5 - Rabbit

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Levou apenas cinco dias.

Apenas cinco dias para minha mãe sozinha resolver todos os assuntos com relação à compra do carro. Eu pensei que iríamos sentar juntas para decidir, fazer as contas, pesquisar, mas ela parecia bem mais animada e ansiosa do que eu. Um dia chegou dizendo que seu colega professor estava planejando trocar o carro e que se quiséssemos poderíamos fazer uma oferta.

De acordo com ela o carro estava em bom estado, mas quando pensei que iríamos analisar a proposta, ela já tinha fechado o negócio. Tentei argumentar sobre estar nos precipitando com relação a isso, mas minha mãe permaneceu irredutível e por fim desisti de tentar discutir sobre. Sabia que não importava o que eu dissesse ela faria o que queria.

O carro estava estacionado na garagem em frente a casa. Olhei para a cor prata dele e observando bem parecia estar realmente novo. De acordo com minha mãe, o tal professor disse que quase não dirigiu, pois sua esposa, que fazia uso dele, não gostou da direção. Eu não entendia muito sobre carros, mas precisei pesquisar algumas coisas sobre o veículo para me habituar a ele e também caso precisasse fazer qualquer manutenção.

Eu estava feliz, apesar de achar apressado.

Seria bom não precisar sair tão cedo de casa para a aula e ainda poderia ir com mais facilidade nos lugares em que eu precisava ir. Mas o principal motivo seria o de aliviar a preocupação da minha mãe quando eu saía sozinha. Dei algumas voltas com ela pelo bairro e nós duas chegamos a conclusão de que era bem confortável. Enquanto voltava para casa inevitavelmente me lembrei de quando aprendi a dirigir com meu pai na Tailândia.

Tentei conter um suspiro para não alertar minha mãe. Não queria tocar no assunto do meu pai novamente. Eu não o odiava, mas tinha certa mágoa de como as coisas ficaram inacabadas entre nós dois. Estar aqui dirigindo me fez recordar, pois era uma das poucas memórias que guardava dele. Ainda me lembro de quase ter batido seu carro e pensei seriamente que brigaria comigo ou no mínimo desistiria de me ensinar, mas tudo o que ele fez foi rir da minha cara de espanto.

Empurrei esses pensamentos para longe quando estacionei. Minha mãe ainda estava super animada e permaneceu durante boa parte da noite comentando sobre nossa mais nova aquisição. Me ofereci para levá-la até o trabalho, mas ela prontamente negou dizendo que uma colega que morava em nossa rua lhe ofereceu carona.

Fui dormir lutando contra os pensamentos e talvez por isso tenha demorado tanto para pegar no sono.

[...]


Depois de encontrar uma vaga próximo de um dos prédios fui diretamente até a cafeteria. Pedi um café puro e sem açúcar. O mesmo rapaz daquela vez anotou meu pedido e dois minutos depois eu recebi meu copo e caminhei de volta para a faculdade. As aulas foram tranquilas no horário da manhã. E como eu não teria aula de tarde comecei o caminho para o carro guardando meus materiais.

O café realmente tinha ajudado e embora eu gostasse, não tinha muito costume de tomar. Talvez isso explicasse eu estar totalmente acordada e sem sono agora. Puxei meu telefone e abri as notas. Verifiquei o mês em que tinha trocado as cordas do meu violino e percebi que já estava na hora de comprar novas. O trabalho que eu precisaria entregar na sexta já estava bem adiantado, faltando apenas a conclusão, então não faria mal dar uma volta à tarde e usar o tempo livre para comprar cordas novas.

Fui em casa apenas para almoçar e trocar de roupa. Então uma hora mais tarde eu já estava dirigindo em direção ao shopping. Depois de pegar o ticket do estacionamento eu entrei pelas portas automáticas. Encontrei várias pessoas transitando por ali, mas nada tão lotado quanto provavelmente era nos fins de semana. Dei uma volta por todo aquele andar e depois subi pela escada rolante até o segundo.

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