Capítulo 23

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— Vocês precisam parar de marcar jantar apenas para conversas sérias. - Cora tem as duas mãos na cabeça, abrindo seus olhos. Emma acaba de contar tudo o que aconteceu no vestiário, Regina está calada desde o momento em que a menina começou a contar sobre Tinker.

Era possível ver a raiva e o desejo de resolutiva passando em sua mente. Odete sugeriu que Emma colocasse um fim na chantagem dizendo que ela e Regina não tinham mais nada e assim ficava livre de Tinker e ganhava um tempo. Regina de modo algum aceitaria uma coisa dessas. Pois, se sabendo que eram namoradas teve a audácia de agir dessa maneira, quem dirá separadas.

— É simples, eu renuncio o cargo na escola e se ela espalhar as fotos podemos dizer que eu já não era professora. Emma é maior de idade, a família dela inteira sempre soube. Não tem nada de errado, mesmo que alguns pais se sintam incomodados. - Começa a explicar seu ponto. - Perderemos alguns alunos caso ela exponha? Foda-se. Outros virão do mesmo jeito.

— Amor, eu não posso deixar que você faça isso, tentei pensar sozinha em uma saída exatamente para que não se machucasse.

— E errou, Emma, quantas vezes eu te pedi para tomar cuidado com a Tinker e para me procurar caso as coisas não saíssem como nosso esperado?

— Agora não é hora de questionar o porquê ela falou ou não com você primeiro, filha. - Henry começa. - É hora de uma decisão certeira.

O casal se encara por poucos segundos, Emma gostaria de desculpar-se. Mas como diria estar arrependida se naquele momento não estava? Queria apenas polpar a namorada, evitar que perdesse o que mais ama fazer.

— Você não entendeu ainda, Emma? O que eu mais amo é você! Lecionar eu posso em uma das ONG, posso em outro colégio, em casa até. Agora você eu não posso perder.

— Você... Me ama?

— Pelo amor de deus, querida. Às vezes você é tão lenda. - Sorri e passa os dedos no ombro da garota, marcando sua pele rosada em um risco branco pela pressão do toque. - Se eu não amasse, não teria nem mesmo cedido ao seu beijo, tampouco me entregue desse jeito.

— Então podemos estar decididos? Regina sai da escola, e você tem uma conversa séria com a tal menina. - Ele agora tem os pés da esposa sobre seu colo, toque físico era sua linguagem do amor, igual Regina. A todo instante eles tinham a pele de suas amadas sob seus dedos. - Já tínhamos conversado sobre isso antes de começarem o relacionamento de vocês, já sabíamos que isso ia acontecer e olha que beleza, já tenho até uma professora para substituir você.

— Quem? - Cora questiona sentindo a pressão em seus pés aumentar, ele não queria demonstrar, mas estava triste por perder a presença de sua menininha na escola. Regina sempre seria a filhinha do papai.

— Helena, ela colocou o currículo hoje na escola. Quem sabe até você não leciona no próximo ano, quando sair da escola, Emma? Aulas de violino seria um diferencial bom e quando Regina voltar, fica mais fácil para um casamento as duas terem renda.

— Papai! 'Tá' doido?!

Todos acabam por rir, era tão recente o namoro que chegava a ser cômico. Emma finge estar ofendida, e nesse clima leve a conversa continua até que Henry Júnior chega da festa que foi. A conversa continua e as decisões urgentes são tomadas, não há motivo para turbulência quando tudo foi pautado na honestidade.

— Me sinto uma adolescente todas as vezes que nos despedimos na porta de casa, sabia? Ainda mais com meus pais me esperando lá dentro. - Seus olhos encaram as mãos dadas, era prazeroso saber que quando estão juntas fora da escola, suas mãos sabem exatamente onde ficar. Depois de um tempo em silêncio juntas, volta a falar. - Pensando pelo lado bom, agora posso te beijar onde quiser, te tocar quando quiser.

— Agora não precisamos nos amassar no seu carro antes da aula, apesar de eu adorar fazer isso.

— Podemos nos amassar sem precisar esconder, meu amor. Esse é o principal. - Beija a mão de sua amada antes de sorrir em liberdade. - Sabe, papai estava certo, eu poderia ter saído da escola antes e evitado tudo isso, me desculpa, viu?

— Amor, desculpar por que se tive o prazer de te assistir lecionar por todos esses meses? Se tive sua presença? Para mim já está de bom tamanho, e me desculpa, viu? Por ter fugido sem te contar.

— Está tudo bem, não te amo menos por isso. - Fala sapeca, roubando um selinho da garota.

— Repete isso? Que me ama?

— Oh querida, eu repito e vou repetir todos os dias, porque eu te amo.

Ter seu amor em seus braços após ouvir que é amada, é em um sonho do qual Emma desejava não acordar mais. Beijar seus lábios com paixão, após confessar a reciprocidade do sentimento também é utópico. Beira ao sublime quando Regina puxa o lóbulo de sua orelha com os dentes, em uma promessa de que se não estivessem no meio da rua, na porta da casa dos seus pais, o beijo não iria parar por ali.

— Eu te amo tanto, Regina. - Um diálogo que poderia demorar mais outros trinta minutos entre beijos e bate-papo, é interrompido por uma lâmpada piscando. A gargalhada da ex-professora é nostálgica. - O que foi?

— É a mamãe piscando a luz, para que eu entre. - Confessa que a matriarca fazia aquilo em sua adolescência. - Acho que temos tempo para mais um beijo.

— Por favor. - A súplica vem com o corpo colado ao seu, os corações batendo em ritmo frenético juntos, um buscando pelo outros. Se beijam novamente, sem receio de serem vistas.

Minutos mais tarde a mais nova sobe em sua moto e parte para o encontro de sua família para contar a decisão e explicar pela terceira vez na semana o que aconteceu. A mais velha entra na casa, apenas para pegar sua bolsa e se despedir. Mas seu coração se derrete com uma frase tão gostosa de ouvir vinda de uma mãe.

— Por tudo o que tem acontecido, por ser feliz como tem sido. Estou orgulhosa de você, minha filha. Mais do que poderia te dizer. 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora