Capítulo 19

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Já faz alguns dias, na realidade faz exato dois meses desde o primeiro beijo de Regina e Emma. Assim como faz dois meses e uma semana que Emma e Tinker não se beijam. Faz sessenta e oito dias que Tinker observa cada passo de sua amiga e da professora. Tinker nota também, que Emma não fuma desde uma aula aleatória em que Regina disse sentir tontura com o cheiro de cigarro.

Emma não participa das brincadeiras de dança no intervalo, tampouco combina noites intimas como fazia no início do ano. Isso para Tinker era um desespero, mas para Regina era um deleite. Regina sabe e conhece as tristezas de Emma, coisa que aconteceu tão natural. Afinal, ela sempre sabe de tudo.

Essa manhã em especial, devido a um evento da escola, Tinker e Henry Júnior dormiram na casa da árvore, após um trabalho de química que fizeram na noite passada. Quando o trabalho foi concluído, já era tarde e nem Ruby quanto Mary acharam prudente que os colegas de classe fossem embora. Tinker achou perfeito, talvez assim fosse para o evento do terceiro ano juntas na moto.

— Ah, qual é Emms! Você adora que eu sei que tem algo acontecendo. - Ruby sussurra para que os outros não acordem, era cedo demais.

— Claro que tem, Rubs, você e a titia estão indo para o Hawaii no recesso. Não basta a mamãe ter desaparecido lá... - Bufa, estava estressada por medo. Quebrar os ovos do desjejum era uma tarefa difícil pois seu nervosismo o fez espatifar na frigideira.

— Amiga, o trabalho da Ingrid está exigindo.

— Foda-se o trabalho! Ela disse que iria se aposentar, então porque não pega essa merda e... Olha, não quero me estressar mais, tudo bem? - Lava a mão suja de ovos. - Muda esse assunto, por favor.

— É... Claro. - Uma Emma chateada é igual a uma Emma de muros erguidos. - Acha que a Regina pode nos levar?

— Não sei, ela ficou sem graça quando disse que a Tinker 'tava' aqui.

— Tenho certeza de que ela tem ciúmes. - Cantarola fatiando alguns pães para fazer torrada.

— Ela adora ouvir sobre como foi o meu dia, saber se me alimentei bem e me conta as fofocas do trabalho. - Olha para a porta, falando baixo para os outros dois não ouvirem. - Mas ciúmes? Acho que é infundado porque sempre que comento sobre sexo ela desliza, sabe?

— Sabe, Emma, eu não queria admitir, porém ninguém se preocupa tanto assim com o outro sem ter muito sentimento. A Regina está caidinha. - Não consegue mais obter atenção da amiga, já que ela agora estava com cara de besta para o celular. Então agiliza todo o processo do café.

— É, parece que você estava certa?

— Por quê? Ela pirou com a Tinker? - Já pega o celular da mão de sua amiga, queria a fofoquinha de primeira mão. - Cara, ela 'tá' tão na sua.

— É, então está decidido, você, Tinker e o Antônio não de carro com ela e o Henry vem comigo.

Logo todos estavam de pé, conversando animadamente envolta da mesa de Emma enquanto comiam o desjejum preparado pelas amigas. Estavam ansiosos pelo encontro dos terceiros anos no clube aquático. Foi unânime a escolha do lugar quando o diretor permitiu que o fizessem desde que tinha um professor para cada turma junto.

— Quero ver a sua roupa, Emms, porque a instrução foi bem clara: Biquíni comportado. Se suas calças são de couro tão reveladoras, imagino seu biquíni. - Tinker fala com uma voz quase sonhadora. Mas logo desanima quando a amiga levanta o maiô preto escolhido, que usaria junto de sua jaqueta.

Apesar de ter muita pele exposta durante a ida e a volta do clube, o bilhete escolar era claro sobre apenas uma coisa: O biquíni tinha que ser descente. E Emma não descumpriria nenhuma regra, esse era um dos detalhes que naquele jantar de família ficou bem claro entre sua família e a família de Regina. Para esse relacionamento dar certo, precisam se manter na linha em todos os quesitos.

