São Paulo
Meses antes...Acordo atordoada com o meu celular tocando. Bato a mão na mesa de cabeceira, ainda com os olhos fechados, tentando encontrá-lo pelo tato e assim que o faço e o trago até o meu rosto, aperto os olhos pela claridade da tela. Segundos se passam até que eu consiga abrir o olho e enxergar quem está me ligando, quando leio o nome do Bruno no visor. Mais que imediatamente, atendo a ligação.
- Bruno? - pergunto forçando a voz para que não saia sonolenta demais.
- Você é a mulher do Nobru? - é a voz de um rapaz mas não é a voz do Bruno. Me sento na cama e tiro o celular da orelha, encarando o visor de novo para ver se não li errado.
- Sim, quem está falando? - pergunto desconfiada, temendo que algo de ruim tenha acontecido.
- Cara, desculpa incomodar, é que não sabíamos o que fazer. Eu me chamo Felipe, o Nobru bateu o carro aqui na estrada do mirante. Ele está desacordado, mas está bem, só o carro que vai precisar de concerto... - fiquei em choque. Por um instante precisei raciocinar pra ver se tinha escutado certo. - Alô?
- Isso não é nenhuma pegadinha né? Por que se for, eu ju...- não consegui continuar, nem precisei imaginar nada, já sentia meu coração batendo na boca, meu êstomago embrulhou. Pela primeira vez em meses, estava tendo um começo de crise de pânico.
- Não é pegadinha, eu juro. Vou compartilhar a localização com você, eu também precisei de um tempo pra me acalmar e conseguir te ligar. - Me obrigo a levantar as pressas da cama, com o coração acelerando mais a cada movimento que eu fazia.
- Tudo bem, pode mandar, já chego aí. - Desligo o celular sabendo que se continuasse tentando falar, entraria em desespero.
Corro até o guarda-roupa, visto a primera peça de shorts e blusa que encontro e vou até o quarto da nossa ajudante daqui de casa, pedindo para que ela cuide da minha filha até que eu volte. Não enrolo para sair de casa, já que a única coisa que rondava na minha mente era aquela maldita frase.
"O Nobru bateu o carro."
A cada vez que o meu cérebro repetia isso, eu ficava ainda mais agoniada. E embora tentasse não me apavorar enquanto dirigia, eu sentia o desespero entrar no meu coração. Aquela horrível sensação de morte, o choro em soluços como se eu mesma estivesse correndo perigo. Não tem outra explicação, é definitivamente, a sensação de desespero que você sente, quando sabe que vai morrer.
Eu só tentava ignorar o que estava sentindo, por que no fundo, uma voz dentro de mim me lembrava que era o pai da minha filha que precisava de mim e eu TINHA que chegar até ele. Enquanto o meu peito subia e descia descompassadamente, eu desviava dos carros que estavam na minha frente como se fugisse da polícia, e forcei o meu pé a afundar no pedal do carro tantas vezes, que quando cheguei ao local, já sentia os meus dedos dormentes. Não quis acreditar quando vi o carro dele com a frente toda destruída. É o tipo de cena que fica na sua mente pelo resto da sua vida.
Estacionei o carro atrás do dele desajeitadamente e desci com pressa do mesmo, correndo até o carro do Bruno e o encontrando deitado no banco de trás, com um risco de sangue na testa. Cobri a boca com as mãos e dei um passo pra trás, onde senti uma mão leve tocar o meu braço e me virei, dando de encontro com 3 adolescentes que também estavam com seus rostos abatidos.
- Quando ele acordou, a única coisa que ele repetia era pra gente não deixar você saber...mas ele está bem, só dormiu de novo. -o rapaz que tocou o meu braço diz gentilmente e eu solto a respiração que nem percebi que estava segurando.
Os três me ajudaram a me acalmar e assim que a minha crise passou, fui dar uma olhada em volta do carro, vendo o estrago que foi feito contra um barranco.
"Como ele pôde chegar a esse ponto?" Era isso o que eu pensava ao olhar toda aquela situação.
Como o dia já estava para amanhecer, pedi ajuda aos meninos que estavam ali com a gente, para que colocassem o Bruno no meu carro, e assim eles fizeram.
Deixei o carro do Bruno fechado e peguei as chaves, junto com alguns dos seus pertences lá dentro, dirigindo pra casa em seguida. Assim que chegamos, tive um imenso trabalho para que ele saísse do carro e entrasse em casa, já que o mesmo estava todo mole.
- Você não pode tocar em mim, eu tenho uma mulher e uma filha! - era isso que ele repetia toda vez que eu tentava o ajudar a entrar em casa e foi assim durante todo o percurso até o nosso banheiro.
Quando chegamos, apenas o coloquei sentado no chão do banheiro e liguei o chuveiro deixando com que a água caísse em cima do mesmo, que soluçava com o olhar cansado.
Puxei o meu celular do bolso dando um suspiro pesado e vendo que já estávamos perto das 07h, liguei para um amigo mecânico que poderia buscar o carro e levar para o concerto.
Assim que desliguei a chamada, desliguei o chuveiro e ajudei o Bruno a ficar em pé, tirando a sua roupa logo em seguida. Levei ele para o nosso quarto, o enxuguei rapidamente e o ajudei a vestir uma cueca. Assim que terminamos, o mesmo lançou um olhar para mim, desviando no mesmo instante.
- Não tô com raiva de você, Bruno. - Empurrei seu peito para que ele deitasse na cama e o cobri. Ele virou de costas pra mim e suspirou pesado. Sabendo da sua vergonha, sai do quarto e fui ver a minha filha.
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𝗯𝗲𝘁𝘁𝗲𝗿 𝘄𝗶𝘁𝗵 𝘂² | 𝗻𝗼𝗯𝗿𝘂
Fanfictionserá mesmo que esse castelo foi construído forte o suficiente para que nunca fosse derrubado? ya, a apunhalada mais dolorida vem daquele que nunca esperamos...