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─ O quê? ─ Pergunta me encarando com olhos arregalados. Acho que vi ele tremendo as mãos.
Ah, sim. Eu acabei de me perguntar para Satoru o que somos. Porra, não acredito que esse dia chegou. Esse cara consegue tirar toda a minha concentração do meu objetivo de vida, mas eu jurei que nenhum homem faria isso.
Respiro fundo encarando-o. Acho que pareço ansiosa pela resposta, mas a cara dele é indecifrável.
─ Por que tá perguntando isso?
─ Não tenta fazer isso parecer difícil.
─ Somos amigos. ─ Responde.
Meu corpo gela. Amigos? É isso que somos pra ele?
─ Não somos amigos. ─ Digo levantando do seu sofá da sala ─ Nunca fomos.
─ Do que você tá reclamando? ─ Ele pergunta enquanto bola seu baseado na poltrona ao lado.
Mantenho meus braços na lateral do meu corpo enquanto estalo meus dedos, combatendo o nervosismo. Esse cara só pode tá zoando. Ele nem sequer olha pra mim.
─ Tem algo que você se importe além de si mesmo? ─ Aumento o tom de voz.
Seu olhar finalmente se direciona a mim. A raiva consegue até fazer minhas pernas tremerem. Satoru deixa seu baseado de lado e se levanta com sua arrogância e confiança, caminhando até mim. Encarar Satoru Gojo é pior quando ele está sem máscara.
─ Não fica magoada. Mas não temos nada. ─ Me encara com seus olhos preguiçosos ─ Não era minha intenção que isso se tornasse amor.
Amor? Ele tenta me humilhar com amor? Eu jamais admitiria para alguém como ele um sentimento puro como esse.
Minha boca incontrolavelmente se curva em um sorriso para não deixar minha decepção e lágrimas transparecerem. Filho da puta. Seu rosto torna-se confuso e tenta me decifrar com mais atenção.
─ Quem disse que eu estou apaixonada por você? ─ Pergunto encarando-o, e seus olhos quase saltam para fora.
─ O quê? ─ Agora é a vez dele de enloquecer.
Diminuo a distância entre nós chegando mais perto. Quase consigo ouvir o coração dele aumentar o ritmo cardíaco. Satoru me encara com seus olhos surpresos, sem mexer um músculo sequer. Mas eu consigo sentir que está em choque. Consigo sentir tudo que ele sente.
─ Você se acha engraçado, se acha esperto. Acha que está acima de todos. ─ Passo por ele para pegar minha mochila jogada no sofá ─ Você nasceu destinado a ser o mais forte, mas isso não é tudo.
Ao abrir a porta, virei a cabeça para olhar Satoru, de costas, parado. A calça moletom cinza e a camiseta branca amassada continuavam sendo sua marca registrada. O cômodo ficou em silêncio. Ele não se mexeu, nem parecia estar respirando.
─ Você pode deixar a sua vida ser uma brincadeira, só tenta não foder com quem passa por ela. ─ Cuspo as palavras que veem na minha mente e bato a porta.
A maioria das decepções amorosas acontecem pelo excesso de expectativa. A culpa por esperar demais dos outros é sempre nossa. Admito que a decepção bate a porta na minha cara, como eu esperei que fizesse algum dia.
Eu juro que não estou chorando enquanto volto para casa ouvindo Ariana Grande.
Bom, na verdade estou.