Capítulo Quatro.

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"[ ... ] Eu vou sorrir, meu sorriso irá afundar em suas pupilas e Deus sabe o que ele irá se tornar."

(Jean-Paul Sartre.)

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Kelvin ofereceu outro sorriso meio ácido ao ouvir a resposta, mas, se fosse honesto consigo mesmo, teria que admitir que seu corpo parecia completamente desregulado por uma onda de calor que se espalhava por toda parte.

Por um momento, considerou até se culpar por estar vivendo esse tipo de situação tão recentemente após a perda de seu marido, como se estivesse cometendo uma traição emocional. No entanto, logo percebeu o quão irônico era esse raciocínio, considerando que ele próprio foi o único verdadeiramente traído. 

E depois, não tinha culpa se o cara era emocionado demais. Ele não tinha feito nada.

— Hoje, ainda podemos nos ver? Talvez... Um jantar? 

Um arrepio percorreu sua espinha, trazendo-o de volta à realidade diante daquela sugestão. Por Deus, ele não queria mais uma situação complicada e dramática em sua vida, mas seu corpo parecia traí-lo um pouco mais a cada fala do outro.

— Essa noite eu tenho planos. — mentiu, virando-se e abrindo a porta novamente, já que a mesma tinha fechado com o vento noturno.

Êêh... Com quem?

— Por que você quer saber? Com alguém.

Sua voz soou mais firme do que pretendia enquanto ele tentava conter uma expressão de divertimento. Ele tinha achado o rapaz um pouco mais do que adorável; não tinha porque ter medo de admitir isso para si mesmo.

— Ligue para esse alguém e diga que você mudou de ideia.

— O que diabos você está dizendo? — encarou Ramiro novamente, impressionado com o comando que saiu tão casual.

— Então, vamos sair nós três! 

Sugeriu, com um sorriso que parecia tão natural quanto respirar, como se fosse a coisa mais comum do mundo. Era como se fosse uma criança inocente, que não percebe a confusão que causa. 

E, no entanto, havia ainda aquele traço de diversão igualmente perceptível nos cantos de seus lábios. A possibilidade de tudo, na realidade, ser apenas um teatro dos dois, de Ramiro até já ter percebido que o compromisso do menor era uma mentira, era grande.

Kelvin não pôde evitar um riso genuíno e contagiante diante disso tudo. 

A risada parecia tão libertadora que o sorriso que surgiu nos lábios do mais velho foi involuntário. Era como se uma luz tivesse se acendido nos olhos escuros ao perceber como o ruivo parecia mais confortável naquele momento do que quando se conheceram. 

E foi nesse instante que Ramiro Neves se deu realmente conta do quanto Kelvin Santana era bonito. Bonito de verdade.

— Você deve ser louco!

— Não muito!

— Nós nos conhecemos há, no máximo, três horas!

— Isso é uma eternidade!

Os olhares se encontraram e sorrisos tranquilos se espalharam, agora calmamente, pelos rostos dos dois.

— Eu te vejo esta noite?

— Eu disse que não! — revirou os olhos, uma parte de si divertida, outra meio exasperada e aquela pequena porcentagem restante só para se deliciar com a expressão confusa do cacheado.

A Rifa | AU! KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora