"Se amo essa bela voz é sobretudo por isso: não é nem por seu volume, nem por sua tristeza; é porque ela é o acontecimento que tantas notas preparam [ ... ]."
(Jean-Paul Sartre.)
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— É, seria incrível... — Ramiro concordou, seus dedos traçando padrões imaginários nas costas de Kelvin. — Mas o que te impede?
Na penumbra da sala, encontravam-se novamente, mais uma noite, como se fosse a coisa mais natural do mundo, como se não houvesse preocupações e as lembranças do baile de duas noites atrás não passassem de um encontro comum de um casal apaixonado. Eles haviam caído em uma rotina doce, e Ramiro era um dos grandes, se não o principal, culpado por aquilo.
Enquanto conversavam, desvendavam sonhos e desejos guardados; falavam sobre coisas que sempre quiseram fazer, mas nunca tiveram a oportunidade ou coragem de realizar: Kelvin falava sobre viajar pelo mundo, explorar culturas diferentes.
— Eu não posso fazer isso porque... Bem, Frank sempre dizia que não era uma opção. — soltou o nome, que já não lembrava muito bem como soava em seus lábios, enquanto conversavam naturalmente, relaxado e desarmado pela presença tranquilizadora do outro.
E ergueu a cabeça ligeiramente, receoso, esperando talvez uma reação forte. No entanto, Ramiro apenas olhou para ele de volta, sereno.
Estavam no sofá da casa do moreno, que, escorado no braço do sofá, sentado confortavelmente — uma perna dobrada sobre o móvel enquanto a outra tocava o chão — tinha Kelvin, por sua vez, deitado em seu abraço, com a cabeça recostada em seu ombro e o corpo aconchegado contra o seu peito.
— Frank? — perguntou, mesmo sem reconhecer o nome, porque parecia que era isso que os olhos dourados pediam para ele fazer.
O outro soltou o ar, meio estranho, meio impressionado. Era raro encontrar alguém em Nova Primavera que não conhecesse ao menos seu nome.
— Você não sabe quem ele é? Frank... Meu ex-marido? — perguntou, meio incrédulo.
Ramiro apertou levemente a cintura de Kelvin, oferecendo um conforto silencioso.
— Nunca ouvi falar dele. — confessou.
— Ele era bem conhecido na política local...
O cacheado deu de ombros discreto, um sorriso suave nos lábios.
— Nunca me envolvi com política local. Sempre achei muito suja... Com todo respeito. — acrescentou, sorrindo, enquanto o outro ria. — Preferi me manter afastado.
Concluindo seu pensamento, observou as linhas de tensão suavizarem no rosto do ruivo, que relaxou novamente, aninhando-se ainda mais no abraço. O moreno se manteve firme, temendo que qualquer movimento abrupto pudesse romper a tranquilidade: Kelvin, aos poucos, revelava mais um carinho manhoso, deixando escapar gestos de afeto e Ramiro realmente gostava disso. Gostava, mesmo que uma vozinha em sua cabeça alertasse para não criar expectativas, pois o outro, assim que percebesse sua própria vulnerabilidade, se constrangeria e fingiria irritação, como sempre.
— Mas quem ele era? Tipo, além de político... Quem ele realmente era? — perguntou, a voz curiosa e suave. Olhava para um ponto específico entre o teto e a parede neutra quando Kelvin suspirou, seus dedos brincando com a barra da camiseta do mais velho.
— Não sei. — de uma forma que fez seus lábios tremerem levemente.
— Você não disse que ele era seu marido? — Ramiro franziu o cenho, intrigado, inclinando a cabeça para observar melhor o outro. Kelvin mordeu o lábio inferior, um peso invisível sobre seus ombros.
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A Rifa | AU! KELMIRO
FanfictionKelvin Santana, ao perder o marido, descobre todos os podres do antigo parceiro, incluindo a enorme quantidade de dívidas que ele deixou. Desamparado no mundo, com uma filha pequena para cuidar e muitas contas para pagar, se vê obrigado a tomar a de...