Acho que se contar tudo o que já aconteceu comigo ele vai me internar, este lugar já está parecendo um hospital psiquiátrico, mesmo sendo somente uma clínica, mas tenho a sensação de que nunca vão me deixar sair daqui.
As paredes são cegamente brancas com alguns quadros de praia e paisagens, revistas de pelo menos 10 anos atrás estão em uma mesa de centro e uma mesa de vidro próximo tem uma planta, será que é de plástico ou de verdade? Estou sentada em um sofá igualmente branco e limpo sem uma única mancha de caneta sequer e não tem ninguém aqui além de mim e da recepcionista.
Eu vim por vontade própria, posso sair por vontade própria, acho que foi um erro ter vindo aqui, ele vai achar que eu sou louca ou muito triste e quando me levanto para ir embora, ouço meu nome.
— Maria Isabela? — me viro sorrindo sem graça para a porta que acabou de se abrir e o psiquiatra me chama calmamente.
Eu ando em direção a ele devagar, e entro em sua sala que tem tons mais escuros de cinza e marrom, tem uma mesa grande e um cadeira que parece super confortável, vários livros de psicanálise, sem fotos de família, embora eu note a aliança dourada em seu dedo.
O médico parece jovem demais, mas quem sou eu pra julgar? Ele parece arrumado demais assim como a sua sala, tudo no lugar. Será que é aqui que vão roubar meus órgãos?
— Sente-se, por favor. — ele aponta para a poltrona próxima de nós e eu me sento e ele se senta em uma poltrona igual na minha frente — Pode me chamar de Adam, você já fez isso antes?
— Me sentar em poltronas? Já! — dou uma risadinha pela minha própria piada e ela abre um sorriso mas sem mostrar os dentes e faz uma anotação. — Eu ainda nem disse nada sobre mim e você já fez uma anotação, o que você escreveu? — pergunto franzindo o cenho.
— Te incomoda eu anotar?
— Não.
— Você se importa com a opinião dos outros a seu respeito?
— Não.
— Por que está aqui?
— Acho que eu deveria falar com alguém sobre as coisas que já aconteceram comigo, eu normalmente escrevo em diários, mas tem sido chato, e preciso que alguém responda, entende? Tenho medo de quem possa vir a me tornar por causa dessas coisas que aconteceram.
— Então me diga o que aconteceu com você?
— Não daria para contar em 50 minutos.
— Podemos marcar uma consulta por semana.
— Se eu contar, eu vou poder sair daqui, né? Não vou ser internada.
— Provavelmente não, Maria. — ele sorri e arruma os óculos. — Percebo que você não é daqui.
— Não, faz uma semana que cheguei na cidade.
— Comece por sua primeira semana aqui.
— Tudo bem.
Cheguei na cidade pela rodoviária, eu queria ter vindo de avião mas confesso que no momento sou um pouco mão de vaca e não queria gastar com isso, vou até o endereço que Theo havia me pedido para encontrá-lo. Estou com duas malas cheias de roupas e um teclado musical a tiracolo.
O prédio não tem porteiro e a porta está aberta, pelo que sei os moradores são jovens universitários, eu poderia morar aqui também, mas preferi um lugar mais perto do meu futuro trabalho e universidade.
Subi até o andar que ele tinha me dito e já consigo ouvir uma música alta, está tendo uma festa em algum lugar e quanto mais vou andando em direção ao número do apartamento, mais eu acho que a música está vindo de lá.
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MARIA
RomanceA história por trás da protagonista, conhecemos o final de sua história, mas como ela começou?