Cap. 8

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Saímos os três e confesso que foi esquisito.

Sempre andei sózinho e de um momento para o outro, encontro-me a fazer programa de família com uma filha e uma mulher que eu vi 3 vezes.

Madalena estava super feliz.  Entrámos no aquário e ela pediu colo.  Estava assustada com os peixes grandes tão perto.
Peguei nela e foi acalmando à medida que eu ia caminhando e explicando que o vidro não deixava eles chegarem perto da gente.

Fizemos o circuito todo e no fim entrámos na àrea dos pinguins.  Por sorte a chuva tinha parado e pudemos vê-los à vontade assim como às lontras.

Madalena estava super feliz.  Juliette confessou que estava a adorar.  Nunca tinha ido ali.  Estava à espera que Madalena crescesse um pouco mais.

Passámos na loja de recordações e comprei um pinguim de pelúcia que minha filha escolheu.

Decidimos almoçar no shopping já que o próximo divertimento era o parque de insufláveis.  Escolhemos uma mesa bem perto do parque para podermos vigiá-la.
Aquela hora, por ser hora de almoço não havia muita criança.  Madalena comeu e correu logo para a brincadeira.

Eu ainda queria saber mais coisas sobre Juliette mas estava com receio de perguntar.  Perto dela ficava um pouco constrangido.

Ficámos em silêncio por um longo período vigiando Madalena.

- Ela sempre foi assim, desenvolta?

- Sempre.  Começou a andar cedo e a falar também.

- E de saúde, teve muitos problemas?  As crianças desenvolvem algumas doenças normais da idade.

- Teve varicela só.  Depois uns resfriados sem grandes complicações.

- E no jardim escola?  Ah! Desculpa Juliette tanta pergunta,  mas eu tenho curiosidade de saber tudo.

- Pergunta à vontade.  No jardim escola também não teve problema.  Foi apadrinhada pela Cecília que é um ano mais velha.  No primeiro dia cada um dos mais velhos escolheu um recém chegado e a Cecília escolheu a Madalena.   Nunca mais se deixaram.

A minha afilhada também é um amor de menina.  Gosto que elas se dêem bem.

- E tu, porque nunca casaste,  Rodolffo?

- Não encontrei aquela que me fizesse querer muito, mas estou a ficar velho e cada dia vai ser mais difícil.

- Porquê?  A idade não conta.  Estás com ...

- 42 acabados de fazer.

- E tu?  Também ainda estás solteira.

- O único objectivo de vida era ser mãe.   Isso já sou.  Casar nunca fez parte dos meus planos.
Venho de uma família de mulheres submissas e isso sempre me incomodou.

Cresci num colégio de freiras, cheio de regras e crenças.

Não podíamos nada e à medida que vamos crescendo vai-nos sendo incutido o que elas entendem como certo.  Chegamos a uma certa altura em que não pensamos por nós.

"Os homens são o diabo, afastem-se dos homens" e outras coisas mais.  Depois quando entrei para a faculdade e voltei a casa dos pais, a minha mãe era agredida e violentada e nada fazia.
Eu questionava e o que ouvia?

" casamento é assim mesmo, mulher deve obedecer sem questionar, quando casares vai ser assim, o nosso consolo são os filhos, o resto a gente aguenta"

Se no meio disto tudo só os filhos eram consolo, então eu tomei a decisão de ser apenas mãe.
Formei-me, engravidei e fui expulsa de casa. 3 coisas boas que me aconteceram.

- Ainda pensas assim?

- Eu conheço casais bem felizes.  Hoje eu sei que aquela não era uma realidade absoluta.

- A regra é essa.  Um casamento tem que ser uma coisa prazeirosa e um companheirismo e não uma vida de maus tratos verbais e físicos.  O que as mulheres da tua família passam é por conta da má informação e do fanatismo religioso.

- É isso mesmo.  Hoje eu tenho essa consciência.
Vamos chamar a nossa filha senão ficamos aqui até à noite.

- Eu não me importo.  Gosto da tua companhia.  Estou a gostar de conhecer mãe e filha.

- Também estou à vontade contigo.

- Obrigado por me deixares partilhar estes momentos com vocês.

Amei-te Sem Te ConhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora