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A n y

     ─ Como você teve coragem de fazer isso comigo, Shoko Ieiri? ─ Praticamente berro, com o sangue correndo sangue nas minhas veias.
     ─ Desculpa, Any. Você sabe que não foi na má intenção. ─ Ela me olha com os olhinhos amendoados. Não. Não vou amolecer.
     ─ E você ─ Direciono meu olhar ao Gojo ─ Nem deveria ter vindo!
     ─ Quem vai me impedir, linda? ─ Ele desafia calmamente enquanto me encara. Eu vou matar esse moleque.
     Chegando na festa, descobri que Satoru veio junto com Shoko para o nosso rolê. Nosso. De nós mulheres, amigas, garotas. Sem homens! E especialmente hoje (e sempre), não quero conversar com ele de jeito nenhum. E ela nem me contou, manteve segredo até chegarmos aqui.
     Na mesa, Shoko me olha atentamente sabendo que estou fervendo em fúria, e Satoru está com a cara mais santa do mundo passando os dedos pela garrafa de cerveja próxima a ele, provavelmente divertindo-se mais a cada vez que disparo um grito.
     ─ Melhor você sentar. Ficar do meu lado é meio concorrido. ─ Gojo provoca despretensiosamente, fazendo meus nervos se deslocarem. Mas antes d'eu o xingar novamente, Shoko toma as rédeas.
     ─ Any, eu não menti para você. Ainda é um rolê nosso, mas com o Gojo. ─ A garota explica-se apoiando um dos cotovelos na mesa.
     Respiro fundo e sento ao lado da minha amiga, e infelizmente, na frente do cara mais insuportável que existe. Vi em uma pesquisa que mulheres gostam de sentar de frente para as outras pessoas, e homens gostam de sentar ao lado. Bom, eu prefiro conversar olhando no rosto, mas não o de Satoru Gojo.
     Seu olhar viaja por sobre meu ombro, e então volta para mim. Isso acontece por diversas vezes. Queria saber o que ele está olhando. Satoru faz um sinal com a cabeça para Shoko e levanta-se em direção ao bar. Quando me viro só um pouquinho para vê-lo, descubro que era um grupo de garotas que ele olhava. Claro que era. Não que eu ligue, claro.
     Volto a atenção para minha amiga ao meu lado, e quando minha boca se abre para começar um assunto ela interrompe.
     ─ O cara não para de falar de você.
     O espanto transforma meu rosto.
     ─ O quê? ─ Pergunto petrificada.
     ─ O Gojo. Ele não para de falar sobre você, Any. ─ Shoko repete calmamente.
     Tento controlar minha respiração, e mentalmente xingo meu coração por estar tão acelerado. Umedeço os lábios e escondo minhas mãos suadas entre as pernas.
     ─ Jura? ─ Pergunto falsamente despreocupada.
     Ela deixa escapar um sorriso irônico.
     ─ Qual é, Any. O que aconteceu entre vocês? ─ Pergunta se aproximando de mim para escutar minha resposta em meio à música alta.
     Arregalo os olhos assustada.
     ─ Nada. Absolutamente nada. ─ Me defendo ─ No dia dos estudos, ele até tentou alguma coisa. Mas eu recuei.
     Apoio meu rosto com uma mão e desvio o olhar com vergonha. Após uma longa pausa silenciosa, olho para ela, que está com uma sobrancelha erguida.
     ─ O quê? ─ Franzo a testa.
     ─ Já falei que não precisa ter medo de homens. ─ Ela dispara e meu rosto se contorce.
     ─ M-medo de homens? Mas do quê você tá falando? ─ Grito em tom de indignação.
     ─ Fala sério. Você tem esse rosto, esse corpo, essa personalidade, e não dá um beijinho na boca. ─ Ela argumenta ─  Eu sei que é medo.
     ─ Shoko, de onde você tirou isso? ─ Pergunto com o espanto transformado em meu rosto.
     ─ Sua vida é tipo... ─ Ela começa a contar com os dedos ─ Ir para missões que duram semanas, e ficar em casa assistindo Monster High.
     ─ Eu fico muito cansada quando vou para as missões ─ Aperto os dentes controlando minha raiva ─ Uso meu tempo livre para descansar.
     ─ Descansa em cima de alguém. ─ Dispara resmungando enquanto se esparrama no sofá da mesa.
     Meus olhos se arregalam e dão tremeliques, e minha boca forma um 'O' sem conseguir proferir uma palavra sequer.
     ─ Vou ao banheiro. Vê se não foge. ─ Shoko passa praticamente por cima de mim enquanto permaneço estática.
