Capítulo Treze.

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"Ele* me ama, simplesmente. Qual de nós dois é o pior?"

(Jean-Paul Sartre.)

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Ramiro o encarou com descrença, e, apesar do rosto estar escondido em seu pescoço, foi possível notar quando suas sobrancelhas arquearam em um gesto cético. Para alguém que parecia, antes, um péssimo mentiroso, Kelvin estava se saindo bem demais, e aquela era quase a primeira vez que o mais velho o via mentir descaradamente, tornando a situação, de fato, impressionante.

Kelvin desviou os olhos, segurando um sorriso ao morder a própria bochecha, tentando disfarçar a excitação nervosa que acompanhava sua encenação, enquanto seus dedos, inquietos, beliscavam o tecido macio da camisa social do cacheado. Rodrigo hesitou por um instante, e o silêncio preencheu o corredor.

— Tudo bem, então. Mas lembre-se que todos estão, realmente, só esperando por você. Não demore muito mais, ok? — disse, esforçando-se para manter um tom reconfortante, embora a urgência em sua voz fosse evidente. Em seguida, deu uma batidinha leve e instintiva com o centro do dedo indicador, em gancho, na porta.

— Eu sei. Obrigado.

Ouviram os passos se afastando lentamente, o som dos sapatos sobre o piso diminuindo até desaparecer. O moreno permitiu-se, então, soltar um suspiro profundo, que acariciou a pele da nuca ruiva, provocando um arrepio. Ao sentir o tremor leve do corpo do outro contra o seu, o suspiro logo transformou-se em uma risada curta e admirada, quase involuntária.

Afastou-se, ainda rindo, apenas o suficiente para lançar um olhar encantado para Kelvin, que, percebendo os olhos escuros, respondeu com um sorriso dissimulado, orgulhoso. Por um momento, tudo parecia se alinhar perfeitamente.

— "Estou voltando em poucos minutos"? — perguntou Ramiro, imitando a voz do outro, com um brilho canalha.

— Exatamente. Poucos minutos, prometo.

Retrucou, com falsa inocência, enlaçando uma perna ao quadril alheio, facilitando esfregar preciso dos corpos duas, três ou quatro vezes. Não era o Neves quem estava contando. E, quando precisou reprimir os grunhidos de prazer — por mais desconexo que possa parecer —, foi que Ramiro percebeu que não fazia realmente parte daquele clichê "nunca imaginaria que ele, Kelvin, seria assim". De alguma forma, sempre soubera como o outro era e como se entenderiam. Não, melhor dizendo: não tinha conhecimento completo sobre o Santana, é óbvio, mas estava disposto a aprender e se apaixonar novamente, outra vez e mais outra vez, por tudo o que havia para descobrir sobre o ruivo desde que se conheceram.

Sentiu um desejo profundo de dizer, novamente, que o amava. Mais uma vez. Sussurraria, mesmo sem mais precisar, as palavras no ouvido do outro: "Eu te amo, Kelvin Santana". E deixaria elas escorrerem apenas entre eles. E despejaria todos os beijos possíveis na pele clara. Rosto, pescoço, peito e, por fim, nos lábios brilhosos. Mas, em verdade, conteve-se. Temia que o peso daquilo pudesse sobrecarregar o delicado equilíbrio que haviam construído.

— Pois é melhor você se apressar, quem sabe o que pode acontecer se você demorar muito... — limitou-se a dizer, com um sorriso pequeno e extasiado, a respiração pesada e a mente vagando pelo espaço entreaberto da boca do outro. Os corpos, naturalmente, responderam às carícias há algum tempo e estavam se sentindo doloridos pela falta de contato.

— Ah, então... — sem pensar duas vezes, se inclinou e beijou o cacheado, um gesto tão natural, profundo e desejado, que parecia a extensão lógica de sua conversa. — Eu acho que vou esperar para descobrir.

Soltou a frase nos lábios do outro e corou o inferior com uma mordida, puxando a pele com os dentes para, depois, sugá-la, beijá-la lentamente, e sentir os braços maiores apertando e tremendo.

A Rifa | AU! KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora