Capítulo 03

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— Com licença, sou a aluna... - Sua fala é cortada pela professora que não aparentou incomodar com a invasão de classe.

— Emma Swan. - A voz rouca traz lembranças. Quanto tempo não a via? Dois anos? Parecia mais. - Hoje foi um dia atípico até para mim, também que acabei de chegar. Mas saiba que nos meus horários não existe tempo de tolerância. Atrasou, não entra, estão todos entendidos?

A forma que desvia a atenção da novata e retoma o controle da turma é sutil, mas a loira de olhos claros continua parada à porta, tentando compreender como o tempo lhe fez muito bem. Regina estava magnífica sentada com a bunda contra a mesa de madeira. Em sua mão subia e descia uma maçã conforme era jogada. A bunda contra a mesa, novamente, era um charme à parte, deliciosa. Durante sua adolescência, Regina e Helena se distanciaram, talvez a professora nem lembre de si. Todavia ela lembraria. Como não lembrar de alguém tão belo, de voz tão convidativa quanto Regina Mills? Impossível. A vibração grave em um tom menor de lá.

— Senhorita Swan, querida? - Mais uma vez a professora a interrompe. Agora seus pensamentos, mas ainda assim, interrompe. - Entre ou vá.

Como se não bastasse estar embasbacada com a postura descontraída da mulher conversando com os alunos, agora precisava controlar o queixo para que não caísse com o sorriso de Regina. Talvez a professora lembre sim da filha de Helena, afinal, nesse instante a garota estava hipnotizada igual ficava no início da adolescência quando a via.

Constrangida, Emma procura por uma cadeira vazia e coloca seus pertences, tentando ao máximo evitar trocar olhares com a professora.

— Como lhes explicava anteriormente, nossa dinâmica vai mudar um pouco já que é o último ano letivo de vocês. Teremos duas provas e um trabalho avaliativo à cada bimestre. - Durante sua fala, levanta da mesa e começa a escrever as informações na louça branca. - Também temos pontos distribuídos no simulado ao final dos semestres. E não pensem que filosofia é moleza, minha matéria atrelada ao seu mal comportamento ou faltas, culmina em sua reprovação.

O passar do horário atrai uma descontração que Emma pensou ser impossível. Mesmo sentindo falta da amiga, pôde dar boas risadas com Tinker, a garota que se sentaria na carteira ao seu lado durante o ano. A nova colega conseguia ser ainda mais baixinha que Ruby, mas eram diferentes em quase todas as outras características físicas. Sua melhor amiga era morena, parda e dos lábios grossos. Tinker é loira, transparente e dos lábios finos. Começo a acreditar que não existam pessoas feias nessa cidade. Então tudo estava caminhando bem, menos por um detalhe que a estava deixando inquieta.

Swan tamborilava os dedos na carteira, estalava o pescoço e a todo instante passava as mãos em seus bolsos. Seria constrangedor demais pedir licença para o que desejava, pior ainda, deveria ser proibido dentro da instituição, certo?

— Está tudo certo, Emms? - Tinker pergunta ao notar o desconforto da nova amiga.

— Está sim, não se preocupa. - Dá um sorriso sem graça, mais uma vez constrangida. Ela sabia que não deveria ter aceitado essa ideia absurda da sua avó e tia! Mais dois meses e completaria dezoito anos, poderia fazer um provão para receber esse diploma. Mas não, foi dar ouvidos e agora precisa expor suas fraquezas para um bando de desconhecidos.

— Tudo certo aí com vocês duas? - Regina nota a tensão entre as duas enquanto passa nas fileiras recolhendo a tarefa que tinha passado minutos antes.

— Comigo sim, a Emms que está meio estranha. - Fala na melhor das intenções, talvez a nova colega estivesse tendo uma crise de pânico!

— Não é nada, Tinker eu só... - Procura pela professora antes de falar entre dentes. - Eu poderia, bem, sair do colégio para fumar?

— Oh! - Se surpreende e pela primeira vez naquela manhã, procura por Helena nos olhos de Emma. Não julgava a garota por esse hábito um tanto autodestrutivo. Mas sua amiga se entristeceria com isso, com certeza. O sino toca anunciando que deveriam trocar de classe para uma nova aula. - Você sair da escola, tampouco fumar perto dos outros alunos, mas venha comigo.

Com a mão estendida, Regina alcança os dedos finos e gelados da aluna. Não era apenas para aquele momento, o estender de mãos era extremamente simbólico. Ela estava segurando a mão de Emma e não soltaria, não antes de resgatá-la.

— Onde estamos indo?

— Como disse, fumar perto dos alunos está fora de cogitação, mas temos um deque na sala dos professores. Você pode usar, contanto que me avise antes.

— Obrigada. - Os olhos borrados de maquiagem mal tirada deixavam seu semblante mais cansado, mas não menos constrangido. Saber que o vício a dominava à ponto de não poder assistir uma aula inteira, era embaraçoso. 

Tom MenorOnde histórias criam vida. Descubra agora