     Ando cambaleando até o bar do local. Preciso beber.
     ─ Comprei uma bebida de mulher para vocês. Cadê a Shoko? ─ Satoru diz, já sentado na cadeirinha do bar, me despertando do transe.
     ─ B-banheiro. ─ Nem consigo mais conversar corretamente ─ O que raios é uma bebida de mulher?
     ─ Achei que você iria dizer que não dormiria comigo só por causa de uma bebida. ─ Diz, tomando um gole de seu copo enquanto sento ao seu lado.
     Ergo uma sobrancelha.
     ─ Mas isso já é bem óbvio. ─ Respondo dando de ombros ─ Meus padrões são elevados.
     ─ Tenho certeza que me encaixo em todos eles. ─ Ele lança aquela piscadela novamente. Meu Deus, como eu odeio isso.
     Satoru dá outro gole na sua bebida, e porra, ele é lindo. A camiseta preta combinando com a calça cargo no seu corpo não chega nem perto dos músculos do seu pescoço se movendo. E cá entre nós, a maioria das mulheres estão morrendo de inveja de mim agora.
     Ficamos em silêncio por alguns segundos. Talvez eu deveria preencher o vazio, sei lá. Ou talvez eu deva esperar por ele. Ou não.
     ─ Ouvi por aí que você é obcecado por mim. ─ Disparo e sorri de canto, mas me arrependo. Acho que existem outras formas de se começar um assunto.
     Ele sorri.
     ─ Esse me parece um bom tópico para começar nossa conversa. ─ É, eu pensei nisso. Ele se aproxima de mim e me encara ─ Na verdade, eu sou fascinado por você.
     Meu coração dá um pulo e uma febre sobre para minhas bochechas, seguida de um espanto que cobre todo o meu rosto, e um sorriso relutante curva os cantos da sua boca. Ele deve amar me ver sem jeito.
     ─ B-bom, obrigada. ─ Digo enquanto dou um um gole na bebida oferecida ─ Pela bebida. Obrigada.
     Ele ri.
     ─ Não pode fugir de mim para sempre. ─ Fala baixinho enquanto apoia seu rosto em sua mão.
     ─ Não fujo de você. ─ Me defendo desviando o olhar.
     ─ Então olha pra mim. ─ Ele pede, e eu pisco com tanta força que meu senso de urgência ganha forma.
     Eu o olho, e percebo que é difícil parar. Seus olhos são magnéticos. Nossos joelhos se tocam de vez em quando, e se ele chegasse um pouquinho para a frente, ele poderia encaixar-se entre minhas pernas. Se ele fizer isso, não sei o que farei. Talvez fugir? Merda, ele tá certo. Eu fujo dele.
     ─ E o que você quer que eu faça, Satoru? ─ Pergunto, tentando não parecer ansiosa.
     Ele levanta a cabeça e se aproxima, colocando o joelho entre minha perna.
     ─ Eu tenho uma proposta para você.
     Aperto o copo da bebida com força, na esperança que o gelo resfrie minha mão suada.
     ─ Passe uma noite comigo, Any. ─ Prenso minhas unhas afiadas no copo com mais força ─ Apenas uma noite. E se depois disso, você ainda não gostar de mim, nunca mais te pertubarei. Você não irá ouvir sobre mim e não me verá na escola ou em qualquer outro lugar.
     Se aproxima mais, juntamente com o maldito joelho entre as minhas pernas.
     ─ Mas se gostar, prometo que terá os melhores dias da sua vida. Comigo. ─ Acrescenta.
     Porra, o palavrão escapa para fora, em forma de sussurro, ecoando do meu pensamento. Gojo sorri, passando os dedos lentamente pelo meu braço direito, onde seguro a bebida.
     O que esse cara tá fazendo comigo, merda? Antes eu queria que ele morresse na minha frente, e agora quero que ele toque partes em mim onde nunca ninguém tocou antes. Sinto euforia perto dele, vontade de fazer tudo que nunca fiz. É alarmante sentir meu coração prestes a sofrer uma parada cardíaca, devastando meu corpo por completo e mesmo assim não conseguir dizer nada.
     ─ Me mostra agora. ─ Peço sem rodeios.
     Ele se mostra confuso.
     ─ O quê?
     ─ Me mostra agora se você vale a pena, Satoru. ─ Repito. Meu Deus, de onde eu tirei essa coragem?
     Ele sorri.

Meu Colega de Sala - Satoru Gojo. Onde histórias criam vida. Descubra agora