Capítulo Seis.

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"Nós somos nossas escolhas."

(Jean-Paul Sartre.)

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Angelina adentrou a sala, um sorriso gentil enfeitando seus lábios enquanto observava os homens próximos; sentia-se feliz com o rosto novo na casa, uma presença que já parecia diferente das amizades que vinham visitar seu patrão por nenhum motivo muito específico.

Com a interrupção, Ramiro mostrou uma cautela impagável no encontro das sobrancelhas, uma hesitação evidente na postura estática e tensa — cena que teria arrancado risos e deboche se o ruivo não estivesse com a mesma expressão.

Estava ensaiando mentalmente a melhor maneira de se despedir, com educação.

— Kelvin... — chamou, quase como se fosse um pedido de ajuda, dirigindo o olhar.

O outro, contrariado, caçava uma rápida desculpa para dispensar o moreno com os olhos acelerados no rosto do mesmo, mas antes que pudesse articular uma palavra, a senhora voltou sua atenção para ele.

— E o senhor Neves, vai almoçar conosco? Tenho certeza de que vai gostar da comida.

— Bem, eu acho que... — o homem começou a dizer, mas foi interrompido pelo som do telefone.

— Um momento. — o viúvo dirigiu-se ao outro lado da sala com rapidez, para atender o telefonema, já esperando que fosse de Rodrigo.

Sempre era Rodrigo. Não sabia se o agradecia ou se o matava quando ouviu a voz casual do amigo do outro lado da linha, então somente respirou fundo.

— Kel, preciso que você passe aqui o mais rápido possível. Temos alguns assuntos urgentes para resolver sobre os jogadores... Está tudo uma bagunça...

Franziu o cenho, sentindo o corpo arder como se o outro estivesse falando sobre Ramiro em sua casa, ou melhor, como se estivesse vendo a situação com seus próprios olhos.

— Rodrigo, eu estou almoçando. Você sabe disso. Não pode esperar até eu terminar?

O advogado hesitou por um momento antes de responder.

— Você sempre levanta com o pé esquerdo mesmo ou aconteceu algo dessa vez? — provocou, lançando um "touché" indireto.

Como resposta, ouviu o amigo bufar do outro lado da linha, sem saber que Kelvin sentia seu próprio rosto ficando quente, talvez até vermelho. De raiva, sim. Definitivamente era raiva.

— Não, não aconteceu nada. Estou ocupado aqui. Vou passar no seu escritório quando puder. — retrucou, desligando o telefone com um movimento brusco.

A fala tinha sido tão rápida que, definitivamente, Rodrigo não tinha entendido; e, se tinha entendido, compreendeu também que estava certo sobre algo estar acontecendo.

Ao retornar, inquieto e pisando duro, encontrou Ramiro sentado à mesa posta, ao lado de Giulia, que balançava as pernas pequenas com impaciência enquanto falava sem parar, animada.

O ruivo tomou seu lugar, tentando disfarçar a leve tensão que o alcançou, a irritação que ameaçava borbulhar sob a superfície calma que tentava manter. Suas palavras pareciam ter sido completamente desconsideradas.

Evidentemente, não queria causar uma cena, especialmente na frente da pequena.

A única opção que lhe restou foi observar discretamente a conversa da filha com o cacheado. Ele é quem mais parecia a verdadeira criança ali quando sorria grande e estúpido, concordando com qualquer opinião da ruivinha sobre abolir picles.

A Rifa | AU! KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora