CAPÍTULO 36

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                 KYARA VALENTINI

   Sinto um tremor percorrer todo o meu corpo enquanto abro os olhos devagar. A luminosidade do quarto me faz piscar e fechar os olhos rapidamente, tentando me acostumar com a claridade. Não sei quanto tempo fiquei desacordada. Tudo o que lembro é do rosto de Nikolai, a dor que eu estava sentindo. Quando finalmente acordei, me senti confusa e desorientada. A luz do sol entrava pela janela, iluminando a poeira dançante no ar. Aos poucos, minha mente começou a se clarear e, lentamente, as lembranças do acidente voltaram.

Eu abro os olhos lentamente e sinto uma forte luz invadir meus olhos. Tudo está embaçado no início, mas aos poucos minha visão começa a se acostumar com a claridade. Percebo que estou em um quarto de hospital, com máquinas e tubos ao meu redor.
Lembrei-me da sensação de estar sendo puxada para baixo, minhas forças indo embora, da água fria invadindo meus pulmões e da sensação de desespero que tomou conta de mim.

A voz suave da enfermeira ao meu lado me traz de volta à realidade.

—  Kyara, você está acordando. Como se sente?
Minha voz parece rouca, e as palavras saem com dificuldade.

—  Onde... onde estou?

— Você está no hospital, Kyara. Aconteceu um acidente, mas você está segura agora.

— Quanto tempo eu fiquei desacordada? — pergunto, tentando me situar no tempo e no espaço.

— Foram quatro semanas , Kyara. Você estava em coma, mas agora está fora de perigo.
Tento me lembrar das coisas, mas estava tudo confuso.

Quero levantar, mas sinto fraqueza em meus membros. Tudo parece mais difícil, mais pesado do que antes. Enquanto a enfermeira ajusta os tubos e fios que me ligam à máquina ao lado da cama, meu olhar se fixa na janela, onde a luz do sol começa a se filtrar timidamente.

Respiro fundo, sentindo o ar encher meus pulmões e me trazer de volta à vida. Me vem um fleche de memória, eu tentando buscar pelo ar mas não conseguia, o desespero, a água tomando conta dos meus pulmões.

A enfermeira diz algo mas eu não presto atenção, fecho os olhos e adormeço novamente.

Acordo novamente, sentindo uma dor intensa no peito e uma sensação de fraqueza por todo o corpo. Minha mente está confusa, tentando lembrar do que aconteceu. Olho pelo quarto  e vejo minha mãe.

Ela corre em minha direção, com os olhos marejados de lágrimas. Sua expressão de alívio e felicidade ao me ver acordada me emociona profundamente. Ela segura minha mão com força, sem conseguir conter as lágrimas.

— Minha filha, você acordou. Você está bem? — ela diz, com a voz embargada.

Eu tento falar, mas minha garganta está seca e minhas palavras saem fracas e desconexas. Minha mãe me abraça forte, aliviada. E eu sinto uma mistura de gratidão, alívio e confusão. Eu tinha desistido de lutar, mas agora nós braços da minha mãe, eu sinto um alívio por esta viva. Eu quero continuar viva, tenho tantas coisas que eu quero fazer, tantos lugares que quero conhecer...eu quero ter a oportunidade de ser feliz, de deixar tudo que passei para trás e ser feliz.

— Eu tive tanto medo de perdê-la. Eu não suportaria peder você — Minha diz chorando.

— Eu tô bem — Digo baixo.
Não estava com muito força.

— Agora vai ficar tudo bem.

O médico veio me ver, me fez algumas perguntas, e disse que iria fazer novos exames.
Quando estava  comendo me lembrei de algo.

— O que foi ?
Minha mãe questiona me olhando preocupada.

Meus olhos estavam ardendo pelas lagrimas que queriam sair.

— Helena...ela...

— Ela esta bem. Esta em casa.
Solto um suspiro de alívio.

— Eu pensei que ela estava...
Nem conseguia terminar falar.

— Eu sei meu amor. Mas agora ela está bem, você está bem, não pensa mais em nada.
Ela me dá uma beijo na testa.

Após comer, meu pai veio me ver. Ele me abraçou, ficou por uns minutos abraçado a mim. Seus olhos estavam lacrimejando.

— Onde ele está?
Pergunto depois de um tempo.

— Não consegui falar com ele. Nenhum de nós, mas ele vai vim a tarde, ele sempre vem — Meu pai diz.
Assinto.

A cada minuto que se passava, e a noite ia caindo eu ficava inquieta, esperando por Lorenzo. A cada minuto que passava, minha ansiedade só aumentava. A noite chegou, e eu acabei dormindo.

Meu sono não estava tão pesado, então ouvi a porta do quarto sendo aberta. Ouço seus passos chegando perto da cama. Ele se senta na poltrona e suspira fundo.
Abro os olhos e o vejo de cabeça baixa, com as mãos na cabeça.

— Lorenzo — O chamo baixo.

Ele me olha com a testa franzida. Meu confuso. A expressão de alívio toma seu rosto. Ele se levanta e me abraçou com força, como se nunca mais fosse me soltar. Eu me senti segura e protegida em seus braços. Ele era meu porto seguro, minha âncora neste mar agitado de incertezas.

— Você não me deixou, anjo — Ele falar com uma voz diferente.

— Eu nunca vou te deixar — Digo firme.
Ele desfaz o abraço e me encara.

— Pensei que tinha te pedido — Seu olhar e sua voz estavam repleto de dor.

— Me perdoa. Eu deveria ter protegido. Eu falhei.

Culpa.

Sua voz estava cheia de culpa.

— Você não pode me proteger sempre. Até os heróis acabam deixando algumas pessoas se ferirem. Você é humano, não tem o poder de me proteger, de não deixar nada me acontecer.

— Mas eu tenho que tentar — Ele segura minha mão.

— Nunca tive medo de perder ninguém na vida. Mas eu tive medo de perder você — Ele fecha os olhos com força, parecendo estar em uma briga interna.

— Não vou conseguir te amar normalmente, não vou poder te dar um amor normal, mas se você aceitar, posso dar o meu amor....diferente, fodido. Mas eu posso te dar. Se você aceitar.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Eu assinto.

Ele chega o seu rosto até o meu, e me dá um beijo carinhoso.

— Eu te amo — Sussurra contra meus lábios.

LORENZO VALENTINI- MÁFIA 'NDRANGHETA Onde histórias criam vida. Descubra agora