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MARINETTE

Já tinham se passado alguns dias desde que vi Chat Noir pela última vez. Talvez semanas. Era difícil ter certeza de alguma coisa.

Eu tinha ficado com a pasta do senhor Kubdel e passei a maior parte do meu tempo trancada no quarto, deitada na cama lendo as páginas - a maioria delas não tinha nada demais, eram só algumas coisas que ele descobriu e nós já sabíamos.

Ao que parece ele estava estudando secretamente os miraculous e planejava fazer alguns experimentos. Depois de ler boa parte das pesquisas, ficou bastante claro o motivo de ele não querer que ninguém além de Chat Noir e eu encontrasse a pasta.

Escondi a pasta com os papéis dentro do meu guarda-roupa, já que era um lugar onde ninguém aqui em casa casa costuma mexer, além de mim é claro.

Escutei o toque do meu celular, e o peguei, me sentando na cama com as costas encostadas na cabeceira.

Atendi a ligação assim que vi que era de Alya.

─ Oi.

─ Você já abriu o youtube hoje?

─ Ahn... Não.

─ Então pode abrir agora.

─ Tá... ─ Me sentei no cadeira em frente a escrivaninha e liguei o computador.

Assim que abri o youtube vi o vídeo do trailer do filme.

"Strangers | Première bande-annonce"

─ Você não tinha me dito que o trailer sairia hoje.

─ Desculpa, eu acabei esquecendo.

E aquilo não era uma mentira. Mesmo depois do término das gravações, eu ainda estava com alguns problemas e acabei me esquecendo completamente daquele filme.

─ Não, tudo bem. Mas olha, não vai demorar tanto para estrear no cinema. Você vai comigo assistir, né?

─ Não sei, Alya...

─ Ah, Marinette. Você tem que ir! Olha, temos que admitir que nesses anos que você trabalhou como atriz esse foi seu melhor papel. Você precisa ir assistir esse filme com a sua melhor amiga no dia da estréia.

─ Alya, eu estou no elenco do filme. Sei tudo o que acontece. Acho que não vai ter tanta graça assistir no cinema.

─ Ah, vamos, por favor. A gente podia ir com o Nino e o Adrien. Podemos chamar a Chloé também, se você quiser.

Chloé.

Eu tinha me esquecido completamente do espetáculo da Chloé. Não sei como, porque eu estava realmente muito ansiosa para assistir, mas acho que os problemas me sobrecarregaram tanto que me esqueci de tudo. Isso nunca tinha acontecido antes. Pelo menos não me que eu me lembre.

Por que é que de repente ficou tão difícil de eu me lembrar das coisas?

E, por mais que eu odeie admitir isso, acho que Chat Noir estava certo. Eu preciso de um descanso. Talvez eu devesse ter escutado ele. Talvez se eu tivesse parado um pouco para descansar, não estaria assim tão avoada.

Eu odeio quando ele está certo e eu errada.

─ Alya, eu acabei de me lembrar de uma coisa e vou ter que desligar. Posso te ligar mais tarde?

─ Mas você vai assistir o filme comigo, não vai?

─ Tá, eu vou.

Eu sabia que não adiantaria negar, porque ela ficaria pedindo para que eu fosse até que eu enjoasse de ouvir a voz dela me azucrinando e finalmente concordasse em ir, como ela sempre faz.

Desliguei a ligação e peguei o ingresso do espetáculo na minha bolsa.

Seria no dia seguinte. Acabei tendo uma grande sorte por Alya ter me ligado hoje, porque se ela não tivesse feito isso, provavelmente eu não me lembraria e acabaria perdendo a apresentação.

***

Após o fim do espetáculo, esperei Chloé do lado de fora do teatro. A loira tinha dito que precisaria voltar para o camarim para pegar os figurinos e sua bolsa que tinham ficado lá.

─ Pronto ─ Falou a garota assim que apareceu, segurando os figurinos que usou pendurados em cabides separados e trazendo sua bolsa pendurada em um de seus ombros ─ Vamos?

─ Aham.

Chloé tinha oferecido carona até a minha casa, já que seu motorista iria buscá-la no teatro - o lugar era um pouco longe da casa dela.

─ Eu vi o trailer do seu filme ─ Começou a falar, animada, depois de um tempo ─ Deve ter sido bem legal fazer parte do elenco de uma grande produção como essa.

─ É, foi sim. Falando nisso, a Alya queria ir no cinema assistir no dia da estréia e pediu pra eu te chamar também.

Não era uma completa verdade. Alya não tinha necessáriamente pedido para eu chamar a Chloé e eu sabia que ela ainda não confiava muito na loira. Mas ela não precisava saber de todos os detalhes.

─ Sério? Eu achei que a Alya ainda não gostasse de mim.

E achou certo.

É claro que não! Ela gosta de você sim. Ela só não quer admitir isso ainda, sabe... Por causa de tudo que aconteceu na escola. É que ela é teimosa.

─ Então vamos. Somos só nós três?

─ Mais o Adrien e o Nino.

─ Certo.

Dei uma rápida espiada pela janela e vi que já estávamos bem próximos da minha casa.

─ Depois combinamos tudo com mais calma.

Assim que o carro parou, em frente a padaria, me despedi de Chloé e agradeci pela carona, saindo do carro e entrando em minha casa logo em seguida.

Fiquei um pouco surpresa por ver a luz do meu quarto acesa. Eu tinha certeza absoluta que tinha apagado antes de sair.

Abri a porta e já estava pronta para me jogar na minha cama antes de criar coragem para tomar banho e me arrumar para dormir, mas a primeira coisa que vi quando entrei no quarto foi Manon sentada na minha cama, com um pote cheio de jujubas do seu lado, mexendo na pasta com as pesquisas do senhor Kubdel. E logo depois disso, vi algumas das minhas roupas espalhadas pelo chão do quarto.

─ O que aconteceu aqui?

─ Ah, oi. Você chegou mais cedo que eu esperava ─ Pegou uma das folhas da pesquisa e a balançou no alto ─ Aliás, o que é isso?

─ Não é da sua conta ─ Peguei a folha e a coloquei dentro da pasta ─ Olha, são coisas pessoais, e você não pode simplesmente invadir o meu quarto e sair mexendo em tudo que você vê pela frente!

─ Mas a mamãe disse que nós temos que dividir tudo. E eu gosto das suas roupas.

─ Tá, mas elas são minhas e você tem que aprender que "dividir", não significa que você pode entrar aqui e mexer em tudo sem eu saber! Muito menos se for deixar essa bagunça.

─ Seu quarto já estava uma bagunça antes de eu chegar.

─ Não estava não!

─ Estava sim, e eu quero ler os papéis daquela pasta bonita.

─ Só sai do meu quarto, Manon. Eu estou cansada e quero dormir ─ Falei com calma. Não estava com paciência para discutir com ela.

─ Por que você não me deixa mexer naquela pasta?

─ Porque o que tem dentro dela são coisas pessoais e você não tem nenhum motivo para ficar xeretando o que tem ali. Agora você pode sair e me deixar dormir?

Pude ouvir ela bufar e sair do quarto com a cara fechada.

StrangersOnde histórias criam vida. Descubra agora