Capítulo X - A decepção machuca mas não mata, então eu ainda estou viva...

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Nicolas demorou menos do que o combinado, chegou em 20 minutos, quando ele entrou na sala eu me levantei da cadeira onde estava sentada para poder me explicar para ele cara a cara. Ele estava com aquela mesma expressão de sempre, como um viúvo amargurado e abatido, respirei fundo e comecei...

-Me desculpe.

-Por que me envolveu nisso? -ele já estava cheio de argumentos.

-Foi a Madison...

-Não interessa quem foi. Desde quando você é apaixonada por mim? Que piada, eu nem te conheço além de saber seu nome. Você sabe a proporção que isso tem tomado? Todos falando sobre mim, eu nem tenho redes sociais.

-Eu sei, eu vou resolver tudo, eu juro.

-Como? -ele passou a mão pela nuca como se estivesse super desconfortável e aquilo tudo fosse algo extremante estressante para ele. Observei aquela atitude e comecei a me sentir ofendida.

-É tão ruim assim? -ele levantou o olhar, sem entender. -É tão ruim assim ser associado a mim? Você tá o tempo todo me julgando injustamente. Qual o seu problema comigo? Já disse que foi um mal entendido.

-Não leve isso para o lado pessoal, eu não tenho problema nenhum com você.

-Ah serio? Essa sua cara diz o contrário.

-Você queria o que? Que eu tivesse morrendo de rir?! -ele flexionou o maxilar, desviei o olhar, ele tem o rosto bonito é fácil se distrair. -Estão espalhando mentiras sobre mim e você quer que eu saia pelos corredores gargalhando. -ironizou ainda nervoso.

-Nossa coitadinho, estão dizendo que você me rejeitou Nicolas! Cai na real, eu ainda estou levando a pior, mas você tá tão afetado.

-Eu estou afetado sim, estou afetado porque eu não tenho nada haver com você e você é alguém muito conhecida e popular na internet, eu não gosto dessa atenção toda.

-Você é um idiota.

-O que? Por que? -agia com tanta inocência.

-Como você pode ser tão sem noção.

-Sem noção? Você e suas amigas entraram em uma briga fútil e idiota por causa de alguns seguidores nas redes sociais e me arrastaram para o meio disso e eu sou o idiota?

-Só tem um jeito de resolver. -falei me aproximando dele.

-Um jeito? Você só pensou em um jeito nessa sua cabecinha? -revirei os olhos.

-Você tem que fingir que estamos juntos.

O silêncio entre nós foi constrangedor, ele me olhava como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda que ele já ouviu, como se eu fosse uma total insana que acabou de fugir do hospício.

-O que foi?

-Você ainda pergunta?

-A gente finge só por esse semestre e depois termina essa história.

-Fingir que gosto de alguém? Você é sadomasoquista né, só gosta de sofrer.

-Eu não vou sofrer, vai ser de faz de conta. -ele ainda estava relutando. -Por que? Você tem namorada? Gosta de alguém?

-Eu não tenho namorada. -mas não negou que gostava de alguém.

-Então.

-Mas eu tenho amor próprio. Eu não posso fingir que gosto de alguém.

-Você pode se essa pessoa também estiver fingindo que gosta de você.

-Pior ainda, eu não quero que ninguém finja que gosta de mim.

-Nicolas. -murmurei estressada, ele virou de costas para mim, parecia que seu nível de frustração tinha ultrapassado a camada de ozônio e saído da atmosfera.

-Isso não vai dar certo. -resmungou.

-Por que não? -Me aproximei das costas dele. -Nicolas, as pessoas estão dizendo que você me rejeitou por causa da minha personalidade. Eu posso fazer uma declaração dizendo que sim, que é tudo verdade, que eu era apaixonada por você e que você não quis nada comigo e pedir que eles não ataquem você e te deixem em paz, porque você não tem nada haver com isso. Essa é nossa outra opção, e então você estará livre.

Ele se virou para mim, e agora estávamos próximos demais, não consegui sustentar o olhar dele, dei um passo para trás e fiquei em silencio.

-Isso seria ainda pior. Que tipo de homem eu seria se te deixasse ser retaliada sozinha. -voltei a olhar nos olhos dele, o olhar dele não estava em mim, ele estava distante. -Vamos fingir, então pelo menos eles não vão te ofender por causa de uma coisa idiota como uma rejeição de um cara.

-Você tá falando serio? -não acreditei na sensatez dele.

-Sim. -aquele sim saiu um pouco falho, eu sabia que ele não estava a vontade de fazer isso, mas realmente aquelas eram as duas únicas opções. Se não fizéssemos nada as pessoas continuariam inventando até tudo virar uma bola de neve.

-Então estamos combinados.

-Eu tenho algumas condições. -eu sabia que ele diria isso. -Nós vamos fingir, isso significa que não estamos apaixonados, então...

-Ok, Nicolas, não se preocupe, não vou me apaixonar por você.

-Outra coisa. Eu aprecio meu espaço pessoal então não me ligue muito, não me procure muito e sempre avise antes se quiser me encontrar. -acenei que sim com a cabeça com uma expressão de quem chupou limão, ele é tão egocêntrico.

-Eu também tenho uma condição. -ele ficou me olhando curioso. -Não se apaixone por mim. -debochei.

-Fica tranquila quanto a isso. Eu não tenho um coração, alguém roubou ele de mim. -disse com um olhar tão vazio que eu senti calafrios. Ele me entregou o celular dele. -Toma esse é meu número, quando já tiver pensado no que fazer para enganar eles me manda uma mensagem, preciso ir. -anotei o numero dele no meu celular e salvei, ele se apressou em ir embora.

Eu não quero ser sua - O ponto de vista daquela que foi rejeitadaOnde histórias criam vida. Descubra agora