Sombra Eterna: A Dor Da Imortalidade - Crônicas Vampirescas

Sussurros

-Você já experimentou o amor, Louis?-Perguntei, olhando para o vampiro com uma mistura de curiosidade e fascinação. Seus olhos brilharam levemente, enquanto um sorriso sutil brincava em seus lábios, mesmo sem ele me encarar diretamente.

-Depois de tudo que lhe contei, acha que não?-Ele riu sensualmente, com uma calma que contrastava com a intensidade de sua história. Sua voz carregava séculos de experiência e sabedoria, e eu me senti ligeiramente desconcertado, como se estivesse diante de algo além da minha compreensão humana. Enquanto eu tentava reunir coragem para prosseguir, Louis parecia imerso em suas próprias lembranças, perdido em algum lugar entre o passado e o presente.

O silêncio pairou entre nós por um momento, preenchido apenas pelo som distante da cidade lá fora. Eu podia sentir o peso das palavras não ditas, as histórias não contadas que se acumulavam ao redor desse ser imortal diante de mim. E então, com um suspiro suave, Louis finalmente continuou, sua voz carregada de memórias antigas e emoções profundas

-Certamente amei Cláudia, um amor fraterno, a tinha como minha filha, embora muitas vezes ainda ache que ela não me tinha como um pai, apenas como um de sua especie, não sentia que ela me amava como eu a amei, com a mesma intensidade e dedicação, me dói pensar isso, mas é a verdade. Mesmo depois de tantos anos após sua morte ainda penso em minha filha, assim como penso em meu irmão e irmã, em minha mãe, em Lestat...

Seu olhar vagou para além da janela, como se contemplasse o infinito de suas memórias imortais, seus cabelos levemente desalinhados pela brisa noturna. Continuou com um tom monótono, como se visse o passado distante.

-Certamente amei Lestat. - Começou Louis, sua voz carregada de uma sinceridade melancólica.

- Veja bem, sei que em muitos momentos de meu relato disse que odiava, que sentia repulsa por seu modo de ser, mas a ligação que mantivemos por tantos anos não se baseava unicamente no ódio. O ódio, afinal, não sustenta uma conexão tão duradoura. - O vampiro pausou por um instante, como se buscasse as palavras adequadas para expressar a complexidade de seus sentimentos.

- Durante anos, enganei a mim mesmo, acreditando que minha permanência ao seu lado era por Cláudia. No entanto, percebi que não dependíamos dele para nossa existência.-Um suspiro escapou dos lábios de Louis, enquanto ele permanecia imóvel, os olhos fixos no luar que iluminava o ambiente.

- De certa forma era um amor doentio, tóxico, uma dependência, era isso que me ligava a Lestat, um amor tóxico e dependente, mas era uma forma amor, e eu sinto falta disso, constantemente. Eu... Eu sinto falta dele.- Um leve sorriso curvou os lábios do vampiro, revelando brevemente suas presas afiadas. Seu olhar encontrou o meu, transmitindo calma e gentileza. Pude jurar que vi seus olhos se encherem de lágrimas, mas ele virou o rosto.

-Certamente, vivi intensos amores ao longo dos séculos. Entretanto, percebo que sua pergunta vai além desses laços, não é? Já me enamorei por várias mulheres, tanto antes quanto depois de minha imortalidade. Apaixonei-me por mortais que, ao descobrirem minha verdadeira natureza, me lançavam maldições, desejando meu retorno às profundezas infernais de onde emergi. Tal constatação pode ser dolorosa para um coração tão afeito ao ardor da paixão, Mon ami. Por um lapso temporal trocávamos olhares cúmplices, enviava-lhes flores, doces, vestidos luxuosos, galanteios elogiosos, mas quando nossas peles se uniam... Bem, não há como esconder minha pele gélida e nem minhas presas por muito tempo, elas inevitavelmente as percebiam e me exortavam a retornar às hostes infernais. Isso abalava meu coração, talvez mais do que deveria. Eu tinha que fugir, não me via capaz de infligir-lhes mal algum, então fugia por alguns anos até que os boatos se acalmassem. - O vampiro fitava-me àquela altura, e juro que pude discernir uma melancolia latente em seus olhos centenários.