O jogo da conquista

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O primeiro mês de gravação passou arrastado. A coisa está mais louca do que imaginava, eu e Hailee temos passado de dez a quatorze horas dentro do estúdio gravando e regravando cenas incansavelmente. Pedi aos produtores um final de semana de descanso, não é preguiça de trabalhar, mas nem sempre quantidade é qualidade.

Ainda não falamos sobre aquele beijo. Estamos tão exaustas e sem tempo pra qualquer coisa que não conseguimos trocar uma palavra desde então. Hailee também anda bem estressada, talvez seja melhor deixar isso pra depois.

Acordei cedo e fui correr um pouco na beira da praia, nossa casa em LA tinha esse privilégio. Era a primeira vez em um mês que pisava aqui. Quando volto encontro Hailee na varanda tomando um suco e revisando as falas da próxima gravação.

—Isso vai te matar.

—E como você poderia saber?.

—Porque já quase me matou.

Houve um silêncio, Steinfeld me fita curiosa.

—Você é um ser humano, precisa descansar Hailee.

—Como se eu fosse ouvir conselhos de alguém como você.

Rio cansada. Nunca fui de me importar com essas opiniões, contudo, a opinião de Steinfeld importa. Hailee importa.

—Qual seu problema comigo, en?.

—Muitos. -seu olhar debochado me desafia.

—Diga. Quero ouvir todos eles.

Notei por sua postura que aquela era a oportunidade que esperava, como se desejasse jogar tudo na minha cara desde o primeiro dia que me conheceu.

—Você é acomodada.

—Só isso? Que decepção. -ironizo.

—Não têm ambições, não luta por nada! Se contenta com uma vida fútil de sexo e bebidas e se deleita na ideia de que dinheiro é tudo que importa. Poderia ter dois Oscar se quisesse, mas não, prefere ficar por aí transando ao invés de focar na sua carreira e se consagrar. É ridículo como você se contenta com tão pouco.

—Uau, parabéns, aprendeu bastante com minha mãe.

Ela solta o ar com força. Se aproxima e tenta pegar minha mão, mas me afasto.

—Me desculpa.

—Já fui como você e não vale a pena. Não acha cansativo? Por que pra mim foi extremamente cansativo essa auto cobrança toda. Eu sou talentosa Hailee, sou boa nas coisas que faço naturalmente não preciso me esforçar pra chegar lá.

—É isso que me dá raiva Bridgett! Qualquer um consegue ver isso, você é excepcional sem fazer esforço, nunca pensou no que poderia se tornar se colocasse um pouquinho só de dedicação?.

—Pra que? Eu tenho tudo!.

—Pelo prestígio, pra alcançar seu potencial máximo! Pra ser a melhor que você pode ser, e sinceramente? Você pode ser a melhor dos melhores, mas simplesmente não quer!.

—Aaah, agora eu entendi. Você sente raiva por que me vê desperdiçando o que você aproveitaria loucamente.

—Claro! Você tem o mundo nas suas mãos, mas não quer conquista-lo. Eu não entendo, simplesmente não entendo.

—Sou perfeita desde muito nova, destaco-me em todas as atividades, uma ora cansa sabe?. Não quero conquistar o mundo por que sei que conseguiria, não tem nenhuma emoção nisso.

—Você é incrivelmente fútil.

—É essa futilidade que me mantém viva! A ignorância é uma benção Hailee. Quando você sabe demais, quando você conquista demais... a vida perde a graça, você se mata e no final não vale a pena. Eu escolhi viver em paz. Todos esses prêmios, esse prestígio, no fim não valem de muita coisa, gosto da sensação de ser adorada, mas não é isso que me faz dormir em paz.