Capítulo Doze.

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"Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências."

(Jean-Paul Sartre.)

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A pequena sala adjacente ao salão de festas principal era muito abafada, opressiva, e Kelvin, sentado no canto, sentia o peso do nervosismo crescer a cada segundo com aquilo. Até tinha concordado com a ideia do seu advogado, mas agora, que "o grande momento" estava se aproximando, ela parecia terrível. Mais do que terrível.

O medo apertava seu peito. O calor do lugar fazia com que gotas de suor escorressem pela testa, e ele temia que isso afetasse a sua maquiagem leve — a mesma que escondia as olheiras, dava um toque saudável à sua pele, adicionava um brilho tentador aos seus lábios, mas não fazia nada para acalmar os nervos que pulsavam.

Estava, além do mais, impecavelmente vestido. Uma camisa de seda branca, de colarinho francês e mangas longas, que, por muito pouco, ainda não colava-se à pele suada. Um blazer azul-índigo, em alfaiataria de alta qualidade e de comprimento intermediário. Calças sociais, pretas, ajustadas de forma quase cruel, que realçavam cada contorno de suas pernas. Peças escolhidas meticulosamente, que não deixavam dúvidas de que ele estava sendo oferecido como um prêmio para os olhos que o aguardavam do outro lado da porta.

A pressão no peito aumentava, por isso evitava pensar nesse verdadeiro propósito da noite. 

O tempo parecia se arrastar. Olhou ao redor, procurando algo — qualquer coisa —, que pudesse distraí-lo de seus pensamentos ansiosos. Havia um espelho na parede. Encarou seu próprio reflexo. Bonito, perfeitamente arrumado, mas não gostava do que via. 

Tentava convencer a si mesmo de que poderia passar por aquilo, tentava encontrar algum vestígio de coragem em seus próprios olhos. De onde vinha tanto medo? Os últimos dias nem tinham sido tão terríveis assim. Tudo seria rápido e indolor, apenas uma formalidade.

O som abafado das músicas com blue notes, o tilintar das taças de cristal e as conversas no salão penetraram a sala, ecoando em seus ouvidos, quando a porta se abriu e uma voz o chamou.

— Está na hora, Kel. — disse Rodrigo Pinheiro.

Caminharam em direção ao salão. Ao cruzarem a entrada, o burburinho das conversas aumentou momentaneamente antes de diminuir. Todos os olhos, de homens ricos, voltaram-se para eles.

O ruivo procurou discretamente por um par de orbes escuros, específicos, mas não o encontrou entre a multidão.

Tudo no espaço exalava grandeza e elegância, desde os arranjos de milhares de pequenos prismas de cristal no alto teto até as mesas alinhadas em filas organizadas, cobertas por impecáveis toalhas brancas, repletas de pessoas bem-vestidas.

Passaram pelas primeiras mesas, onde cumprimentaram discretamente poucos convidados. Os sorrisos eram corteses, os cumprimentos breves, enquanto se dirigiam a uma parte mais elevada do salão, quase como um palco, acessível por uma pequena escadaria.

— Você está se saindo bem. — sussurrou o amigo em seu ouvido, antes de se afastar, e Kelvin assentiu. — Boa noite a todos! O senhor Santana, nosso anfitrião, terá o prazer de se juntar a vocês em cada mesa para uma conversa pessoal... Por favor, desfrutem das bebidas e da companhia. O jantar será logo anunciado. Sintam-se em casa.

Era evidente que a fala havia sido combinada, mas o ruivo ainda assim sentiu-se enjoado e manteve-se sério, impassível. E logo, dentro de pouquíssimo tempo, movia-se pelo salão, dirigindo-se as mesas estrategicamente selecionadas, as dos jogadores que ainda não haviam se encontrado a sós com o mesmo. 

A Rifa | AU! KELMIROOnde histórias criam vida. Descubra agora