drogas

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São Paulo

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São Paulo

Assim que acordo, tenho dificuldade para abrir os olhos, mas assim que consigo, fecho eles rapidamente pela ardência. Tento puxar na memória aonde, com quem e como eu estou mas tudo o que eu me lembro é nada.

Fico alguns minutos deitado no lugar onde eu estou, provavelmente um chão e me forço a abrir os olhos, lacrimejando assim que consigo, mas me forçando a mantê-los abertos.

Estou realmente no chão, meu corpo está um caco e eu realmente não faço ideia de que lugar é esse. Parece um galpão, tem alguns sofás espalhados pelo lugar, algumas mesinhas, três camas e muita gente jogada por aí...e como eu parei aqui?

Tento pensar direito, mas a minha visão está turva e tem milhares de vozes rondando pela minha cabeça, o que faz ela latejar ainda mais.

Com dificuldade, sento no chão e olho um pouco a minha volta, encontrando uma seringa, colher e as minhas roupas jogadas do meu lado, e junto com elas, uma loira que eu não sei quem é. Pareço ser o único acordado aqui.

Não sei onde o meu celular está, nem as chaves do carro e muito menos minha carteira...provavelmente dessa vez a Yasmin me mata. Ao lembrar da Mali e da minha mulher, levanto em desespero catando minha calça do chão e levanto ela para tirar do avesso e vestir quando o mundo todo gira demais e eu caio no chão.

"Que péssimo pai a Mali tem..."

É oque a minha consciência me diz...até eu apagar de novo.

xx

Pisco os olhos devagar enquanto escuto uma bagunça desordenada ao meu redor. Abro os olhos vendo uma lampâda amarela acesa em cima de mim e isso faz o meu olho arder, de novo. Me sento devagar e olho em volta vendo que ainda estou no chão desde o momento em que eu caí. Não sei quanto tempo se passou, não tenho noção de nada.

- Bruninhoooo, você acordou! - David, um colega próximo vem até mim e me puxa pelo braço, fazendo com que eu me levante desajeitadamente. - Vem, chegou uma coisa nova. Você precisa provar.

- Na próxima, David. Preciso ir pra casa. - Sinto outra vez uma pontada forte na nuca e coloco a mão sobre o local, ultimamente estava tendo essa dor frequentemente e não estava parando. - É aniversário da minha filha...

- Você quer dizer que ontem foi né? Você tá dormindo desde ontem, cara... - Suspiro e passo as mãos no rosto, frustado.

- Mais um motivo pra eu ir... - Ao passar por ele, o mesmo segura meu braço com força demais, me fazendo estranhar. Ele balança a cabeça negando e eu franzo as sobrancelhas.

- Você não pagou a última dose que tomou por que seu dinheiro acabou, não lembra? Vai ter que esperar o Carlinhos chegar pra negociar com ele. - David solta o meu braço e me empurra pelo ombro me fazendo cair sentado na cama que estava perto de nós. - Já ele chega, aguenta aí.

David saiu andando e me deixou sozinho. Por dentro, a culpa, raiva e decepção estavam me consumindo. Não conseguia lembrar o momento onde eu deixei de ser um guri que era exemplo e virei esse merda. Eu não me reconhecia mais.

Abaixo a cabeça encarando meus próprios pés e deixo as lágrimas caírem, meu peito estava aflito demais. 

Vejo um pé feminino parar em frente aos meus e olho pra cima, encontrando uma mulher ruiva me encarando. Ela balança a cabeça em negação e eu me sinto contrangido demais. Então ela puxa do bolso de trás da sua saia uma seringa com um líquido branco dentro e estica a mão até mim. Sem forças nenhuma pra negar, eu estendo o braço esquerdo pra ela e ela aplica a droga na minha veia.

Logo, todos os sentimentos ruins em mim começam a se desfazer e eu me sinto leve de novo. O galpão todo é tomado por coisas coloridas e em vários formatos e é tão divertido. Não sei quanto tempo fico sentado mas não me aguento ali, preciso levantar, rodar e pular por que sinto como se estivesse voando. Em algum momento alguma caixa de som foi ligada e era a gargalhada da Mali que saía dela.

Me aproximo da caixa de som em formato de um sapato gigante e começo a chamar pela minha filha, que responde "papai" várias vezes seguidas. Eu gargalho junto. Era tão bom ouvir a voz dela.

"Bruno, sai..."

Era a voz da Yasmin...

Yasmin?

A mamãe da Mali...

Sinto um líquido subir pela minha garganta rápido demais e engasgo com o mesmo sem saber o que era.

O mundo gira rápido e vai ficando torto até que fique tudo escuro.

Então sinto meu peito pular e escuto vozes abafadas. Não é mais a risada da Mali.

Abro os olhos brevemente vendo luzes azuis e vermelhas piscando em volta de mim.

E depois, só escuro de novo. 

 

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𝗯𝗲𝘁𝘁𝗲𝗿 𝘄𝗶𝘁𝗵 𝘂² | 𝗻𝗼𝗯𝗿𝘂Onde histórias criam vida. Descubra agora