Ushijima Wakatoshi

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NOTAS INICIAIS: Chegay com o capítulo 4 de "Linhas" hehehehehe 

Esse capítulo é a história do Ushijima, tá bem curtinho (menos de 1400 palavras a história bruta) e, por isso, estou pensando em postar o capítulo 5 amanhã ou domingo, pra compensar. Mas não sei, depende do retorno desse aqui. 

Bora pro cap? Nos vemos lá no fim. 

Boa leitura :)


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Nem mesmo antes de começar a frequentar este bar. Os olhos verde-oliva sempre foram afiados, capazes de cortar qualquer um ao meio. Os ombros rígidos e a postura impecável, sempre imponentes, eram mais do que capazes de intimidar e subjugar.

Tudo isso elevava exorbitantemente a credibilidade de seu trabalho como detetive, função que exercia com notável êxito desde os 22 anos. Era seu sonho desde quando mal havia entrado no ensino médio.

É incrível como sonhos podem acabar tão mal.

Quando aceitou trabalhar em Marselha, na França, aos 25 anos, estava no auge de seu desempenho aqui no Japão. Lá não foi diferente. Sua maior dificuldade foi o idioma que, no início, foi resolvida com um tradutor que o acompanhava todos os primeiros dias de adaptação. Mas ele não podia continuar assim.

Foi quando conheceu Keiko Dubois, nascida no Japão e criada na França. Ela era professora, conhecida de um dos colegas de Ushijima. "Uma das melhores que conheço, ela é perfeita para você", dissera o homem.

Nunca palavras foram tão certeiras e cortantes na vida do detetive.

Uma mistura notável entre o lado francês, por parte de pai, e japonês, que herdara da mãe, tinha uma beleza simples no exterior. O corpo era muito miúdo para a inteligência e a bondade que carregava. Os olhos, dizia Ushijima, eram castanhos e redondos, como duas sementes que incitam a germinar o melhor nos outros.

Não foi amor à primeira vista, ainda mais devido a relação que carregavam. O detetive, logo nas primeiras aulas, sentiu-se frustrado. Era como se os papéis tivessem se invertido e ele fosse o professor tentando educar. As aulas eram caóticas, Keiko esquecia quais lições havia passado, de corrigir tarefas e mudava os horários das aulas em cima da hora. Além disso, ela tinha momentos de desatar a falar e não parava mais.

Em francês. Sobre assuntos que nada tinham a ver com a aula. Mas, claro, Wakatoshi não entendia na época. Ele não falava francês.

Ushijima não sabia o que fazer. Ele perguntava em japonês, ela respondia em francês. Ele criticava em japonês, ela devolvia em francês. Pareciam dois idiotas.

Sua vontade era de ligar para o colega e dizer que ele havia se enganado. Aquela era a pior professora de todas as opções possíveis.

Estava decidido, ela seria demitida. Não podia mais suportar aquilo.

Bem, mas de um jeito diferente. O detetive estava nervoso, queria dar o troco. Passou a estudar por conta própria com ainda mais afinco, pois ele queria responder a altura. Estava doido para ver a cara dela quando dissesse um "dispenso seus serviços", no mais impecável francês.

Quando finalmente foi capaz, depois de mais um mês de aula, a resposta da professora foi um riso.

"Finalmente", ela disse em japonês. "Parece que esta didática está funcionando, ou quase isso. Mas você conjuga muitos verbos de maneira errada, já percebi isso."

Ushijima se envergonhou, mesmo sem entender o porquê.

"Eu sou só o caminho. Quem anda, é você." Então, em japonês, ela passou a lhe explicar mais uma vez a conjugação verbal. Entregou-lhe seus exercícios corrigidos e estava prestes a se despedir.

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