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Ouro Verde, interior de São Paulo

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Ouro Verde, interior de São Paulo

Um mês tinha se passado. Um mês de uma pequena bagunça por conta da mudança repentina, alguns choros da Mali durante a noite, por não estar acostumada a nova casa e vizinhos curiosos vindo me recepcionar. Um mês muito cansativo...

Escolhi vir pra essa cidade, por que era onde a minha mãe morou até seus 27 anos, então sabia que em algum pedacinho daqui, encontraria memórias dela. Foi uma escolha que fiz aqui no coração, e tinha certeza de que passar esse tempo aqui seria ideal pra colocar as coisas no lugar.

A cidade não tinha mais de 9mil habitantes e transmitia uma tranquilidade e paz de espírito divinas, o que era algo que a minha alma sempre almejou, então estava feliz. Tinha saído em alguns momentos para passear com a Mali em uma praça perto de casa onde ela fez várias amiguinhas, que também eram bebês. Não conseguia deixar de pensar em como seria bom pra ela, crescer em um lugar calmo assim.

No meio da manhã, meu telefone toca. Era o meu irmão. Estranhei a ligação já que já tínhamos conversado na noite anterior, mas acabei atendendo da mesma maneira.

- Bom dia... bem? - O tom de voz dele me fez franzir as sobrancelhas. Algo aconteceu?

- Bom dia, tô bem sim. O que houve? - Pergunto e abro a porta dos fundos, me sentando na cadeira de balanço que tínhamos no quintal.

- Eu ia te contar uma coisa ontem...mas fui covarde e não quis contar. Porém a Isis brigou feio comigo e me disse que seria melhor se você soubesse por mim. - Respiro fundo já me preparando pra algo pesado. Da última vez que o Lucca falou assim comigo, foi pra avisar da morte da nossa mãe.

- Diz logo, Lucca. me deixando nervosa! - Ele suspira.

- Antes de tudo, eu preciso que você saiba que eu não te contei antes por que tinha a plena certeza de que ia abandonar tudo e voltar pra ...e eu não queria que você voltasse. Um dia depois que você foi embora, o Nobru deu entrada no hospital à beira da morte, foi princípio de overdose. - Foi como uma facada no meu peito, por um momento, o ar não foi suficiente pro meu pulmão e meu coração palpitou.

- E-Ele bem? - Pergunto sentindo o peito doer.

- Pelo amor de Deus, Ya...respira fundo e não se deixa abalar, eu vou te explicar tudo, me houve. - Assim como ele pede eu respiro fundo, sabia que se me deixasse levar pelo pânico, ia deixar a minha filha desamparada.

- Tudo bem...pode continuar. Me conta tudo, eu processo as informações depois.

- Certo. Tudo o que eu sei, é o que o Jefão me contou, ele acompanhando o Bruno de perto. Então, um dia depois que você foi embora, parece que ele estava em um galpão na saída da cidade desde o aniversário da Mali, se drogando e fazendo mais sabe-se lá o que. Nesse meio, o dinheiro que ele estava na carteira, acabou e por último até o carro ele negociou pra pagar as drogas. um dia depois que você foi embora, ele ingeriu uma alta quantidade de droga injetável e foi demais pro organismo dele, o que acarretou no princípio de overdose, como ele foi meio que, vomitar, ele engasgou na hora... caiu, bateu a cabeça, parece que foi feio. Não sabemos como mas alguém ligou pra polícia sem se identificar e contou o que houve, a polícia chegou junto com a ambulância e levaram ele. Ele ficou 4 dias desacordado mas quando teve alta, o Jefão e a dona Jana, levaram ele direto pra uma clínica de reabilitação. Ele agora passando pelo processo de desintoxicação do organismo. Isso é tudo...

Desligo a ligação e passo alguns minutos em silêncio tentando assimilar tudo o que eu ouvi. As minhas mãos tremem e provavelmente minhas pernas estão bambas, mas eu não estou surpresa.
Quero dizer...é o que sabemos que vamos ouvir em algum momento quando você convive com um viciado. Desde o momento em que soube que ele estava fumando maconha, eu tentei conversar com ele e pedir pra que ele parasse. Mas alguma pessoa no estado emocional em que ele estava ouve alguém?

O Bruno não queria mais viver. Ele já não tinha mais ânimo, forças e nem vontade pra nada. Quando isso começou, todos nós achamos que ele ia superar, por que ele sempre superou tudo. Ele sempre foi o exemplo, ele sempre foi o mais determinado, o mais paciente, aquele que nunca desistia...e olha o que isso custou.

Será que é esse o preço de tentar ser perfeito?

Eu queria ter conversado com os amigos dele quando eles se afastaram. Queria ter pedido pra animarem ele, pra brincarem com ele, chamarem ele pra jogar, mas eu também não fiz isso. Quando o Bruno me "abandonou", eu também o abandonei. Nosso acordo de estarmos juntos na saúde e na doença, não valeu pra essa situação.

Eu tentei mostrar o meu apoio mas também não foi o suficiente. Ele simplesmente não queria saber de nada...nem de mim, nem do jogo, nem de dinheiro e nem da Mali. E agora o meu menino, aquele que eu amo tanto, tinha quase morrido, estava precisando de mim...e eu o abandonei outra vez.

Uma notificação chega no meu celular e eu torço pra que o Bruno tenha lido meus pensamentos e tenha mandado uma mensagem. Desbloqueio o celular com pressa e mais uma vez, sinto uma faca ser empurrada contra o meu coração. Não era o Bruno...

Lucca: Nem pense em mover um músculo pra sair daí e vir atrás dele. Ele se mudou, está em uma clínica, é melhor vocês ficarem longe por esse tempo. Eu sei o quanto você o ama, mas a sua presença não vai ajudar ele agora. Tudo o que ele menos precisa, é ver você e a Mali e ficar se culpando pelas coisas terem acontecido dessa maneira. Fica bem, logo vamos te visitar.

Sinto as lágrimas rolarem pela minha bochecha e bloqueio o celular o jogando na mesinha de centro. Tudo o que eu queria, era o meu menino de volta pra mim.

Como naquele dia na praia, dormindo que nem um bebê encima das minhas pernas.

Como no dia em que contei que estava grávida, chorando a noite toda com medo de não ser um bom pai.

Como no dia do mundial, me abraçando com tanta força que me fazia perder o ar.

Como no nosso casamento, me dizendo que ia me amar por toda eternidade...


Como no nosso casamento, me dizendo que ia me amar por toda eternidade

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𝗯𝗲𝘁𝘁𝗲𝗿 𝘄𝗶𝘁𝗵 𝘂² | 𝗻𝗼𝗯𝗿𝘂Onde histórias criam vida. Descubra agora