Dores

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NOTAS INICIAIS: Olar, amis! Como estão? 

Voltei com o terceiro capítulo de "Linhas". Esse capítulo é bem importante porque mostra mais do Sakusa, já que até agora sabemos mais sobre o Atsumu. 

Hoje eu não tenho muito o que falar antes do capítulo. Bora?

Boa leitura, nos vemos lá embaixo!


— * —


Quando o despertador tocou naquela sexta, Kiyoomi sentiu vontade de jogá-lo na parede.

16h.

Assim que desligou o aparelho, sentou-se na cama. Ainda acordava do longo e pesado sono que teve.

Por trabalhar em um bar, Sakusa tinha uma rotina completamente desregrada. Passava as noites em claro fazendo bebidas e dormia quase o dia inteiro. Não era como se ele não soubesse como essas práticas eram nefastas para a sua saúde, ele já era um homem bem crescido.

Mas as contas precisavam ser pagas. Elas não aceitam desculpas, não aceitam atrasos, não se importam se você mal se aguenta em pé. Elas não têm piedade. Esse era o mundo adulto, bem-vindo.

Em um ato robótico, pegou o copo de água sobre a mesa de cabeceira, junto dos comprimidos amargos. Mas Kiyoomi não sabia disso, ele engolia tudo de uma vez.

Assim o fez antes de decidir se levantar. O corpo pesado, mal se aguentando em pé. Era como uma ressaca passiva: ele não bebia, mas preparar os drinks para terceiros lhe deixava nesse estado lastimável, uma embriaguez apenas por trabalhar com bebidas.

Abriu as cortinas e sentiu a pouca luminosidade bater em seu rosto. Era setembro, o outono trazia um clima fresco e céu nublado. Olhou a rua e viu poucas crianças voltando da escola. Sakusa as achava uma graça, mas não apreciava a vista muito tempo sem sentir piedade e desejar poder fazer algo por elas.

Desejava que elas não crescessem, porque o mundo lá fora certamente não era feliz. Ele não beija seus machucados. Não te faz chocolate quente no frio. Não acaricia sua cabeça quando faz algo com êxito. Ele não enxuga suas lágrimas.

Ele é o causador delas.

Um grito chamou sua atenção. Um dos meninos corria para a porta de casa, onde sua mãe lhe esperava com um sorriso e os braços abertos, pronta para segurá-lo.

Sakusa foi para o banheiro antes que pudesse vê-los concretizar o ato.

Não sentiu vontade de se olhar no espelho. Foi direto para o chuveiro, arrancando a cueca, a única peça que usava para dormir, e entrando debaixo da água quente. O líquido escorria pela sua pele, delineava cada uma de suas marcas.

Quando saiu, o banheiro estava embaçado. Deixou o box com os cabelos pingando no chão; o tapete embolado. Terushima provavelmente o esfolaria, mas era sua vingança pelo outro não ter tirado o lixo quando deveria.

Dividir um apê por conveniência tinha esses poréns, mas nada superava o alívio que isso trazia nas contas.

Terminou de se arrumar depois de escovar os dentes e deixar a pasta de dentes vazia de conteúdo sobre a pia. Terushima merecia mais do que só essa merda.

Talvez devesse ter deixado o vaso sem descarga, mas isso incomodaria o próprio Sakusa.

Ainda sentia seu corpo dolorido e buscou por alguns remédios na gaveta de sua cômoda. O quarto impecável, já que o tempo que passava ali era apenas dormindo ou lendo. A cama queen size com uma das pernas remendadas. A cabeceira que levava um abajur amarelo fosco, água e seus remédios. O armário com poucas peças de roupa. A velha estante de livros, abarrotada de exemplares usados.

linhas | sakuatsu, atsusakuOnde histórias criam vida. Descubra agora