Apenas seguindo as regras

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Diego Souza

01/03/24 – Los Angeles

Já havia se passado quase um mês desde o almoço definitivamente memorável com Lissandra, e, desde então, Maximilian parecia estar descendo em espiral. Estressado, paranoico e mais maluco do que nunca, ele praticamente explodiu no momento em que saímos do restaurante. Mandou meu pai vasculhar cada mínima conexão de qualquer pessoa com sua mãe e, sem hesitar, instruir que fossem dispensados, mesmo que fossem peças importantes do projeto.

Maximilian estava insuportável. Passava mais tempo trancado no escritório do que respirando ar fresco, saindo apenas para reuniões que ele julgava inadiáveis – e mesmo nelas, parecia sempre a um passo de perder a paciência com o mundo. Atrás daquela expressão cética e da postura ereta como uma coluna de mármore, era evidente o desgaste: olheiras profundas, humor pior que o habitual, e uma rigidez que fazia o ar ao seu redor pesar.

Eu sabia que ele mal dormia. Afinal, toda vez que eu chegava em sua casa, mesmo fora dos horários combinados, ele não estava descansando ou, sei lá, assistindo a um filme. Não. Ele estava invariavelmente na academia do subsolo, suando como se o mundo dependesse disso, ou em mais uma de suas reuniões intermináveis.

E como se a pressão de manter a empresa em ordem já não fosse suficiente, ela não dava sossego. Lissandra, em toda a sua glória manipuladora, havia colocado Irina como uma sombra estilosa e permanentemente presente ao redor de Maximilian. Isso só piorou as coisas. Agora, Max estava em todas as páginas de fofoca, apresentado como o mais novo "affair" da modelo russa.

- Affair, claro. Porque ele é mesmo o tipo de cara que vai cair de amores por uma mulher que a mãe dele arranjou... - murmurei, revirando os olhos enquanto lia mais uma manchete ridícula no celular.

Os colapsos nervosos de Maximilian estavam se tornando tão frequentes que ninguém mais se surpreendia. Ele andava tão à flor da pele que Gavin, precisou intervir. Mais de uma vez, Gavin me acompanhou em reuniões para evitar que Max perdesse a cabeça com algum parceiro importante. Sim, porque Max estava a um passo de começar uma guerra internacional por causa de um acordo mal alinhado ou de um comentário fora de hora.

E não eram só os parceiros que sofriam. Eu tentava ao máximo filtrar os candidatos à minha vaga para evitar confrontos desnecessários. Não adiantava muito. Max sempre encontrava algo para reclamar, e alguns encontros foram especialmente desastrosos.

Como o caso do Lucca. Ah, Lucca... O garoto, claramente mais fã do que candidato, decidiu atravessar o lado proibido da mesa e ficou ao lado de Maximilian, colocando os documentos no espaço pessoal dele e, em um ato de coragem (ou pura burrice), encostou no ombro do Rei do Não-Me-Toque enquanto explicava seus dados.

Ousado demais.

Não deu outra. Maximilian levantou o olhar lentamente, como se ponderando se um simples olhar bastaria ou se ele precisaria mandar segurança remover o garoto. Lucca saiu correndo da sala - e provavelmente da empresa - antes que Max pudesse decidir.

Depois disso, meu pai e Gavin intervieram de novo, sugerindo - com um tom que parecia mais uma ordem - que pausássemos temporariamente a busca por um substituto. "Max está insuportável", Gavin disse. "E você está sobrecarregado, Diego."

- Grande novidade... - resmunguei, jogando a cabeça para trás enquanto o calor das luzes do escritório parecia me engolir.

Eu não estava reclamando nem um pouco de o processo de seleção ter sido adiado por alguns dias. Na verdade, era quase um alívio. Isso porque eu tinha me enfiado de cabeça em todos os dados que me liberaram sobre o Projeto Nexus. Era como uma obsessão: cada mínimo detalhe do projeto me fascinava mais e mais.

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