Capítulo 01

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— Vai sair de novo, Emma? Quase não te vi essa semana. - A Mary reclama, queria passar mais tempo com a menina antes do início das aulas. - Ruby não aguenta mais ouvir as mesmas histórias.

— Ela te adora, vovó. - Deixa um beijo na testa da mais velha, que faz um estalo nostálgico. - Amanhã nós nos vemos depois da aula e vamos bater um papo. Prometo.

Em uma troca de olhares, pareciam conversar sobre os últimos meses: Expulsa da casa da outra avó paterna por ter sido encontrada na cama com uma amiga. Mary jamais faria isso. Quando não aceitou há dois anos em sua casa, foi pelo luto recente de sua única filha. Emma se parecia demais com Helena e aquela lembrança constante era demais para si.

Agora a menina estava de volta ao lugar que nunca deveria ter saído, debaixo e suas asas, e tomara que não saia novamente tão cedo.

Mary acolheu Emma e sua melhor amiga com a exigência de que estudassem e formassem no ensino médio. Não era pedir muito, já que a garota não tinha ao menos entrado em sala de aula no último ano.

Os olhares se quebram com sorrisos tímidos, Emma jamais se cansaria de olhar sua avó para matar a saudade. E do outro lado, Mary não cansava de admirar a mudança física e emocional da neta desde que chegou. A calça de couro mais justa nas coxas, a disposição e até mesmo gargalhadas entre conversas. Aquela estava voltando a ser sua pequena menina.

Ainda existiam coisas na cabeça da moça, era perceptível. Relaxa a mandíbula que travou durante a mine busca por suas chaves sobre o aparador debaixo do espelho no hall de entrada da casa. Bufa frustrada com o delineado borrado refletido no objeto, nem mesmo saiu e já estava toda bagunçada.

— Você está linda, amiga. - Ruby chega da cozinha e comenta ao ver a loira se encarando no espelho.

Nossa loira de olhos claros sorri pequeno, não considera aquelas palavras. Ela acredita ser ou estar muitas coisas, porém bonita não era uma delas. Quando se arruma para sair, se sente assim: Falsa consigo; traidora de sua própria mente. Por vezes acreditou não estar no direito continuar vivendo, após a perda dos pais. Mas hoje isso não é uma questão mais.

— Estou indo naquela boate do centro, a da maçã. Tem certeza de que não quer ir? - Insiste pela décima vez para a amiga que abraça sua avó no sofá, antes de negar. Não queria perder a hora amanhã e desapontar a família de Emma, afinal, elas já estavam fazendo demais por ela. - Então, por que não vêm as duas?

— Ah Emma, caça pelo em ovo não. - Mary reclama antes de ouvir os risos das meninas. - Anda, anda, anda! E não perde a hora amanhã.

Assim a menina parte em sua moto preta, assim como todas as peças de seu guarda-roupas, para aproveitar sua última noite livre de responsabilidades. Aproveitar uma festa seria bom para esquecer a razão de seu retorno. A imagem de sua avó aos gritos puxando os lençóis e insultando sua amiga, era cansativa demais. Até agora não entendia se o desespero era por Emma estar na cama com uma mulher ou com uma mulher preta.

Pouco distante daquela pista, Regina, outra pessoa que em breve se reencontraria com Emma, estava nua, se olha no espelho e encara o dedo sem aliança. O divórcio definitivamente estava lhe fazendo bem. Com as duas mãos segura os próprios seios e tomba a cabeça analisando cada detalhe corporal: Os cabelos tão pretos quantos seus olhos, descem sedosos e ondulados na altura dos ombros, realçando o dourado da pele. O que Regina Mills tem de linda, tem de inteligente!

Empresária por acaso, professora por paixão e grande apoiadora da ONG Cuidar, instituição que acolhe e capacita crianças e adolescentes órfãos no estado do Oregon. Brasileira que perdeu os pais ainda criança num desastre aéreo e foi adotada pelos tios que moveram céus e terras para que se sentisse amada e amparada.

Um exagero de mulher!

— Gina! Cheguei! - Escuta a voz do irmão ao longe. Não demora um minuto até que Lola invade seu quarto em uma euforia de saudade. Regina coloca a primeira roupa que encontra no closet, por coincidência era a mesma que usou na noite passada.

O irmão tinha trazido a comida que prometeu, também tinha uma garrafa de vinho nas mãos. Vinho que Regina não iria permitir que tomasse. Ele, assim como Emma, ainda é menor de idade.

— Oh Jesus... - Solta em frustração ao ver a mochila do garoto no chão perto da saída dos fundos. - Amanhã começa tudo de novo! 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora