02.11 | Alone

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MARINETTE

Eu já estava deitada em minha cama com a barriga para cima, olhando para o teto; pronta para dormir. Estava confortável. Mas eu não consegui fechar os olhos nem mesmo por quinze segundos. Talvez se eu mudasse de posição, fosse mais fácil pegar no sono.

Tendo em mente o pensamento de que aquilo poderia realmente ser uma questão de não estar confortável, me mexi na cama, me virando várias vezes, ajeitando o travesseiro, os braços e as pernas. Nada. Eu ainda não conseguia dormir.

Mas que droga.

Peguei meu celular e olhei a hora. Já fazia um bom tempo que eu estava tentando dormir e já estava bem tarde. E ainda por cima, eu precisava acordar cedo, já que teria mais uma das minhas consultas semanais com a psicóloga.

Talvez eu devesse mandar um recado para Chat Noir através de Alix, afinal, ela tinha os nossos números e eu não podia simplesmente parar de falar com ele, podia?

Mas a questão é que já fazia um bom tempo que não nos víamos e ele não tinha me procurado ainda. Então talvez, ele não queira me ver. Talvez seja melhor assim. Cada um em seu canto. Afinal de contas, nós já tínhamos resolvido tudo que tínhamos para resolver no Louvre. As pesquisas do senhor Kubdel estavam comigo e nós não precisávamos mais nos ver. E, para mim, isso seria mesmo melhor. Não era ele que estava preocuoado com a minha saúde? Pois então, é isso que estou fazendo: cuidando da minha saúde.

Não. Eu não vou falar com a Alix. Pelo menos não sobre isso. Eu não vou correr atrás. Eu vou ficar aqui, bem, quieta no meu canto, cuidando da minha saúde. Afinal de contas, eu não preciso da companhia dele para ser feliz ou ter paz. Só preciso me acalmar, e me acostumar com a ideia não ter ele por perto de novo. É só uma questão de tempo até que eu consiga me acostumar com tudo isso.

Eu já tinha passado anos sem vê-lo. Podia muito bem fazer isso de novo.

Pensando melhor, não consigo encontrar motivos para eu estar assim. Eu nunca precisei tê-lo por perto. Quero dizer, ele sempre foi meu amigo e sempre me ajudava e era bom saber que eu podia conversar com alguém que me entendesse e que passasse pelas mesmas dificuldades da vida dupla que eu. Mas tê-lo longe por alguns dias nunca foi difícil.

Talvez fosse porque eu sabia que o veria de novo. Mas e agora, eu não faço ideia.

Não sei se ele está bravo. Na verdade nem consigo me lembrar com muita clareza do que aconteceu naquela noite. Será que fui grosseira? Não consigo me lembrar.

Eu pediria ajuda para Tikki, mas ela está dormindo tão tranquilamente que não tenho coragem de acordá-la.

E não sei quanto tempo fiquei ali deitada, me mexendo na cama, até que finalmente conseguisse pegar no sono.

***

─ Bom dia, Marinette! ─ Tikki abraça minha bochecha, animada assim que eu me levanto, ainda com sono.

Meus olhos estavam pesados. Acho que eles não deveriam ser tão pesados assim. Pelo menos nunca foram.
─ Bom dia, Tikki... ─ Esfrego os olhos, em uma tentativa falha de despertar.

─ Você está desanimada. Não dormiu bem?

Balancei a cabeça. Mesmo que eu tenha conseguido dormir, só consegui fazer isso quando já era bem tarde e ainda por cima acordei várias vezes.

Tikki me conhecia tão bem.

É bom ter alguém de quem eu não precise esconder nada. Mesmo que esse alguém não seja uma pessoa.

Peguei uma toalha e uma roupa, já que eu teria que ir ao psicólogo. Tomar um banho bem quentinho me ajudaria a relaxar e despertar. Sempre me ajudou e eu esperava que isso não falhasse justamente agora, quando eu mais precisava daquilo.

Depois que tomei banho e me troquei, me sentei na beirada da cama para pentear meu cabelo. Queria testar um creme diferente que eu tinha comprado na semana passada.

─ Tikki?

─ Estou aqui.

─ Você acha que eu estou errada?

─ Do que estamos falando?

─ Ah, você sabe.

─ Ahn... ─ Ela pareceu pensar ─ Não, eu não sei não.

─ Aquele dia no telhado.

─ A última vez que vimos o Chat Noir?

─ É.

─ Ah, não sei. Acho que você exagerou um pouco.

Olhei para ela com uma das sobrancelhas erguidas. Acho que eu nunca tinha reparado que eu odiava tanto assim estar errada. Eu sempre fui assim ou isso foi uma coisa que surgiu há pouco tempo?

─ Tikki, ele insinuou que eu era fraca. Ele duvidou de mim!

Me levantei e joguei meu cabelo para frente, o enrolando na toalha.

─ Não foi bem isso que ele disse. Ele só está preocupado com você.

─ Estava ─ Corrigi.

─ Está.

Pego a minha bolsa e dou uma olhada dentro dela. Documentos, carteira, chave de casa. Faltava o meu celular.

Dou uma rápida olhada ao redor do quarto antes de vê-lo em cima da escrivaninha. É claro que ele estaria lá. Eu sempre o deixo lá. Pego o celular e coloco dentro da bolsinha.

─ Marinette, não é porque você não fala com ele que ele não se preocupa com você.

Ainda estamos falando disso?

─ Ele não pediu notícias. Não deve estar assim tão preocupado.

─ Você saiu correndo e o deixou sozinho.

─ Mesmo assim.

─ Você devia falar com ele.

─ Depois. Agora não dá.

Eu não vou falar com ele depois.

Só falei que vou porque sei que se eu falar que não, Tikki vai ficar me dizendo o tempo todo o quão errada eu estou e que estou sendo uma pessoa muito orgulhosa, então vou me sentir um ser humano horrível e vou acabar falando com ele, ou carregando a culpa pelo resto da minha vida, até o túmulo. Ou as duas opções, o que seria ainda pior.

Mas, por outro lado, se eu dissesse que falaria com ele depois, ela me deixaria em paz e eu não me sentiria culpada, e então todo mundo ficaria feliz.

Acho que ela sabe que eu não vou falar com ele, porque continua falando sobre aquele assunto.

─ Quero que fale agora.

─ Agora não dá. Tenho uma consulta com o psicólogo, lembra?

─ Não precisa ser uma conversa longa. É só falar pra Alix pedir pra ele te encontrar mais tarde em algum lugar.

─ Estou atrasada.

─ Em menos de um minuto você consegue digitar a mensagem.

E nesse intante, minha única pergunta é: o que foi que deu nela?

Eu sei que pedi a opinião de Tikki sobre o assunto e ela estava fazendo até mais do que eu tinha pedido. Estava dando sua opinião e tentando me ajudar.

Mas acho que eu não quero aceitar.

Não é que eu não queira mais ver Chat. Até porque, ele é meu amigo, mesmo que não seja exatamente isso que eu queira.

Mas acho que, talvez, esse seja como um mecanismo de defesa acionado pelo meu cérebro para eu me afastar dele e eu não ter o risco de ser magoada de novo. Mesmo que eu saiba que Chat nunca faria algo que me magoasse, mesmo que eu o conhecesse tão bem quanto a mim mesma, tem aquela pequena parte dentro de mim que insiste em dizer que eu também conhecia Luka muito bem e que ele nunca faria algo que pudesse me magoar.

E olha só onde eu estou agora.

StrangersOnde histórias criam vida. Descubra agora