G o j o
126 chamadas perdidas.
Foi o que eu deixei no celular da Any quando percebi que tinha feito merda. Eu devia ter dito o que sentia, mas nunca a vi antes daquele jeito. Foi como sentir um desprezo mais puro e físico. A voz dela na caixa postal é o mais próximo que podemos chegar agora.
Engulo outro gole de vodca esparramado na minha cama. Meu corpo está pegando fogo de tanto álcool ingerido enquanto passava as últimas horas ouvindo Luan Santana, já que a Any gosta tanto.
Sinto a presença dos meus amigos no quarto após ouvir a voz da minha avó. Deviam estar conversando. Ela devia estar falando como eu tô um caco esses dias.
─ Acho que precisam ir embora. ─ Murmuro.
Shoko e Geto fazem uma cara de pena, como se eu estivesse pedindo esmola, ou nos meus estágios finais de vida. Geto sussurra algo no ouvido de Shoko e ela responde, "Tentei falar com ela, mas ela disse que não tentava nem se importar". Dou outro gole na garrafa.
─ Acho que amar alguém é mais difícil do que eu pensava. ─ Minha boca profere algumas palavras aleatórias, como faz há três dias, desde que ela foi embora ─ É uma sensação diferente. Eu sinto que posso explodir se não falar na cara dela que a amo.
Ambos se entreolham.
─ Você ama a Any? ─ Shoko pergunta enquanto segura o celular na mão.
─ Tudo que eu mais quero é ficar com ela o dia todo. ─ Dou um gole na bebida e finalizo mais uma garrafa ─ Ou a vida toda. Sinto falta até ouvir ela falar sobre a coleção de Barbie's idiotas que ela tem.
─ E por que não foi atrás dela?
Encaro a lâmpada no teto. Ela está mais amarela do que o normal, ou sempre foi assim?
─ Porque eu sou covarde. ─ Engulo seco ─ E, eu queria que ela tivesse um tempo para digerir tudo. Não queria piorar a situação.
─ Você teve uma oportunidade, mas preferiu ser um merda. ─ Geto me detona enquanto tenta tirar a garrafa da minha mão ─ Larga essa merda. Você já bebeu demais.
Estou tão fraco mental e fisicamente que nem consigo evitar Suguru de tirar a bebida de mim.
─ Você vai dormir agora, e quando acordar vai tomar isto aqui. ─ Shoko aponta para um copo de água e dois compromidos na cabeceira ─ E vê se vira homem, porra! Fez merda, agora aguenta.
Shoko e Any poderiam batalhar pra ver qual das duas mais fode comigo. Eu fecho os olhos e a minha visão aos poucos se torna um amontoado de borrões cinza. Pelo menos quando eu durmo não penso nela.