Apenas... parte do trabalho

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Maximilian White

13/02/24 – Los Angeles

Eu me sentei na cadeira de couro marrom, ajustando o paletó, já pensando em como sair dali o mais rápido possível. A sala estava decorada para parecer acolhedora, mas eu só conseguia ver um monte de objetos inúteis tentando me fazer sentir à vontade. Claro, como se uma mesa com pedras zen e uma pequena fonte de água me.

- Como vai, Maximilian? - disse o terapeuta, um homem mais velho com cabelos brancos, pele parda e óculos redondo, com aquele tom suave e profissional. Ele parecia calmo demais, como se já soubesse que eu ia enrolá-lo por uma hora - Muito bom te rever após um mês.

- Bem - respondi, já pegando impulso. - Aliás, a White's Corp. está indo muito bem, obrigado por perguntar. Demos início oficialmente ao projeto Nexus, que, como eu mencionei antes, é basicamente a revolução do marketing digital. Estamos falando de uma nova era de interatividade entre marcas e consumidores, usando realidade aumentada para transformar a experiência de compra - dizia de forma seria apenas para passar o tempo que eu era obrigado a estar ali - os consumidores poderão interagir com os produtos diretamente de seus celulares, personalizar cores, tamanhos, e visualizar tudo em 3D em seus próprios ambientes.

Ele piscou devagar, como anotando algo em seu caderno.

- Interessante. Mas... por que você está aqui, Maximilian? - perguntou, deixando a caneta repousar sobre a prancheta. Parecia que ele esperava algo além do relatório - Já fazem seis meses que estamos aqui e já me sinto como um sócio da White's.

- Já falamos sobre isso Dr. Davis, só estou aqui a pedido do meu pai - Falei, quase como se estivesse confessando um crime. - Ele me obriga a vir aqui. Disse que, se eu não viesse, eu teria que ir a todos os eventos da empresa. Festas, coquetéis, jantares. Não preciso te dizer o quanto eu odeio essas coisas.

O terapeuta apenas ergueu uma sobrancelha.

- Então você prefere sessões de terapia a eventos sociais?

- Exato. - Inclinei-me para frente, cruzando os braços como se fosse óbvio. - Eu prefiro qualquer coisa a eventos sociais. Aliás, se você soubesse o quanto eu detesto estar preso num salão cheio de gente tentando falar sobre "inovações disruptivas", você também escolheria isso aqui.

Ele esboçou um sorriso leve, provavelmente achando que eu estava brincando. Mal sabia ele que eu estava falando sério. Eu daria palestras sobre estatísticas de mercado se isso significasse evitar uma sala cheia de CEOs egocêntricos tentando me vender algo que já sei.

- Certo. Mas o que o seu pai acha que você precisa resolver aqui?

Levantei uma sobrancelha, me fazendo de desentendido.

- Resolver? Não há nada para resolver. A empresa está indo bem, eu sempre estou indo bem. Há atualmente apenas uma pedra no meu sapato.

- Diego? - Perguntou ele como se fosse obvio e eu franzi o senho respondendo em desconfiança.

- Está me perseguindo Davis?

O homem apenas abriu seu caderninho com a calma de quem sabia que estava prestes a apertar um botão sensível. Ele folheava as páginas enquanto eu observava, desconfiado, cruzando os braços.

- Na última vez que esteve aqui, você me descreveu Diego como - ele fez uma pausa, ajustando os óculos para ler melhor - "insubordinado, teimoso e com uma habilidade irritante de prever exatamente o que você precisa antes mesmo de você pedir."

- E é verdade! - Interrompi, erguendo uma das mãos, como se isso encerrasse a questão.

- Espere, tem mais - Davis continuou ignorando minha tentativa de fugir do assunto. - Também mencionou que ele tem uma postura irritantemente confiante, que se recusa a abaixar a cabeça para você e que, de todas as pessoas com quem você trabalhou, é o único que consegue argumentar e, frequentemente, ganhar.

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