Layla*
Minha cunhada veio me visitar, ela é uma mulher muito bonita, sobrancelhas grossas, lábios bem carnudos, e olhos negros como os de Khalid.
- Salameleico Sevil
- Aleikum Essalam Latifah.
Nos curvamos uma perante a outra em sinal de respeito, e só então nos sentamos para um chá.
Vejo que Latifah faz sinal para que nossas acompanhantes nos deem privacidade, elas se retiram nos deixando a sós.
- não imagina como eu estava curiosa para te conhecer.
Faço uma pequena careta, por não entender o que tanto a deixava curiosa a meu respeito.
- você não tem noção do que você significa não é Sevil?
Esse nome ainda me soa tão estranho, parece que fico cada vez mais distante de casa e de tudo que conheço.
- sou alguém que seu irmão gosta?
Respondo com uma pergunta, mas pergunto meio insegura quanto ao que falei.
- meu irmão ama você, e ama tanto que está disposto a mais um casamento sem amor, apenas para poder se casar com você a escolhida dele, eu quero tanto me casar por amor também, mas infelizmente não sei se terei essa sorte.
A tristeza da minha cunhada dava para ser sentida a quilômetros de distância, em seu país se casar por amor é difícil, normalmente a maioria dos casamentos se dão por meio de acordos matrimoniais.
- você acha mesmo que ele me ama tanto assim?
- ainda tem duvidas? Por que se tem, saiba que seu nome foi escolha dele e significa literalmente amor.
Enrubesço instantaneamente, não sabia que Khalid tinha escolhido meu nome, e muito menos o que ele significava, mas meu coração está tão feliz dentro do meu peito que não contenho meu pequeno sorriso.
- eu também o amo muito.
Falo em tom baixo ainda cheia de vergonha, não sabia que ama-lo poderia me causar tamanha felicidade.
- você soube que a sua ex amiga foi encontrada?
- e onde ela está?
- na prisão, seu país está pedindo a extradição dela.
Uma onde de raiva me invade, ela tentou me fazer o mau e agora simplesmente quer sair impune.
- e ela pode ser extraditada?
- só se entrarmos em acordo com seu país.
Me permito vaguear os pensamentos, graças a maldade que ela tentou fazer se aproveitando da nossa amizade eu conheci Khalid de verdade, mas nem por um momento eu desconfiei da maldade dela.
- gostaria de vê-la, será que isso seria possível?
- por que iria querer ver aquela mulher?
- gostaria de entender o por que, afinal achei que eramos amigas de verdade.
- vou falar com meu irmão, tenho certeza que ele dará um jeito.
Sorrio agradecida, minha cunhada é uma mulher meiga, quero que ela seja feliz, e tudo que puder fazer para ajuda-la, farei.
***
- você tem certeza que quer vê-la?
- tenho, eu preciso disso meu senhor.
Chamá-lo de senhor em público é normal para as pessoas a nossa volta, mas ainda não me acostumei.
Seguimos para dentro das paredes da prisão, o lugar tem um cheiro um pouco forte, fomos conduzidos até uma sala aos fundos, onde abriram uma porta grande de ferro, lá estava o rosto que tanto me lembrava de casa.
Samira estava algemada a mesa, me encarava com os olhos vazios e com uma áurea negra.
- veio zombar de mim e mostrar que está melhor do que eu?
- não vim aqui para isso
- então o que veio fazer?
- gostaria de saber por que fez isso comigo? Achei que eramos amigas.
Uma risada seca ecoa pelo espaço pequeno que nos cerca, Khalid parece impaciente, e irritado com o comportamento de Samira.
- você sempre queria ser melhor que todo mundo, queria ser o centro das atenções, tinha muitos amigos, sempre era convidada para as festas e ainda por cima tinha o Gabriel, que estava apaixonado por você
- isso não explica por que fez tudo isso
- você sempre teve tudo que eu queria, se você não existisse mais e apenas eu voltasse tudo seria meu.
Em pensar que eu sempre achei que por ela ter dinheiro não tivesse motivos para ter inveja de mim, mas agora posso ver claramente o quanto eu estava errada.
- graças a sua maldade eu conheci o Khalid e vamos nos casar, então só queria me certificar de que você soubesse que sua maldade não foi adiante
- quando eu voltar pro Brasil vou fingir que nunca te conheci sua idiota, tá se achando só por que encontrou um árabe de merda.
Como estamos conversando em inglês apenas o Khalid nos entendi, mas as vezes ela fala em nossa língua por que sabe que apenas nós duas vamos entender.
- quem disse que você vai voltar para o Brasil?
Abri um sorriso malicioso para ela, afinal Samira não achou mesmo que eu iria esquecer o que ela fez e deixar tudo por isso mesmo.
- eu sei que o Brasil já fez meu pedido de extradição
- mas não somos obrigados a entregá-la, ainda mais depois de uso de drogas ilícitas e tentativa de comercialização humana
- você está blefando, não podem me manter aqui.
O olhar de desespero de Samira me fez ver o quanto ela me odiava e o quanto queria me fazer mal nesse momento.
- espero nunca mais te ver.
Khalid segura minha mão e me guia para fora da sala, enquanto Samira vai a loucura gritando freneticamente para que eu voltasse e a libertasse.
Do lado de fora daquele lugar vomitei horrores, fiquei tão enojada que não resisti.
Entramos no carro e seguimos para casa, Khalid me trouxe a esse lugar depois que minha cunhada Latifah conversou com ele.
- você foi muito bem lá dentro, agiu como a esposa de um líder
- eu sei que você não poderia ter me trazido aqui, mas eu realmente precisava disso
- você está bem habiba?
- sinto saudades de casa, da minha família Khalid, será que posso ao menos telefonar para eles e falar que estou bem?
- sabe que por enquanto não pode
- mas eles devem estar preocupados comigo, já devem ter visto as notícias sobre Samira e devem estar preocupados comigo.
Vejo que o silêncio de Khalid impera, parece que ele está a esconder algo importante de mim, mas não sei dizer o que, então insisto.
- habiba saiba o seu lugar quando não estivermos a sós, se eu disser para você não, você não me questiona, as mulheres em meu país não questionam seus maridos
- perdão meu senhor.
Sinto uma onda de realidade me invadindo, estava claro que nem tudo era só alegria, sua cultura era completamente diferente da do meu país, aqui as mulheres não tem vez e nem voz.
Permanecemos em silêncio até chegarmos, Khalid não ficou comigo em casa, foi embora.
Os costumes nesse lugar são tão estranhos que cada esposa tem sua casa própria dentro das propriedades do esposo, ainda não me casei, mas já tenho minha casa e minhas empregadas, a casa é tão luxuosa e dourada, que para todo canto que olho vejo o quão distante estou do meu país.
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Príncipe do Deserto
Historia CortaSozinha em um país totalmente diferente do seu, sem dinheiro, sem passaporte e sem ter para onde ir, Layla se viu sem saída quando encontrou Khalid, mas ele lhe fez uma proposta em troca da sua ajuda, uma semana a seu inteiro dispor e ele a mandaria...