reabilitação

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São Paulo

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São Paulo

Depois do que pareceu ser um sonho infinito, me forço a abrir os olhos sentindo a garganta seca. Piscando várias vezes para me acostumar com a luz forte, consigo distinguir o teto, escutando vários 'bip' por perto. Estava no hospital. Tento me forçar a falar mas o que sai da minha garganta é apenas um som estranho e então sinto ela doer. Escuto uma cadeira se arrastar e logo ouço a voz embargada da dona Jana, minha mãe.

- Meu Deus, filho, você acordou! Você tá bem? Tá sentindo dor? - Balanço a cabeça negando e sinto o pescoço doer também, o que me leva a fazer uma careta. - O médico, Jeferson, o médico. - Ela grita em direção a porta e alisa o meu rosto com a mão. Logo a porta se abre e um homem entra no meu campo de visão.

- Que bom que você acordou, Bruno. - Ele diz e sorri. Tento abrir a minha boca para falar alguma coisa e outra vez não consigo dizer nada, franzindo as sobrancelhas. - Tudo bem, não precisa se esforçar. Já fez muito, acordando. Nós vamos só fazer alguns exames e logo você vai poder sentar e comer. - Ele sorri de novo e se afasta, pega uma prancheta na mão e olha na direção da minha mãe. - Dona Janaína, pode me acompanhar, por favor?

Minha mãe se curva depositando um beijo na minha testa e logo sai do quarto me deixando sozinho, com a companhia do meu pai, que até então não tinha dito uma sílaba sequer. Longos minutos se passaram e então o médico e duas enfermeiras entraram no quarto. Uma das enfermeiras apertou um botão e isso fez com que a cama se curvasse até que eu ficasse reto o suficiente pra comer, enquanto isso, a outra veio até mim me ajeitando na cama. 

Então, uma das enfermeiras deixa um suporte para bandeijas em cima da cama e logo alcança a bandeija com um tipo de mingau e água. Como um leão, alcanço sedento o copo de água, sentindo a minha mão pinicar pelo cateter que estava preso ali, mas ignoro isso pela sede que sinto. Assim que bebo água o suficiente, sinto o aspecto seco na minha garganta melhorar e então respiro fundo.

O médico começa a me fazer algumas perguntas, as quais eu consigo responder com a língua meio embolada, mas o suficiente para que ele conseguisse entender. As enfermeiras saem do quarto e então o médico e meu pai ficam me assistindo comer, em completo silêncio. Quando termino, o médico retira o suporte e a bandeija do meu colo, os colocando sobre uma mesa do lado da cama. 

- Bom Bruno, eu me chamo Israel. Sou o médico geral aqui do hospital. - Ele diz calmo e eu balanço a cabeça concordando. - Você está aqui desde os últimos quatro dias, pois sofreu um princípio de overdose, além de ter se engasgado na hora, o que quase fez você morrer. - Franzo as sobrancelhas ainda confuso e ao tentar me lembrar, sinto minha cabeça doer. - Sei que é muita informação pra você no momento, então, vamos te manter aqui em observação pelos próximos sete dias, só para nos precavermos caso haja alguma sequela, o que eu acredito que não vai acontecer. Vou deixar vocês dois á sós agora, tenha uma boa noite. - Ele sorri e então sai do quarto.

Eu sei que vários minutos se passam, e eles parecem ser uma eternidade comigo ouvindo nada mais que os 'bip' da máquina e a respiração pesada do meu pai. Não tinha ouvido a voz dele até agora.

- Eu não vou ser bonzinho com você, Bruno. - Ele diz de repente enquanto se levanta da poltrona e para aos pés da cama me encarando. - Sua mãe e eu sofremos muito pra criar você, e agora você quer acabar com a sua vida se entregando às drogas? - Aponta o dedo pra mim. - Eu não vou deixar!

Faço menção de abrir a boca para me defender mas ele não deixa. Era melhor eu só escutar mesmo.

- Você batalhou pra ter a vida que você sempre quis, você tem uma filha e uma mulher maravilhosas que você abandonou, você era um exemplo pra criançada da quebrada, que merda você quer virar? - Aperto os lábios sentindo cada palavra do que ele me diz e sei que ele está certo. - A partir de hoje, você não vai mais ingerir 1ml desse caralho qualquer que você anda ingerindo. Enquanto você não aprender a viver como deve, eu não vou te deixar em paz...eu já entrei em contato com uma clínica de reabilitação no interior da cidade e assim que você tiver alta, você vai pra lá.

- Perai, pai, acho que não precisa de clínic-

- VOCÊ QUASE MORREU, BRUNO! - Ele me corta, gritando. Meu pai já não tinha mais um pingo de paciência pra mim. - Você tem noção da gravidade disso? Moleque, você sabe o que a sua mãe ia virar se você morresse? O que a Yasmin ia fazer? A sua filha, a Mali que você ama tanto, ia crescer sem o pai dela por que ele decidiu ser um completo merdinha entregando a própria vida pras drogas...

Abaixo a cabeça e respiro fundo...já nem lembrava mais da última vez que peguei a minha filha no colo.

- Eu juro pra você Bruno, eu mesmo me mato se isso acontecer outra vez...

E então ele sai do quarto, me deixando com um silêncio absurdo e uma noite tomada pelo cansaço da insônia.

E então ele sai do quarto, me deixando com um silêncio absurdo e uma noite tomada pelo cansaço da insônia

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𝗯𝗲𝘁𝘁𝗲𝗿 𝘄𝗶𝘁𝗵 𝘂² | 𝗻𝗼𝗯𝗿𝘂Onde histórias criam vida. Descubra agora