Um dia inteiro de brincadeiras, piscina, sol e comida boa. No meu tempo de escola as coisas não eram assim, mas acredito que essas memórias foram importantes para as turmas de terceiro ano do Instituto Rousseau. Aquele tipo de coisa que levamos para a vida toda, sabe?

Em contrapartida, levamos os maus por um caminho longo também. Nos prendemos a traumas e machucamos com memórias. O instante em que Ingrid chegou no clube para buscar Ruby para seguirem viagem foi um novo baque para Emma. Ela se viu ali, com malas nas mãos indo para o aeroporto com a mãe. Pouco tempo teve para se despedir, não queria mandar energias negativas para uma das duas pessoas que tanto amava.

— Não se preocupe assim, lindinha! - Tinker segura em sua mão, assim que o taxi atravessa a portaria do clube. Ela não conhecia a história dos Swan, então não tinha como consolar a ferida certa. - Vai ser legal a Ruby conhecer um lugar novo, vai dar tudo certo.

Apesar da delicadeza da situação, Regina não pode estar com ela nesse momento pois um aluno cortou o pé, exigindo a atenção dos professores na enfermaria. Sua mente e coração estavam bem do lado de sua amada Emma, dando apoio e força. Ainda mais sabendo que Tinker foi correndo dar "auxílio" para a amiga. Revira os olhos só de pensar. Menina petulante.

Com o curativo pronto, a professora de filosofia partiu à procura de sua garota. Não estava na piscina maior, tampouco na portaria, em uma das quadras, talvez? Bingo! Emma estava ali, com um cigarro nos dedos ouvindo Sara falar, falar e falar. Se constrangeu quando a moça acariciou o braço de sua namorada. Ela não sabia, todavia, ainda assim é esquisito. Engolir o ciúme talvez seja um preço a se pagar.

— Me desculpa, Tinker, achei que tinha deixado claro que não vai rolar mais nada com a gente. - E o constrangimento se torna alívio.

— Seus olhos estão cheios de lágrima, Emms! Eu só quero te ajudar!

— Eu sei, só que... - Suspira apagando o cigarro, é ainda mais triste ter recaído no vício. Então abre uma bala de hortelã, para seu cheiro não incomodar ninguém. - Será que a Regina já acabou lá na enfermaria?

— Já sim, querida e posso saber o que as duas dondocas estão fazendo tão longe dos outros? - Tenta manter a pose de professora, quando de outro ponto Tinker força uma cara de boa moça, entrelaçando seus dedos com os de Emma em pura provocação. Então, em um gesto dissimulado, a professora toma a cabeça antes de falar. - Mil desculpas, não queria atrapalhar o namoro das duas, só queria dizer para não ficarem longe.

— Não, professora, a gente só estava conversando. - A maneira assustada que Emma gaguejou chegava a ser cômica.

— É, eu já estava até indo procurar a senhora, a tia dela passou aqui e a deixou toda tristinha, olha. - Acaricia o rosto de Emms, que não sabia o que fazer, seu rosto estava em tons vermelhos e vibrantes. - Vou deixar vocês sozinhas para ela desabafar, já que não quis comigo.

Assim Tinker desce os degraus da arquibancada, quando as duas se sentem seguras de que ninguém poderia estar lhes ouvindo, começam a conversa chorosa de uma Emma temerosa em perder a tia e a "prima". Mesmo a Rubs sendo apenas sua melhor amiga, o laço de amor era maior. Então sua preocupação era dobrada. Andando em sentido contrário aos outros alunos, entrando na trilha que dava para a tirolesa, puderam estar ainda mais confortáveis para conversar.

— E você, Regina? O que te aflige agora? - Sente-se acanhada depois de ter falado uma hora. Ela não era e nem desejava ser indiferente aos sentimentos de sua amada professora. 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora