02.05 | Love

28 4 0
                                    

MARINETTE

─ Acho muito bom que você tenha decidido ir a um psicólogo ─ Disse minha mãe sorrindo, enquanto me entregava um croissant fresquinho da padaria.

─ Só estou fazendo isso a pedido de um amigo.

─ Ainda bem que tocou no assunto. Você ainda não me disse quem é esse seu amigo.

─ É só um amigo do trabalho. Você não conhece ─ Não era uma total mentira, já que nós estávamos trabalhando juntos.

Caminhei até o sofá, onde tinha deixado minha bolsa e a abri, dando uma rápida olhada lá dentro para conferir se não tinha esquecido nada.

─ De qualquer forma, é muito bom que esteja fazendo isso ─ Sorriu e camimhou comigo até a porta.

─ Tchau, mãe.

─ Tchau. Depois quero saber o que te falaram.

Apenas sorri e dei as costas, caminhando com a bolsa em meu ombro.

Tinha deixado meu cabelo solto mesmo e como ainda estava molhado - acabei não tendo paciência para secar e ainda estava atrasada - algumas gotas de água pingavam na minha blusa.

Caminhei até a estação de metrô e não precisei esperar muito, diferente da maioria das vezes que decido usar qualquer meio de transporte público.

Não tinham muitas pessoas lá, então me sentei no primeiro banco que vi desocupado e peguei meu livro. Naqueles últimos dias, parecia que o universo tinha decidido se voltar contra mim, e o que me mantinha calma, eram músicas e livros, então pode-se dizer que na maior parte do meu tempo livre - que não era muito, por sinal - eu estava lendo ou ouvindo alguma música que a Alya denominava como “As músicas depressivas da Marinette”

Acabei pensando bastante no que Chat Noir tinha me dito. Ele se importava comigo, e aquilo era uma daquelas coisas que você só não percebe caso seja burro.

Eu não queria estar ali naquele metrô - mesmo que ele estivesse praticamente vazio - naquele dia, naquele horário e nem em nenhum outro dia. Eu só queria estar deitada na minha cama tomando sorvete e assistindo alguma comédia romântica da netflix enquanto dizia repetidas vezes à protagonista que ele não a amava de verdade e que a faria sofrer.

Mas saber que meu parceiro se importava tanto comigo a ponto de ele próprio marcar uma consulta com um psicólogo ótimo para garantir que eu vá... De certo modo, aquela simples ação mexeu comigo e me fez ir.

As portas do metrô se abriram e levantei meu olhar, dando uma pausa na leitura. Vi um senhor entrar e se sentar no banco ao meu lado. Por um instante pensei que aquilo não era possível. Sorri para mim mesma, feliz em vê-lo, mesmo que ele não tivesse muitas memórias ao meu respeito.

Depois de esquecer tudo relacionado aos miraculous e se mudar para a Inglaterra para viver com Marianne, Mestre Fu e eu não mantivemos contato, então eu duvido que ele tanha mais do que cinco lembraças ao meu respeito.

─ Com licença ─ Me chamou ─, mas a senhorita me parece bastamte familiar... Nos conhecemos?

─ Ah, sim. Nós éramos... Amigos.

Ele sorriu de volta, balançando a cabeça.

─ Infelizmente não me recordo de muita coisa... Mas foi você que me trouxe a estação de metrô quando fui à Inglaterra, não foi?

─ Sim, fui eu.

─ Nesse caso, é muito bom revê-la... ─ Parou de falar, esperando que eu dissesse meu nome.

─ Marinette.

Ele pode não saber, mas encontrá-lo ali, e saber que ainda se lembrava de mim - mesmo que sem muita clareza - foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias e saber que Mestre Fu estava bem, que agora tinha uma casa e era feliz junto com Marianne me deixou feliz por ele.

***

A mulher de cabelos loiros me acompanhou até a porta de sua sala depois de passarmos um bom tempo conversando sobre - quase - tudo que aconteceu na minha vida nos últimos dias. Por mais que eu não quisesse admitir, lá no fundo eu sabia que a conversa com Anna - a psicóloga com a qual conversei - tinha sido muito boa.

─ Olha ─ Ela começou a falar ─, pelo que você me disse, posso dizer que acabou... Desenvolvendo filofobia.

─ Filo... O quê?

─ Filofobia.

─ Ah.

Eu não fazia a menor ideia do que aquilo significava, mas só de ouvir o nome, soube que aquilo não era uma coisa muito boa de se ter.

Apenas assenti, como se eu soubesse do que aquilo se tratava.

─ O ideal seria que voltasse aqui com mais frequência. Talvez toda semana, nesse mesmo dia e hora. O que acha?

─ Ahn... Pode ser.

A mulher sorriu e então voltou para sua sala.

Acenei para a secretária assim que passei por ela e saí do lugar, caminhando, mais uma vez, até a estação de metrô.

Esperei o meu chegar para que eu pudesse checar as mensagens do meu celular.

Luka: Marinette, tá tudo bem?

Luka: você não atende as minhas ligações...

Comecei a digitar uma mensagem, dizendo a ele como era hipócrita e que ele era um idiota se achava que eu fosse sequer olhar para a cara dele depois do que me fez, mas então apaguei tudo e simplesmente desliguei o celular sem ter lhe enviado nada.

Tinha também uma mensagem de Alix, perguntando se eu estava melhor e como tinha sido mimha visita ao psicólogo. Só respondi que eu estava bem melhor e que ela não tinha dito nada de mais.

Tá, talvez a última parte - ou até as duas - não seja uma completa verdade, mas eu nem ao menos sabia o que era essa tal de filofobia e não queria preocupar as pessoas com algo que talvez nem fosse assim tão ruim.

***

Me sentei na cadeira em frente a minha escrivaninha, ligando o computador e abrindo o google, então digitei aquela tal de “filofobia” na barra de pesquisa.

“Filofobia é um medo irracional de apaixonar-se por alguém”.

Okay. Eu esperava tudo menos isso.

Abri o site e li mais algumas coisas sobre aquilo.

Eu nem sequer sabia que esse tipo de fobia existia, então como raios imaginaria que eu poderia ter isso?

Abri outro site - um que sabia ser confiável -, onde explicava melhor sobre aquilo.

“Os sintomas são muito irregulares e variam de pessoa para pessoa. Estes incluem náusea, sudorese, respiração rápida, falta de ar, boca seca, choro, sensação de pavor, ataques e pânico e medo extremo de não ser capaz de viver de acordo com as promessas feitas. Alguns casos são graves de tal forma que o paciente não pode sequer chegar tão perto de um amante em potencial. Nesses casos graves, a mente está pensando que se apaixonar é uma ameaça de vida ou morte a tal ponto que ele, automaticamente, prepara o corpo para lutar pela sobrevivência[...]”

Engoli em seco, me lembrando então, dos acontecimentos anteriores. Chat Noir. Ele estava junto comigo todas as últimas vezes que eu passei mal - não tinham sido muitas, mas ele era o único que esteve presente em todas, de qualquer forma.

Eu não tinha isso. Nunca tive esse medo. Até o incidente com Luka.

Eu queria culpá-lo. Queria muito ficar revoltada e colocar a culpa de tudo o que estava acontecendo em Luka, de verdade. Mas sabia que não era certo, mesmo que não passassem de pensamentos, não era certo colocar a culpa dos meus problemas toda nele. Até porque, eu fui bem burra ao acreditar nele e ignorar o que as pessoas ao meu redor sempre diziam.

StrangersOnde histórias criam vida. Descubra agora