Capítulo 10

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Todos os dias, pego qualquer certeza que tenho e jogo fora. Por que, vamos ser sinceros, qual a utilidade dela? No início do mês, Mary tinha certeza de que não traria o namorado para o aniversário da neta. Hoje ele está acendendo a churrasqueira junto do namorado de Ruby. A menina e a senhora estão terminando de colocar a decoração enquanto Emma toma banho e os convidados terminam de chegar.

— Ninguém molhou esse carvão não? - O senhor pergunta após outra tentativa frustrada. Nessa altura, o grupo de motoqueiros já havia chegado em conjunto. Tinker também acabou indo, não era justo com a menina afastá-la por completo da vida social de todos apenas porque não possuem mais nenhum interesse amoroso.

Com a churrasqueira finalmente acesa, logo começam a tocar suas próprias músicas se demorando bastante nas brasileiras dos anos oitenta, o estilo preferido de Regina. Uma música em especial, fez Emma pegar o celular várias vezes, pensando em mandar mensagem para Regina. Ela não responderia.

Frustrada, tocou a tal música em seu violino, para a alegria de sua avó que gravava para que Ingrid assistisse ainda hoje, Rubs ambém pensava na amiga-mãe. Em especial na conversa de hoje mais cedo.

— Como ela está? - Ingrid perguntou do outro lado da linha. Talvez tenha perdido a conta de quantas vezes perguntou isso no último mês. Era uma pena não poder ir até a cidade agora. Tinha tantas coisas para concluir antes de sua aposentadoria. Tantas coisas referentes a apenas um caso, o seu último e mais significativo caso. Como um hábito em comum com a sobrinha, apaga o cigarro no corrimão da escada da promotoria, aguardando as palavras da 'filha' do outro lado.

— Ela vai bem, Dídi, aqueles dias tristes estão bem no passado. - Sorri vendo a amiga tirar a blusa de uniforme no meio do jogo, ficando apenas com o top de ginastica. - A Emms tem sido uma tão diferente depois que voltou.

— E você? - Vem um silêncio depois da pergunta. Por tantas vezes conversaram apenas sobre Emma essa semana, que foi uma surpresa a pergunta. Não que Ingrid tenha preferencias, porque não tem. Ruby é como se fosse seu próprio sangue, vinda de seu próprio ventre. Mesmo a menina não sendo órfã e muito amada por seus pais, ter uma segunda mãe tão amorosa e atenciosa era demais! Porém, após esse desvio na conversa, ela mesma volta a falar sobre Emma, pois por mais que a menina esteja bem, está preocupada. - Por quê? O que houve?

— Ela está apaixonada, mãe e disso a gente não pode protegê-la.

Como qualquer outra certeza, a de que Regina não viesse, também pode ser jogada no lixo. O nariz de Ruby virou na mesma velocidade que o sorriso nos lábios de Emma surgiu. Mas disfarçou assim que HJ apareceu indo animado cumprimentá-los e deu um abraço apertado em cada uma de suas amigas. Tinker ficou desconfortável logo no primeiro instante, pois lembrou de um olhar confuso de Regina sobre si, dias atrás quando rabiscou o nome de Emma em seu caderno.

Para Tinker, foi ainda mais desastroso quando o queixo de Emma se encontrou o chão, junto a um fio de baba que jurava ter visto. Como pode? Em um instante Emms Swan tinha todo seu foco no violino e no outro nitidamente tinha toda sua adoração em Regina Mills. Tantos momentos depois, estava na hora de ir. Para Sarinha, ali não era seu lugar mais.

Existem certezas que podemos manter, acabo de pensar. Pois que a festa foi e está sendo muito divertida, não resta dúvidas. Apenas para Emma, teve um momento após os parabéns que mais uma vez quis se retrair, como fez durante várias vezes no último mês.

A depressão causada pelo luto, tem suas recaídas em momentos inimagináveis. Como queria e desejava que Helena segurasse sua mão agora. Mas na falta da mãe, acende um cigarro, mas apaga tão rápido quando vê quem se aproxima.

— Nunca te disseram que é feio a aniversariante largar a própria festa? - O questionamento vem junto a um sorriso. Mesmo que todos riam, brindavam e até gritavam na varanda da casa da árvore, para Regina, a festa só era boa com Emma. Todavia, Emms não queria aquela aproximação amigável. Desejava tanto mais de Regina.

— Hoje, antes de chegar, toquei Fixação do Kid Abelha e só pude pensar em uma coisa. - Se aproxima, sorrindo de lado ao colocar uma mecha de cabelos pretos atrás da orelha de Regina.

— E em que pensou? - Deveria recuar, mas de onde encontraria forças? Ela queria sim saber qual foi o pensamento de sua aluna. Talvez por isso não tenha notado o quão perigosamente perto estavam seus rostos. - O que a Paulinha Toller disse que te faz pensar em Regina Mills?

— Ela me fez pensar como deveria beijar sua boca e contar bobagens, afinal, até hoje apenas fiz a segunda parte. - Quer beijá-la, mas recua. Não quer ser leviana. - Gostou das flores?

— Achei que sou um fetiche divertido para você, deve estar achando o máximo ser ousada com a professora.

— Não gosto que pense assim, desse jeito me ofende. - Estende as costas da mão até o decote da outra para acariciar ali, não foi repreendida. Ao contrário! Viu a pele de Regina se arrepiar até o pescoço, espelhando em si o arrepio. - Fico 'imaginando eles' sem nada tampando.

— E o que mais você imagina? - Seus olhos estão tão nebulosos quanto sua mente. O corpo reagindo em lugares absurdamente vergonhosos.

— O gosto dos seus lábios. - Aproximou respirou perto do ouvido da mais velha. - Devem ser deliciosos igual ao seu cheiro, tão aveludados quanto a sua voz e macios como a sua pele. - Engole seco por imaginar e beija a bochecha dourada à sua frente. - E molhados.

Então se afasta. Não gostaria de forçar nenhuma reação, muito menos comprovar o absurdo que Regina pensa. "Um simples fetiche" faça-me o favor.

— Você não é isso, sabe? Um fetiche. - Entrelaça seus dedos e deposita um beijo rápido no pulso pardo. - Você simplesmente é a mulher mais linda que conheci.

— Meu deus, não fale assim, Emma! - Tenta afastar da menina, mas o tecido da rede a faz escorregar diretamente para seu colo. Então sua força se esvai. Não é possível ter controle com o perfume de Emma sobre si.

Regina segura os cabelos loiros pela nuca e puxa, mostrando o pescoço alvo no nível de seus olhos. Inala o cheiro de fumo tão sutil entre o cheiro das flores. Aperta os próprios olhos. Onde estava seu autocontrole? Por não saber onde estava, dá o primeiro passo que Emma jamais daria: Beija-lhe o pescoço até que seus lábios lhe atingem a boca. Esplêndido. 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora