MARIA

August - Chase Atlantic

Falta um mês para terminar as aulas. Theo e eu estudamos na mesmo universidade, mas em prédios diferentes então raramente nos vemos aqui, porém hoje ele está na porta da minha sala me esperando.

— Oi, que surpresa você saber qual a minha sala. — digo.

— Eu sempre soube.

— Mas nunca veio aqui antes. — falo passando por ele e começamos a andar pelo corredor.

— Eu queria falar com você. — diz ele sério.

— Ok. O que foi foi?

— Lembra naquele dia que eu te chamei para nós voltamos para casa e visitarmos todo mundo e você não quis ir?

— Lembro.

— Mabi, quando eu for, eu não vou mais voltar.

— O quê? — meu coração começa a disparar.

— Eu vou voltar pra lá e vou ficar com a minha família. Eu vim pra cá para estudar e foi o que eu fiz, agora acabou.

— Theo...

— Mabi, eu quero te convidar oficialmente para minha formatura.

— Sua mãe vai vir pra cá para ver?

— Ninguém vai vir porque eu vou embora no dia seguinte.

— Eu vou estar lá. — respondo mas minha voz sai baixa.

— Vem aqui. — ele me puxa pelo moletom e me abraça forte e eu sinto vontade de chorar porque nem por um segundo a possibilidade de ir embora de novo passou pela minha cabeça. Ele me dá um beijo no topo da minha cabeça. Ouço o seu coração bater forte no peito. — Não importa se vou estar aqui ou não, sempre pode contar comigo.

— Acho que já está na hora de parar de usar você como muleta. — respondo sorrindo.

— Pode me usar da forma que você quiser. — diz ele rindo e se afastando. — Sei que você vai ficar bem, você é forte. A gente se vê, Mabi.

Então ele vai embora. Depois de quase um ano juntos aqui de novo esqueci como é não ter ele por perto, o próximo ano será um desafio já que estarei sozinha aqui, mas fico feliz pelo Theo, por ele voltar pra família dele, para a casa dele, por ele ter se formado.

Quando chega a formatura do Theo, comprei um vestido um pouco mais formal para usar, mas vou de tênis porque ele que está se formando e não eu, mas me sinto nervosa porque hoje vai ser a última vez que vamos nos ver. Comprei um presente para ele, que vou entregar no final.

A formatura foi linda, quando chamaram o nome dele eu gritei muito, juntos com alguns amigos que ainda vão se formar e estavam assistindo, e ele acena para nós e quando termina ele vem vestido com sua beca para nos cumprimentar e tiramos várias fotos.

— Obrigado por ter vindo, Mabi. — diz ele com um sorriso enorme.

— Claro que eu viria, estou muito orgulhosa de você, Theo. Isso é pra você. — entrego o presente que é uma plaquinha escrito Dr. Theo Morgan.

— Muito obrigado. — ele me abraça.

— Também tenho um presente pra você. — ele vai até um dos assentos do auditório e volta — Feliz aniversário, Mabi.

Fico muito surpresa por ele ter lembrado porque eu mesma acabei me esquecendo, tenho certeza absoluta de que é um livro e eu estava certa mas fico emocionada ao ver que foi o primeiro livro que li inteiro na vida.

— O pequeno príncipe, vi você lendo quando era bem pequena, escrevi uma dedicatória, espero que goste.

— Eu amei, Theo. Muito obrigada. — o abraço de novo.

Ele conversa um pouco com os amigos, depois vai devolver a roupa de formatura e volta até nós e vamos a uma festa. Dessa vez, Luke não está aqui, nem Caleb e nem Max, nem nenhuma ex doida do Theo então nos divertimos bastante, dançamos, rimos, conversamos. Mesmo que ele tenha que acordar cedo para ir embora, ele fica até tarde, até quando eu digo que quero ir embora. Depois de alguns minutos chegamos e entramos no meu apartamento.

— Mabi. — ele respira fundo — Não é fácil pra mim deixar você, de novo. E nunca iria pedir para você voltar depois de terminar seus estudos. Minha mãe me dizia que você estava destinada a ser grande, depois de tudo o que você passou você poderia ter sido a pior das pessoas, mas você ergueu a cabeça e tenho certeza que se seus avós estivessem aqui eles estariam orgulhosos de você porque eu estou.

— Eu é quem deveria fazer um discurso sobre orgulho já que você acabou de se formar. —
respondo rindo.

— Maria, você sabe o que eu sinto por você. O que eu sempre senti. Mas para não ter dúvida, você se lembra quando perguntou se eu tinha namorada e se eu gostava de alguém e eu disse que sim, mas nunca a mereceria? Era você, Maria. E você merece alguém muito melhor, alguém muito maior do que eu. Eu nunca vou te amar o quanto você merece, mas eu te amo, Maria. E naquela noite aqui no seu apartamento eu queria ter te dito isso, queria ter te dito isso quando éramos crianças, e eu sei o que você sente por mim também, Mabi. Mas eu sei que um dia você vai ser amada da forma que você merece. Alguém que coloque você acima de tudo e de qualquer um. Você me inspirou, vi sua dedicação e quis ser como você e se hoje eu me formei, foi por isso, admiro você.

— Theo...

— Almas gêmeas destinadas a se encontrarem, mas não ficarem juntas. —  diz baixinho, os olhos deles estão cheios de lágrimas e os meus também.

Ele me puxa para um abraço, e depois do que ele falou muito coisa do nosso passado faz sentido, durante muito tempo eu vivi na incerteza, as vezes parecíamos apaixonados, outras vezes parecia que ele nem ligava pra mim, eu queria ficar com ele, mas não vim pra cá por isso e não vou voltar por ele. Não tem nada pra mim lá mesmo ele voltando.

— Eu te amo, Theo. — digo com o rosto em seu peito — Eu não estou dizendo porque você me disse, estou dizendo porque é verdade, eu amo meus avós, e se eu pudesse teria dito mais isso a eles, mas agora eles não estão mais aqui, você está e eu quero que você saiba.

— Eu preciso ir. — diz ele se afastando. — Isso não é um adeus, Mabi. — ele sorri.

— Tenho orgulho de você, Theo. Obrigada por tudo o que você fez. — sorrio para ele de volta que solta a minha mão devagar.

Então ele sai pela porta, embora eu sinta um nó na garganta e dor no estômago, estou feliz porque ele tem uma família para qual voltar, para qual levar um diploma que todos estariam felizes por ele.

Começo a pensar que nunca vou ter isso, eu estudo tanto, abro mão de tantas coisas, tantas experiências que todos os jovens passam pra estudar mas não vai ter ninguém lá me aplaudindo no final, meus avós estão mortos, eles não viram eu me formar no ensino médio, nem na universidade, nem agora. Então pra quê tudo isso? Eu já tenho um ótimo emprego. Acho que eu posso desistir, simplesmente parar.

Trabalhar na editora e ganhar um bom salário como muitos lá fazem. Não preciso concluir o último ano do mestrado e da faculdade de jornalismo, eu já ter me formado no ensino superior já é excelente.

Vou dormir me sentindo leve com esses pensamentos porque desistir disso tira um peso enorme das minhas costas.