Depression & Dependency

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Aviso: Este capítulo contém representações de crises de ansiedade, depressão e automutilação. Se você é sensível a esses temas, recomenda-se pular essas cenas. Em caso de necessidade de tratamento psicológico, procure ajuda de um profissional qualificado.

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— Eu já lhe disse que incendiei o corpo de Sofi. Arrastei-a até a varanda da minha casa e assisti enquanto suas chamas consumiam lentamente sua forma, reduzindo-a a cinzas. Fiquei apenas observando sua carne se desfazer aos poucos, sua pele alva e delicada soltando-se de seu corpo enquanto as chamas invadiam cada pedaço de seu ser, seus cabelos negros e brilhantes, seus ossos, tudo virando... pó. Sem perceber eu murmurava preces, lhe implorava por perdão, eu estava me despedindo para sempre.

— As chamas se extinguiram, deixando subir uma fumaça escura e fétida que impregnava minhas narinas, quase impedindo minha respiração. Caminhei até lá, com passos incertos, abaixei-me e contemplei a cena por longos segundos: ali jazia um colar, abandonado, sem mais um pescoço macio para adornar. Guardei-o no bolso e passei as mãos entre as cinzas, sentindo as últimas partículas de minha amada Sofi. Naquele momento, a dor trespassou meu peito como lâminas afiadas. Cerrei os dedos sobre as cinzas e a grama; desejei gritar, lançar ao mundo minha angústia, mas me calei. Tomei um punhado daquelas cinzas e aproximei-as do rosto, arrependido naquele momento, apesar de tudo. Sabia que tinha feito o melhor, mas o arrependimento me abraçava como um algoz implacável. Espalmei as mãos sujas em meu rosto, arrastando os dedos com força, ansiando que uma parte de Sofi ficasse eternamente marcada em meu âmago. Por fim, peguei um punhado de suas cinzas e as espalhei pela floresta, enquanto testemunhava o desaparecimento do meu grande amor pelo ar, em um rastro de poeira.

— Em meio ao caos, eu ainda acreditava que Sofi tinha sido meu amor, cegado pela dependência que cultivamos. Não foi só com ela; minha relação com minha filha Cláudia, com... Lestat. A dependência sempre esteve presente, uma sombra escura em todas as minhas relações.

— Quando o sol começou a nascer, eu desisti. Desisti da morte, por motivos que desconheço, talvez covardia, talvez por medo, não sei dizer. Retornei à minha casa, um redemoinho de desordem que me atormentava, mas consegui chegar ao meu quarto e me enterrar em meu caixão, creio que fiquei vários dias lá dentro, eu acordava e passava longos momentos chorando e me lamentado, eu buscava entender o motivo de tudo aquilo, mas não conseguia. A solidão começou a me consumir novamente, como um parasita, me sugando silenciosamente até que não me restasse mais nada. Sei que em algum momento eu me levantei, quando a sede queimava minhas garganta e revirava minhas entranhas. Foi apenas a sede de sangue que conseguiu me fazer reagir, e depois disso minhas memórias são um borrão. Afundei-me em álcool e sangue, matando muitos, uma época de terror.

— O sangue saciava meu vício quase luxurioso, um prazer que temporariamente me entorpecia, o gosto metálico aliviando a dor e me enchendo de puro prazer. Quando não estava embriagado de sangue, embriagava-me de álcool, desejando apenas entorpecer minha mente. Eu não aguentava mais pensar no que havia feito. Eu havia matado minha companheira, eu havia matado Lestat, eu havia matado os outros vampiros, eu me sentia culpado pela morte de Cláudia. Minha existência tornou-se um ciclo interminável de morte e dor. Cada passo que eu dava deixava um rastro de destruição e morte, eu estava cansado. Os pesadelos vinham todas as noites, torturando-me com a imagem dilacerante de Sofi, seu corpo consumido pelas chamas que eu mesmo acendi. Aquelas memórias me assombravam sem trégua, e o peso da culpa era sufocante.

Sombra Eterna: A Dor Da Imortalidade - Crônicas VampirescasOnde histórias criam vida. Descubra agora