Capítulo 02

107 11 0
                                    


— Porra! Porra! - Tateia os lençóis procurando pelo celular. O sol estava alto demais para o horário que precisava se levantar. - Perdi a merda do alarme.

Desiste de encontrar o celular, corre para o banheiro do outro lado do quarto. O barulho dos pés na taboa do assoalho é abafado por um tapete quadriculado em preto e branco. Desde que voltou para a cidade, mora no quintal da avó, em uma casa construída por seus pais na árvore grande do quintal.

Lavar o corpo enquanto escova os dentes foi a coisa mais rápida a se pensar, não foi ao menos capaz de tirar toda maquiagem preta na noite passada e o espelho não escondeu seu semblante abatido. Seu celular tocou, no pior momento, vestia sua bota. Então manca o mais rápido até a cama para não acordar sua companhia que dorme pesado.

— Amiga, cadê você? Sua avó vai ficar puta se perder o primeiro dia. - A voz doce de Ruby ressoa preocupada, uma das coisas que mais acalmam Emma.

— Em casa, perdi a hora. - Termina de amarrar o sapato. - Mas já estou saindo, não se preocupa.

—Tudo bem, não demora, Emms! - Não obtém resposta. A loira desliga antes de escrever em um post it e colar na mulher que ainda dormia. Não perderia a manhã por causa de alguém que nunca mais encontraria.

Pilotar, assim como fazer música, é sua maior paixão. Talvez por isso, acelerar no asfalto do seu bairro não era nenhum aborrecimento. Sentir o vento cortar seu corpo e balançar sua jaqueta diminuía em significância o barulho interno. Até quando para no semáforo consegue ter a mente vazia de preocupações. Conseguiria, se não fosse o pequeno acidente que presenciou na calçada do outro lado da rua.

Como em uma câmera lenta, uma senhora distraída enquanto desce de um taxi, fora atingida por um ciclista andando na calçada. Morena de pele parda, trajava uma roupa social que parecia cara demais para estar de encontro ao chão.

Acredito que o vazio da mente de Emma em cima daquela motocicleta tenha sido o principal fator que a fez levar o veículo até o outro lado. Pois ainda de capacete, ajudou a senhora se levantar. Ainda fez o favor de ajudar o taxista a descer com as bagagens.

— Obrigada... – Finalmente a senhora se pronuncia, ainda trêmula pelo susto. Mas acaba rindo com a garota que demora para entender sua espera por um nome.

— Emma! – Tirou a luva preta da mão direita e a estendeu para cumprimentar. - E a senhora? Está bem? Se machucou?

— Estou ótima, querida. - Passa a mão na parte sua de sua calça e encara a fachada do prédio em que mora, antes de pegar um cartão de visitas para a menina. - Estou te devendo, então se precisar, me procure.

Emma pega o cartão bege de escritos marrons, o dedo passeia sobre os relevos: Cora de Mills – Presidente. No verso estava o nome da empresa e seus números para contato. Aquele sobrenome, já o conhecia, certo?

— Que isso, imagina! - O capacete não protege totalmente seu rosto e Cora achou graça no rosar das bochechas da garota, a deixando com o ar ainda mais jovem. - Faz o bem para alguma pessoa hoje e estaremos quites. Tenha um bom dia, viu?

Encara o relógio do celular assim que monta na moto e constata o óbvio: Está oficialmente atrasada. E dessa vez, nem mesmo o vento e o barulho do motor lhe descansaram a mente. Se perdesse o primeiro dia iria deixar Mary frustrada e isso estava fora de cogitação.

Lembra que na noite de ontem, antes de entrar na boate, recebeu uma ligação de sua tia Ingrid ressaltando a importância do diploma, sobre como seus pais estariam orgulhosos e como foi complicado conseguir uma vaga para ela e Ruby em um colégio tão renomado. Essa vaga tinha sido um favor pessoal para Mary, já que Helena sua filha além de ter sido professora na instituição, era melhor amiga da filha do dono na adolescência. Não poderia jogar essa oportunidade fora.

— Atrasada! - Ruby afirma o óbvio assim que encontra a amiga no corredor. Outros alunos da sua classe também estavam saindo, seu horário seria no ginásio. - Sua sala é no final do corredor.

Ótimo. Não estariam na mesma sala, o que era uma lástima. Emma achava a companhia de sua amiga fundamental para enfrentar esse último ano de escola. Ano passado ela não estudou, e no fundo se sentiria capaz de conseguir, principalmente com a fama de rigidez do Instituto Rousseau.

Como se adivinhasse, os olhos amêndoas da amiga se encheram de afeto antes de abraçar Emms que era tão mais alta fazendo a amiga apoiar o corpo na ponta dos dedos. Elas não poderiam atrasar mais ou algum monitor passaria e lhes chamaria a atenção. Emma corre até o fim do corredor, parando frente à numeração dourada da porta: 03 ano B. 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora