Eu disse que iria trabalhar, mas não fui, resolvi ficar em casa, fiz o que eu tinha que fazer e depois abri meu notebook para escrever minha tese. Eu não bebo, mas talvez agora seja a hora de começar porque não consigo escrever absolutamente nada.
Algumas horas depois e ainda nenhuma palavra escrita o interfone toca e estou aliviada pela distração.
— Alô?
— Senhorita Mabi, tem um rapaz aqui para vê-la. O nome dele é Dylan, ele pode subir?
— Dylan? Tudo bem. Pode liberar. Muito obrigada.
— De nada.
Pouco depois ouço a campainha e vou abrir a porta, para ver um Dylan como está todos os dias, penteado impecável e roupa social, já eu estou usando legging preta e uma camiseta larga, cabelo preso em um rabo de cavalo e óculos de grau redondos pretos também e ele me encara.
— Você sabia que trabalha em uma editora e não precisa usar roupa social? Lá todo mundo é meio hippie. — brinco sorrindo.
— Eu não gosto de hippies, e você está de pijama. — diz ele.
— Não estou não, é minha roupa de ficar em casa, eu paguei muito caro nessa legging.
— Eu posso entrar ou vamos ficar conversando aqui mesmo?
— Vamos ficar conversando por aqui mesmo, tá entra. — dou licença e ele entra pela porta. — O que aconteceu de tão urgente para você ter que vir aqui?
— Você disse ontem à noite que ia trabalhar no escritório e você não foi, vim conferir se não estava morta.
— Ah não, ainda não, você chegou cedo — brinco — Eu só não estava com cabeça para ir ao escritório hoje.
— Está tudo bem?
— Você estava preocupado comigo? — pergunto sorrindo e ele dá de ombros — Senta, por favor. Quer tomar alguma coisa?
— O que você tem?
— Água, suco e chá gelado e quente também.
— Pode ser chá quente — diz ele e eu vou até a pia e encho a chaleira e coloco a água para esquentar — Você não respondeu minha pergunta. — ele se encosta no balcão.
— Que pergunta?
— Você está bem? Tenho visto você tensa esses dias e com crises de ansiedade. O que está acontecendo? Talvez eu possa ajudar?
— Eu só não estou conseguindo escrever minha tese do doutorado. — confesso encostando na pia ficando na frente de Dylan.
— Sobre o que você quer escrever?
— Era sobre a alfabetização em adultos.
— É um tema muito interessante.
— É, mas esse tema é muito pessoal pra mim e eu não posso dar minha opinião na tese, mas tudo o que eu já escrevi eu dou minha opinião, decidi recomeçar do zero mas não consigo escrever nada.
— Porque não muda de tema?
— Não tem nada mais que eu queria falar.
— Porque esse tema é pessoal pra você? — pergunta ele curioso.
— Meus avós, eles não tinham estudos, eles não tinham formação, só sabiam o básico, ainda assim, meu avô me ensinou a ler e a escrever. E agora estou prestes a ter um doutorado, consegue mensurar isso?
— Maria Isabela, o que está fazendo é incrível, seus avós eles...
— Eles já morreram há muito tempo, eles nem me viram eu me formar no ensino médio.
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MARIA
RomanceA história por trás da protagonista, conhecemos o final de sua história, mas como ela começou?