.

—É bem a sua cara. —Comentou, umedecendo os lábios com a língua, enquanto observava os detalhes, como se pudesse ver o caos que formava aquele cômodo. O mesmo caos que existia dentro de mim.

—Bom, é melhor do que ficarmos conversando na rua. —Afirmei, abrindo um sorriso nervoso, antes de ficar seria quando ele olhou pra mim, parecendo buscar alguma coisa na minha expressão.

Meu coração afundou dentro do peito, enquanto eu me sentia a pior pessoa do universo, não porque Nathan ficasse desconfortável perto de mim, mas porque eu tinha o feito se sentir mal na própria pele. Eu não fazia ideia de como ele se sentia normalmente, e muito menos naquela festa. No final das contas, a culpa era toda minha por não ver o que estava bem na minha cara.

—Eu sinto muito, Nathan. Eu não fazia ideia que você era autista. —Falei, percebendo que Nathan estava esperando por qualquer coisa de mim, desde que tinha o chamado pra cá, pra sairmos do meio da rua. —Me desculpa. Se eu soubesse que você odiava festas, jamais tinha feito você ir lá por mim.

—Eu não odeio festas. Eu normalmente não vou. Mas algumas vezes fico entediado de estar em casa, com meus amigos se divertindo, e decido ir. Mas nunca fico mais de meia hora. —Ele engoliu em seco, apertando as mãos ao lado do corpo, como se isso aliviasse seu nervosismo. —Enquanto estávamos no sofá estava tudo bem. Mas depois a festa começou a ficar mais cheia e aquilo estava se tornando demais pra mim. Não consigo pensar direito quando estou superestimulado. Fico tão ansioso que as vezes nem consigo respirar direito.

Meu coração se apertou, porque se eu soubesse sobre aquilo, tinha o puxado pra longe daquela festa e ficado com ele até que ele se sentisse melhor. Mas eu apenas agi como uma criança emburrada, evitando falar com ele e, quando falei, fui completamente estúpida. Só de imaginar como ele se sentiu quando ouviu a nota que dei a ele, tenho vontade de esganar a mim mesma.

—Eu não notei que você tinha me tocado. Estava tão fundo nas sensações que aquela festa estavam me trazendo, que não me dei conta. Juro que não foi por querer. —Nathan prosseguiu, como se sentisse a obrigação de me explicar aquilo mais uma vez. —Me desculpa.

—Não precisa me pedir desculpas. Nós dois erramos. Deveríamos ter conversado mais e contado essas coisas. —Falei, tentando recuperar o controle da situação, mas eu me sentia tão confusa agora. Nathan parecia constrangido, como se estivesse exposto demais pra mim. —Eu sinto muito por ter se sentido mal na festa. Vamos ajeitar as coisas pra que isso não aconteça de novo. Prometo que não vou tocar em você de novo.

—Você pode me tocar, isso não é um problema. Mas... —Ele desviou os olhos de mim, antes de erguer a mão e esfregar a nuca, puxando o ar com força. —Não é todo tipo de toque que machuca. Se for leve demais e eu não estiver esperando, é como se queimasse. É mais do que apenas dor. Não sei explicar direito. Só... não consigo suportar. Simplesmente não consigo.

—Tudo bem. —Falei, engolindo o nó que estava na minha garganta, observando Nathan olhar pra mim e depois desviar os olhos, antes de se aproximar, encarando as minhas mãos.

—Se for me tocar, não precisa me avisar. Mas precisa ser firme. —Meu coração disparou como se eu estivesse correndo uma maratona quando Nathan parou na minha frente e segurou minha mão. —Nada de toques leves ou roçar a mão na minha. Vai me machucar se fizer isso.

Segurei a mão dele com força, sentindo meu coração martelando no meu peito quando encarei as quatro juntas. Nathan me mostrando como eu poderia tocar sua pele sem o machucar. Ergui os olhos, ficando completamente sem fôlego, com o coração trovejando dentro do peito quando nossos olhares se encontraram e ficaram assim.

Por um momento nenhum de nós dois disse nada, enquanto eu apertava a mão dele, deslizando os dedos pela pele gelada, deixando claro o quão nervoso Nathan estava. Eu também estava nervosa, além de ansiosa, porque nunca tinha passado por algo assim. Precisar tomar cuidado ao tocar alguém era novidade pra mim. Deslizei minha mão pelo pulso de Nathan, por baixo da manga da camisa, vendo-o engolir em seco na minha frente.

—Estou te machucando? —Indaguei, fazendo menção de afastar a mão, mas ele a segurou, antes de negar com a cabeça.

—Não, só é um pouco constrangedor. Nunca precisei explicar isso para os meus amigos, que convivem comigo e sabem. —Nathan desviou os olhos para as nossas mãos, enquanto eu permanecia olhando pra ele, sem conseguir desviar os olhos quando meus sentimentos estavam tão intensos dentro de mim. —Mas também nunca deixei alguém achando que eu estava desconfortável ao seu lado e que não gostava do seu toque.

Soltei uma risada, abaixando a cabeça quando vi que Nathan abriu um sorriso. A tensão da nossa conversa tinha desaparecido, deixando algo leve e carregado no ar. Ainda estava tentando entender o que eu estava sentindo naquele momento, porque nunca tinha me sentido tão abalada por causa de alguém dessa forma.

—Você ainda quer desistir? —Nathan indagou, soando um pouco hesitante, como se estivesse com medo da minha resposta. Encarei os olhos dele, apertando sua mão.

—Não, não vou desistir. Mas vamos fazer umas mudanças, ok? Não vamos fazer nada que te deixe desconfortável, Nathan, como a festa. —Afirmei, vendo-o assentir com a cabeça, parecendo super aliviado. Mas não tinha certeza se era pela festa ou por eu não ter desistido. —E sempre que algo te incomodar, você precisa me dizer. Temos que nos comunicar se quisermos que isso de certo.

—Tudo bem. —Nathan soltou um suspiro pesado, apertando minha mão de volta. Nenhum desconforto marcando o rosto bonito. Ele parecia aliviado. Quase tranquilo demais. Mas ainda tímido. —Eu tenho jogo amanhã. Você vai?

—Vou sim. Jas tinha me passado o horário e o dia dos próximos jogos de vocês. Vou estar lá. —Prometi, vendo-o assentir com a cabeça, antes de abrir e fechar a boca, como se não soubesse se deveria ou não falar algo. —Comunicação, Nathan.

—Sim, desculpa, é só que... —Nathan umedeceu os lábios com a língua, fazendo uma careta. —Vou visitar minha vó amanhã. Você pode ir comigo?



Continua...

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