8.

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A n y

     Quando ouço as batidas na porta, meu primeiro pensamento é desespero. E o segundo é ignorá-lo, porque já me arrependi da ideia. Agora, depois da segunda série de batidas, decido forçar meu cérebro a agir.
     ─ E aí, lindinha? ─ Ele oferece seu melhor sorriso de cafajeste e abre caminho pela sala ─ Tomara que não esteja de mau humor.
     ─ Nunca estou de mau humor. ─ resmungo.
     ─ Ah, então devo ter te interpretado mal. ─ Ele debocha de mim e analisa o apartamento ─ É bem sua cara mesmo.
     Arqueio a sobrancelha.
     ─ O que eu deveria entender por isso? ─ Pergunto desconfiada. Ele me olha de canto e sorri.
     Investigo Gojo de cima a baixo e noto a falta de utensílios de estudo.
     ─ Cadê o seu material? ─ Pergunto com a mão na cintura.
     ─ Cassete, isso é Jojo? Você curte? ─ Exclama surpreso e se acomoda no sofá entre as almofadas enquanto seus olhos azuis se iluminam em direção à televisão.
     ─ É. Mas não é por isso que você veio. ─  Tento cortar seu clima enquanto me estico para pegar o controle.
     ─ Espera aí, gatinha. Acabei de chegar. Deixa eu respirar um pouco. ─ Diz estendendo o braço ao longo do sofá e me chama com o outro ─ Senta aí.
     ─ Não me diga o que fazer. ─ Cruzo os braços.
     ─ O Jotaro vai apostar a própria mãe, se liga. ─ Exclama mordendo o lábio concentrado.
     ─ Eu sei. ─ Digo apertando os dentes.
     ─ Claro que sabe ─ Murmura, ainda concentrado.
     Satoru olha para a tela e me olha de canto. Acho que cometi um erro aceitando esta palhaçada.
     ─ Ele vai ganhar, sabia? ─ Quebra o silêncio.
     Balanço a cabeça sorrindo.
     ─ Jura?
     ─ Pela minha mãe.
     ─ Caraca.
     Ele sorri.
     ─ Já de terminou de assistir tudo? ─ Ele me olha.
     Balanço a cabeça negando.
     ─ Estou na quarta temporada, mas voltei neste episódio porque é fantástico.
     ─ Beleza! Coloca aí onde você parou que a gente faz uma maratona. ─ Satoru me joga o controle e apoia os braços atrás da cabeça.
     Arregalo os olhos incrédula.
     ─ Uma ova! Você disse que precisava de notas e me pediu para ser sua professora.
     ─ Nunca obedeci professores, sabia? ─ Me provoca sorrindo.
     Fico em silêncio de olhos fechados controlando meu sangue fervendo nas minhas veias. Quando os abro, Gojo está bem na minha frente ajoelhado no sofá. Ainda assim ele consegue ficar mais alto do que eu. Que merda.
     ─ Um episódio e faço o que você quiser. ─ Ele sugere, ou melhor, implora. Prefiro assim.
     Comprimo os lábios querendo o xingar de todos os palavrões brasileiros existentes.
     ─ Só um. ─ Ele insiste com os olhos claros brilhando. Droga, ele sabe usar o que Deus deu.
     De repente lembro-me da técnica de respiração que minha psicóloga me passou: contar até 3, recitar os objetos em volta de mim, inspirar pelo nariz e expirar pela boca. Mas até eu fazer tudo isso, Gojo teria feito mais chantagens.
     ─ Só um. ─ Respondo reforçando e ele sorri. Canalha.

Meu Colega de Sala - Satoru Gojo. Onde histórias criam vida. Descubra agora