2018
A n y
─ Não irei pedir desculpa ─ Digo ríspida enquanto aperto minhas unhas nos meus braços cruzados.
A mulher de meia-idade na minha frente respira fundo enquanto passa sua mão pelo rosto, um reflexo do cansaço.
─ Escute, Any ─ Me olha ─ Todas as pequenas discussões entre você e o aluno Satoru Gojo, sempre acabam com você na minha sala quase recebendo uma advertência.
─ Deve ser porque eu não aceito calada os desaforos dele ─ Arqueio as sobrancelhas.
─ Já pensou que ele pode apenas te provocar de propósito? ─ Se ela fosse um super herói seria o Super Óbvio.
Respiro fundo desviando o olhar.
─ Já.
─ E não pensa em parar?
─ Curioso achar que o problema esteja naqueles que se defendem e não nos que atacam.
A coordenadora coça a cabeça impaciente e a sala se enche com o barulho irritante da porta velha de madeira, revelando o maior canalha do Japão.
─ Any, Coordenadora Harumi, eu adoro nossas reuniões semanais ─ Gojo diz se sentando na cadeira ao meu lado.
─ Dona Nishida, Satoru ─ Corrige e suspira.
Pelo o que eu absorvi com meu tempo de convivência nas regras japonesas, para japoneses nativos, chamar alguém pelo primeiro nome é uma familiaridade com a pessoa, reservada para parentes ou colegas íntimos. Por isso que o sobrenome é o primeiro a ser dito ─ ou seja, Hishida Harumi. Mas Gojo é indelicado e facilmente comparado a um animal. Ele sabe como ser incômodo. E claro, eu chamo as pessoas daqui pelo primeiro nome, mas eu uso meu passe livre de estrangeira-inocente.
─ Como eu digo toda semana, já chegamos em um ponto onde não precisam nem sequer se olharem, apenas se respeitem ─ Ela continua.
─ Não respeito Satoru Gojo ─ Respondo neutra e ouço uma pequena risada vinda dele.
─ Este é o penúltimo semestre de vocês e o último ano da escola. São praticamente adultos, deviam agir como tais ─ Conclui ignorando meu comentário.
─ Poderíamos montar um clube do chá ─ Satoru vaga enquanto olha a janela atrás da coordenadora.
─ Me mude de sala ─ Peço arqueando minha postura para me impor à ela.
─ Tem seis pessoas na nossa turma, idiota. Só se você repetisse o primeiro ano de novo ─ Gojo retruca despretensioso com a cabeça apoiada em sua mão no braço da cadeira.
─ Acho que deu minha hora ─ Levanto-me indo em direção à porta com minha pequena mochila na mão.
─ Este é o último aviso de vocês. Da próxima vez terei que constatar o diretor ─ Grita antes da batida da porta.
Ando pelo corredor pensando em apenas uma coisa: tomar um dipirona e chorar assistindo comédia romântica.