Cap. 5

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Entrei no café e só agora me dei conta de que estava sem almoçar.  Hoje apenas tomei café da manhã.

Pedi uma sanduíche e um suco enquanto esperava.

Juliette chegou pouco depois.  Meu Deus, ela é linda.  Igual ao que eu lembrava apesar de só a ter visto naquela noite.

Ela chegou junto dele, ele levantou-se e puxou a cadeira para ela sentar.

- Desculpa.  Acabei pedindo um lanche.  Estava sem almoçar.  Queres o quê?

- Um café por favor.

Rodolffo chamou o garçon e pediu dois cafés.

- Então não te chamas Clarice.  Porquê a mentira?

- Na altura pareceu-me bem.  Naquela noite eu não tinha intenção de voltar a ver-te.

- Porquê?

- Coisas minhas.  Devaneios de mulher limitada por muitos anos.

Por muitos anos a minha mente foi moldada por crenças.  Aquela noite era a minha noite de libertação.

Eu entrei naquele bar para fazer o que fiz.

- Porquê eu?

- De todos os que estavam lá,  foste o que me despertou algo,  além do físico, claro.

- Depois daquela noite fui em missão para África, por isso saí do hotel cedo.  Tenho feito algumas missões pelos médicos sem fronteiras.
Quer dizer que planeaste o nosso encontro?

- Não propriamente contigo, mas sim.

- Quando regressei voltei várias vezes ao bar, mas não te encontrei.
Depois parti novamente uma e outra vez.

- Coincidência termos a Maria, conhecida dos dois.

- Eu sou padrinho da filha dela e ela e o João são meus sócios na clínica.

- Quando te vi com a Madalena ao colo fiquei sem chão.

- Eu acho que até agora temos sido sinceros um com o outro.  Vou fazer uma pergunta e espero que a resposta seja sincera também.

- A Madalena é minha filha?

Juliette baixou os olhos e eu fiquei à espera da resposta.

Segurei no queixo dela e levantei-lhe o rosto.

- Sem recriminações.   Só diz-me a verdade.  Ela é minha filha?  Só preciso que confirmes, porque eu tenho quase a certeza.

- É.  Ela é tua filha.  Tu sabes que foste o primeiro e nunca houve outro homem na minha vida.

- Eu quase tive a certeza quando vi o colar dela na clínica, mas o nome da mãe não condizia.

- Eu quis ser mãe solo,  mas a certa altura arrependi-me.  Procurei-te no bar, mas nunca mais tive noticias tuas.  De ti só sabia o nome.   No bar não conhecia ninguém.   Aquela era a primeira noite.

- E as tuas amigas?  Aquelas que estavam contigo?

- Nós vivíamos na periferia.  Nenhuma de nós conhecia a cidade.  Eu já era formada.  Nessa altura mudei-me para cá.

- E a tua família?

- Por causa das crenças, quando anunciei a gravidez, cortaram relações comigo.  Há três anos que não sei nada deles.

- Tiveste dificuldades?

- Algumas, mas eu tinha o meu diploma.  Rápidamente arranjei trabalho e hoje estou bem.

Pedimos outro café.

- A Madalena está com quem?

- Com a senhora que me ajuda.

- A que a levou à consulta?

- Sim.

- Vive contigo?

- Não.  Só trabalha lá em casa?  Daqui a pouco tenho que voltar para a levar para casa.  Hoje ficou mais um pouco para eu vir aqui.

- Como está o pulso da Madalena?

- Ontem pus bastante gelo.  Acho que está melhor.

- Temos muito que conversar, mas eu não quero empatar a tua vida, Juliette.

- Já que estás aqui, não queres entrar para ver a Madalena?

- Posso?

- Claro que sim.  As vezes que te procurei era para te dar o direito de seres o pai dela.  Não consegui por três anos.  Agora não vou impedir,  a menos que a tua vida pessoal não esteja preparada.

Obrigado por permitires isso e por não me esconderes a verdade.

Paguei a conta e seguimos juntos para casa dela.

Amei-te Sem Te ConhecerOnde histórias criam vida. Descubra agora