2 - Milk tea

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Posicionei o violino corretamente.

Peguei o arco e comecei a treinar. Passado alguns bons minutos, enquanto tocava, me recordei de que meu sonho aos doze anos era me apresentar numa orquestra filarmônica. Por muito tempo tinha me preparado para isso e na primeira oportunidade que tive, que foi aos dezessete, eu lembro de quase passar mal minutos antes de entrar no teatro. Tudo ocorreu bem com a apresentação no final, mas meu desejo de voltar a me apresentar novamente para tantas pessoas foi reduzido consideravelmente.

Me contentei em tocar para minha família, alguns amigos e às vezes gravar algum cover e postar nas redes sociais. Não era algo que me deixava triste, pelo contrário, tocar ainda me acalmava e de certa forma me ajudava a tirar o peso do estresse. Sempre que me sentia agitada demais eu tocava e imediatamente me sentia em paz novamente. Meus olhos desviaram da janela enquanto me concentrava em acertar as notas. Era algo bom as casas serem um pouco longe umas das outras, assim ninguém poderia reclamar se eu quisesse tocar durante a tarde inteira ou pela noite.

Escutei meu telefone tocar na cama quase uma hora mais tarde. Dei uma pausa e depois de acomodar o instrumento no case peguei o aparelho. Era uma mensagem de um número desconhecido. Sem entender de quem se tratava apertei no ícone para tentar descobrir.

Freen~

Você saiu tão apressada naquele dia que nem consegui me despedir direito e pegar seu número.

Ela não disse o nome, mas só poderia ser uma pessoa. Fui até os contatos e adicionei o seu nome logo digitando uma resposta.

Desculpe. Eu estava atrasada. Mas agora estou curiosa, como conseguiu meu número?

Enquanto ela não respondia eu guardei o violino com cuidado e depois de fechar o case e colocá-lo ao lado da cama o som da mensagem chegando interrompeu o silêncio.

Eu tenho contatos!

Sorri diante da mensagem.

Ela era engraçada.

Não respondi de imediato, olhei para a parede azul e decidi que iria comprar a tinta para que pudesse personalizar meu quarto. Fui até o armário e depois de trocar de roupa peguei meu telefone e a carteira. Sai de casa guardando as chaves no bolso do casaco e andando em direção ao local que tinha visto no dia anterior.

Esperava que tivesse os materiais que precisaria, do contrário teria que pesquisar na internet um local. Alguns minutos depois avistei a fachada colorida e fui até lá. Empurrei a porta e o cheiro de tinta me atingiu em cheio. Quase sorri ao perceber que acertei o lugar, mas me retrai um pouco quando uma garota sorridente apareceu do nada.

— Olá! — Disse animada — Deseja algo?

Coloquei a mão no peito e respirei fundo.

— Você me assustou — Confessei sem querer.

Ela sorriu de um jeito fofo.

— Desculpe — Pediu agitando as mãos — Não foi minha intenção.

— Tudo bem — Eu digo devolvendo seu cumprimento e sorrindo um pouco — Eu gostaria de algumas tintas.

Ela me guiou até uma parte da loja onde tinha um paredão enorme com várias tonalidades de tinta. Eram tantas que me fizeram vibrar em silêncio por tudo o que eu poderia fazer nos próximos dias. A atendente me deixou sozinha para que eu tivesse meu tempo ao escolher e disse que se precisasse de mais alguma coisa poderia chamá-la. Levei alguns bons minutos analisando minuciosamente o que levaria até que meu telefone tocou me interrompendo.

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